O SENTIDO DA VIDA
1 Corintios 15.9s
Mais uma vez iniciamos um novo ano. Sejam quais forem os pensamentos e as esperanças com que passamos do ano findo para o ano novo, em todo o caso sentimos que não somos apenas assistentes, diante de cujos olhos se desenrolam os acontecimentos, sem que fossem eles mesmos atingidos, mas é o nosso tempo que passa. Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor do campo (Is. 40.6) — essa é a verdade sobre nossa vida, verdade que justamente nesta passagem dum ano para o outro sentimos tão intensamente.
Mas, se neste primeiro dia do novo ano aqui nos reunimos em nome de Deus, confessando que dele vem o nosso auxílio, então conhecemos a outra verdade, a verdade expressa pelas palavras de Cristo : Passará o céu e a Terra, porém as minhas palavras não passarão. (Mt. 24, 35) Deus tem falado, Deus nos tem dado a sua palavra, e essa palavra não passa, e quem tem essa palavra como fundamento de sua vida, tem um apoio firme e imutável, sabe que não está mais entregue ao tempo, não é mais apenas como a erva do campo, mas pode dizer: A tua palavra é para mim o consolo e alegria do meu coração, porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos exércitos. (Jr. 15.16)
Essa palavra permanece. Ela também no novo ano, dia por dia, terá a força de dar consolo e alegria ao nosso coração, assim que possamos também nós dizer com o apóstolo Paulo: Pela graça de Deus eu sou o que sou, e a sua graça não tem sido em vão em mim. Assim compreenderíamos a nossa existência toda como dádiva de Deus, e veríamos que o mais alto sentido de nossa vida só pode ser este: servir e agradecer a Deus.
E nós todos temos a liberdade de iniciar assim o novo ano e de ir ao encontro do futuro ainda desconhecido com esta certeza, que a nossa vida toda está sob a luz da graça de Deus, porque é verdade e foi nos anunciado o Evangelho de Natal: já é realidade a paz que Deus estabeleceu aos homens de sua benevolência. Deus quer bem aos homens. Deus nos ama. Aceitar essa palavra é viver pela graça de Deus, é saber que com toda a nossa existência, com todo o nosso querer e fazer, com todos os nossos caminhos estamos nas mãos de Deus, de Deus que nos quer bem. Dele vem todo o nosso auxilio. Ele nos fez saber e novamente nos fará experimentar que não estamos sós com a nossa vida e os seus problemas; que não é a nossa sabedoria que nos escolhe o caminho ; que não estamos entregues aos poderes do mundo; que não precisamos contar somente com as nossas possibilidades ; que não precisamos iludir-nos com o nosso próprio consolo. Porque Ele mesmo, Deus, está conosco em Jesus Cristo, e é verdade que Ele nos conduz pela sua mão. Se pudéssemos ver assim a nossa vida, se lembrando-nos do percurso de nosso caminho até agora, por alturas e profundezas, ou pensando no futuro que está diante de nós, pudéssemos crer na presença de Deus, na sua sabedoria e no seu amor; se pudéssemos crer que não é um cego destino que dispõe sobre nós, mas é a mão benigna e poderosa de Deus que nos conduz — e nós temos a permissão de compreender assim a nossa vida, porque a palavra que permanece, a palavra de Deus assim no-lo diz; ela nos chama a viver com a certeza e o consolo que também a escuridão e o sofrimento nada podem contra o fato de que Deus nos ama — então encontraremos uma grande tranquilidade, encontraremos e viveremos na grande paz anunciada aos homens pelos anjos da noite de Belém, a paz que não está mais sujeita às oscilações do momento, porque é a paz que tem a sua fonte em Deus, no que Ele tem feito. E então este se tornará o grande sentido de nossa vida: tornar-se um testemunho cada vez mais claro de que não nos pertencemos a nós mesmos, mas que temos este Senhor, que tanto nos ama, tanto nos consola. E teremos todos os dias a grande liberdade e o desejo de louvar e de agradecer a Deus, não só por essa ou aquela dádiva, mas louvar e agradecer-lhe por todo o seu caminho conosco; por ter-nos Ele conduzido, também onde não o compreendemos ou até lhe resistimos; por ser também o caminho pela aflição o seu caminho conosco; agradecer a Deus por tudo, por ser Ele o Deus e Senhor de nossa vida.
Se com essa fé iniciarmos o novo ano, poderemos também nós dizer em todos os dias que estão à nossa frente: Pela graça de Deus eu sou o que sou. E ela nos torna livres de um grande fardo, da ilusão de sermos nós mesmos senhores do nosso destino, pois sabemo-nos com todo o nosso destino nas mãos daquele, no qual encontramos a graça de Deus, nas mãos de nosso Senhor Jesus Cristo, e nele confiamos, confiamos que Ele fará tudo bem. Porque só pode ser bom e só pode servir para o nosso bem o que nos vem de suas mãos. E por isso não nos gloriamos de nossa própria força, mas invocamos o nome do Senhor. Iniciamos o ano agradecendo ao Pai celeste, que em Jesus Cristo nos tem dado a sua graça, tornando-nos seus filhos, que com confiança e alegria podem dedicar-se às suas tarefas de cada dia e cumpri-las em seu nome, em seu louvor.
Essa promissão é nos dada agora ao iniciarmos o novo ano: podermos viver os nossos dias na luz da graça de Deus. Mas ouvimos também, como uma séria pergunta que nos acompanhará, o que o apóstolo acrescenta: e a sua graça não tem sido em vão para mim. Portanto pode isto suceder: que recebamos em vão a graça de Deus, que ela não se torne eficiente, que nós a impeçamos. Ela é nos dada em Jesus Cristo, é •nos anunciada hoje novamente pela palavra que permanece. Mas pode suceder que nós não lhe demos lugar em nossa vida, não lhe demos poder sobre nós, para dirigir-nos, para transformar-nos, para levar-nos a agradecer e a servir a Deus com nossa vida toda, com tudo o que somos, pois o somos unicamente por sua graça. E se não lhe damos esse lugar, ela de fato nos seria dada em vão.
A graça de Deus — Jesus Cristo — seja conosco e nos guie benignamente!
Pastor Ernesto Th. Schlieper
Ano Novo de 1953, Porto Alegre
Veja:
Testemunho Evangélico na América Latina
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
