1 Coríntios 10.1-13

Prédica

28/02/2016

Texto bíblico: 1 Coríntios 10.1-13

Estimada comunidade!

A humanidade sofre hoje pelo crescimento da intolerância, pelo racismo, pelo fascismo (na Alemanha, p. ex. o advento do PEGIDA: Patriotische Europäer gegen die Islamisierung des Abendlandes) que voltou à carga, pela miséria. E as igrejas muitas vezes aproveitam disto para oferecerem seguranças irreais, baseadas na prosperidade individual, no enriquecimento. E é exatamente contra essas falsas seguranças que o apóstolo Paulo nos quer alertar hoje, a fim de que descubramos a esperança consciente, que não engana.

Prezados irmãs e irmãos! O apóstolo Paulo alerta para as seguranças falsas dentro da igreja o que tem, seguramente, reflexos para o contexto amplo do mundo. Por isso, convido a vocês para acompanhá-lo em sua argumentação. Pois, afinal ele quer libertar das seguranças falsas para a esperança que não engana nem decepciona.

Na comunidade de Corinto havia o seguinte pensamento: Chegamos a crer em Cristo e fomos batizados; ou, inversamente, fomos batizados e chegamos a crer em Cristo. Participamos da Ceia do Senhor. Portanto, estamos livres para comer carne sacrificada, sem podermos cair na tentação da idolatria pagã. Igualmente estamos livres de todos os excessos, inclusive sexuais (estupros, etc), que se praticam nos rituais pagãos. O povo de Corinto, entretanto, não se dava conta de que faltaram com o amor ao próximo carente; na refeição comunitária, ligada à celebração da Ceia do Senhor, por exemplo, estavam marginalizando e, de certo modo, excluindo membros pobres e carentes. Isso não corresponde à fé, que se resume na prática do amor a Deus e ao próximo – o que Paulo tratará no capítulo seguinte.

E se olhamos em nossa comunidade e igreja, podemos dizer também: Fomos batizados; cremos em Deus; participamos com mais ou menos frequência da Ceia do Senhor e damos nossa contribuição – em serviço ou dinheiro - mais ou menos fiel e responsável. Porém, quando se trata de eleger um grêmio de direção, seja no nível comunitário, sinodal ou nacional, acontece que ou nem há pessoas dispostas à candidatura ou há tantas lutando pelo poder. Ou, ainda, olhando na vida familiar, ainda acontece desrespeito à dignidade da mulher, das crianças e das pessoas idosas. Poderíamos continuar a enumerar incoerências com a nossa fé que deveria resumir-se na prática do amor a Deus e ao próximo.

É por isso que o apóstolo alerta contra a tentação de banhar-se em segurança falsa que sutilmente se pode instalar na família, na comunidade e na igreja. Ele diz: “portanto, aquele que pensa que está de pé é melhor ter cuidado para não cair.” Paulo ilustra isso no exemplo da história do povo de Israel que foi muito querido de Deus. Ele o fez povo seu. Libertou-o da escravidão. Guardou-o nas passagens pelo mar vermelho e pelo deserto e lhe deu terra para morar, plantar e colher. Mesmo assim, ele, volta e meia, se queixou do abandono por Deus, marginalizou as viúvas, as crianças; desrespeitou mulheres e pessoas idosas; flertou crenças que tiravam de si a responsabilidade consciente e cometeu, assim, idolatria. Isto é, não prendeu seu coração em Deus, mas em outras coisas transitórias, não perenes.

E por isso o povo teve que arcar com as consequências de seus atos de rebeldia contra a ordem maior (que dá sentido ao todo) e de desamor (falta de confiança no Transcendene e de consideração pelo semelhante). Sofreu desgraças na vida familiar e social. Parece que nós também podemos dizer que os sinais das consequências de nosso desamor estão aí, ou seja, na vida em família, na comunidade de fé e na sociedade. Pode-se ler isto tudo como evidência de castigo, mas não creio ser este o sentido; ao contrário, é consequência inexorável da nossa conduta. Deus não está para castigar; esta ideia é uma ideia infantil e apequenada do todo que é muito maior. A questão é de grau de consciência e confiança em que há algo muito maior, infinitamente maior que nossa miúda perspectiva das coisas.

O que fazer? A pequenez, a arrogância e a desconfiança estão em toda parte. Ninguém pense que esteja isento dela. Luther disse: “Não podemos impedir que os passarinhos voem ao redor da nossa cabeça, mas podemos impedir que em cima dela façam seus ninhos.” Como, então, podemos impedir que caiamos na tentação do desamor que nos cerca em toda parte?

O apóstolo Paulo afirma: Deus nos acompanha nesta nossa jornada de peregrinos nesta terra de oportunidades de crescimento (mas, também de perigos desconhecidos) e nos inspirará abertura de espírito, prudência e abundância de vitalidade nos momentos apropriados. Quando um perigo vier, Ele nos inspirará uma conduta apropriada e, assim, poderemos supera-lo já modificados e mais conscientes. Como vamos entender isso?

No Pai Nosso Jesus nos ensina pedir: E não nos deixes cair em tentação. Podemos pedir confiantes como as crianças pedem aos que delas cuidam. Não nos deixes cair em tentação, assim, pode significar: “não permitas que caiamos ou sucumbamos na tentação”. O próprio Jesus, no deserto, resistiu às tentações de satanás somente pela confiança e pela fé suprema que sempre tenta nos ensinar. Ela pode também ser nosso recurso para não cair. A Palavra quer ser o nosso alimento diário; quer ser nossa introspecção para aumentarmos nossa consciência e dar perspectiva ampliada das coisas. Daí, a leitura, a discussão aberta e honesta nos grupos, a participação nos cultos. Tudo para expandir nossos horizontes, a partir de nossa consciência alargada por graça e fé.

Além disso, convém que nos lembremos de como Luther explica magistralmente, no Catecismo Menor, o Sexto Pedido do Pai Nosso: “Não nos deixes cair em tentação. O que significa isto? Deus não tenta ninguém. Mas pedimos nesta oração que ele nos proteja e guarde, para que não sejamos enganados pelo diabo, pelo mundo e por nós mesmos, nem sejamos levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício. E pedimos que, mesmo sendo tentados, vençamos no final e mantenhamos a vitória.” É dizer, que possamos ser humildes porque conhecedores das nossas dificuldades e confiantes do suporte daquele que entende a fundo as coisas.

Deus não tenta ninguém. Embora haja alguma passagem bíblica que possa insinuar o contrário. Paulo e Lutero querem dizer que há nesta terra de oprtunidades de crescimento muitos perigos no desconhecido. Nossa ignorância é enorme e nos coloca na possibilidade de muitas quedas. Por isso mesmo, podemos pedir e confiar profundamente na insuperável sabedoria e ciência de Deus para que inspire nos momentos graves. Eis o sentido do que Paulo disse.

Humildade e confiança. Saber que somos pequenos e que enxergamos restritamente; mas confiar em Deus, nessa maravilhosa ordem transcendente e que dá sentido ao todo, na graça de sermos inspirados a expandir nossa perspectiva das coisas, mediante fé, mediante uma confiança que cresce dia a dia porque vê que as inspirações não são vãs e que o Amor não é transitório.

Que possamos internalizar isto e viver uma vida plena. Amém.

 


Autor(a): Ricardo Mitsuo Tariki
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: ABCD (Santo André-SP)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 39316
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