Joga limpo, Brasil!
João Artur Müller da Silva
Textos de apoio:
1 Coríntios 9.24-27; Filipenses 3.12-14; 2 Timóteo 4.7-8
1. Introdução
2014 é o ano da Copa do Mundo no Brasil. Os jogos obedecerão ao calendário – 12 de junho a 13 de julho – estabelecido pela FIFA (sigla em francês da Federação Internacional de Futebol), organização que dirige as associações desportivas de futebol ao redor do mundo. A FIFA foi fundada em Paris em 21 de maio de 1904 e tem sua sede em Zurique, Suíça.
O presidente da FIFA, Joseph Blatter, anunciou em 30 de outubro de 2007 que o Brasil seria o país-sede da vigésima edição desse evento futebolístico. É a segunda vez que o nosso país acolhe essa competição esportiva. A primeira vez foi em 1950, portanto 64 anos atrás; o Brasil já recebia milhares de jogadores, dirigentes, torcedores desse esporte tão popular em nosso país.
De 2007 para cá, o Brasil vem se preparando para sediar esse megaevento esportivo, entre tensões, discussões inflamadas pelo patriotismo, busca de recursos para a construção de novos estádios e reformas em outros e melhorias em aeroportos, hotelaria e mobilidade urbana nas cidades que receberão jogos da Copa do Mundo. Ao longo desses anos, esse assunto esteve presente nas páginas dos jornais, das revistas e dos noticiários em rádios e TVs. Nesta altura do campeonato, dificilmente um brasileiro ou uma brasileira dirão que não sabem nada sobre a Copa do Mundo.
Tão logo o Brasil foi anunciado como país-sede, a FIFA lançou o lema da Copa do Mundo de 2014: “Juntos num só ritmo”. A partir daí começaram a surgir interpretações na mídia sobre a motivação que esse lema desperta no povo brasileiro. Entre as muitas delas, destaco um trecho de uma notícia veiculada pela internet: “A Copa é a maior celebração do planeta, não apenas do esporte, não apenas do futebol. É a festa mais aguardada do esporte mais querido por toda a humanidade. E o Brasil é o país que participou de todas essas Copas, é o país que ganhou cinco vezes, é o país que tem o maior artilheiro dessas Copas e é o país que tem o jogador mais importante dessas Copas. E o ritmo é o ritmo do Brasil, o ritmo da Copa, o ritmo do futebol, o ritmo da unidade, o ritmo da diversidade, o ritmo da fantasia, o ritmo de um país que recebe de braços abertos a grande celebração do futebol do mundo”.
Esse pequeno trecho, inspirado no lema da Copa do Mundo de 2014, já aponta para o contágio, a paixão, a preferência e o sentimento nacionalista entre nós. Na carona da Copa do Mundo também estão os comerciais e anúncios de diversos produtos. E na mesma carona também embarcam os críticos, as pessoas que não estavam a favor da realização da Copa do Mundo no Brasil, as pessoas que não se aliaram ao movimento para fazer desse evento um momento de festa e esbanjamento de recursos públicos... Enfim, havia e, quem sabe, ainda há pessoas que se opõem à realização desse torneio em nosso país. Mas ele é uma realidade, e dela não devemos fugir ou fazer de conta que não existe.
Cabe ainda mencionar que o mascote oficial da Copa do Mundo de 2014 é o tatu-bola, batizado com o nome de Fuleco. Para a FIFA, Fuleco significa a mistura das palavras futebol e ecologia, “dois componentes fundamentais da Copa”. A entidade também explica que o nome “mostra como essas duas palavras combinam perfeitamente e ainda incentivam as pessoas a ter mais cuidado com o meio ambiente”. E como não poderia deixar de ser, também a bola, personagem principal do futebol, recebeu um nome nesta Copa: Brazuca. Então, quando a Brazuca estiver no fundo das redes, locutores ensandecidos soltarão o grito mais esperado no planeta: Goooooooooool!
Proclamar Libertação também pega carona na Copa do Mundo de 2014 e oferece este subsídio homilético para incentivar e animar ministros e ministras a preparar uma prédica, uma homilia, num dos domingos entre os dias 12 de junho e 13 de julho de 2014. Nesse período há quatro domingos, e caberá ao ministro ou à ministra definirem junto com seu presbitério em qual deles o culto poderá proporcionar uma reflexão sobre o tema da Copa do Mundo. O subsídio para elaborar a prédica está à disposição de quem dele quiser fazer uso na preparação desse culto temático.
2. Tema
A realização da Copa do Mundo em nosso país suscita muitos assuntos e temas que podem ser abordados na reflexão da prédica dominical. Essa competição esportiva se oferece como oportunidade para pensar sobre diferentes questões, que estão, direta ou indiretamente, conectadas com o futebol, com o esporte, com esse agito todo desde que a FIFA anunciou que o Brasil seria a sede da Copa do Mundo de 2014, neste ano portanto. Também vejo que, nos dias em que a Brazuca (bola) estiver rolando nos gramados dos estádios (Maracanã – RJ, Itaquerão – SP, Beira-Rio – RS, Mineirão – MG, Arena da Baixada – PR, Mané Garrincha – Brasília, Arena do Pantanal – MS, Arena Amazônia – AM, Castelão – CE, Arena das Dunas – RN, Arena Nova Fonte – BA e Arena Pernambuco – PE), é um tempo propício para reunir a comunidade e, à luz da palavra de Deus, refletir sobre o testemunho das comunidades na atualidade, a missão que a igreja recebe de Deus, o Senhor, o exemplo e as atitudes de vida que as pessoas cristãs devem como resposta ao amor de Deus no ambiente em que vivem e atuam.
Na introdução, mencionei que a FIFA escolheu um lema para a Copa do Mundo de 2014, a saber: “Juntos num só ritmo”. Certamente ele poderá servir de inspiração e motivação para conduzir a reflexão com os membros em nossas comunidades. No entanto, para este auxílio homilético, escolhi outro lema para refletir nestes dias em que acontecem os jogos de futebol nos 12 estádios espalhados pelo Brasil. O lema escolhido não foi criado por mim, mas o tomo emprestado da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), com sede em Barueri (SP), que já em 2012 lançou um movimento que chamou minha atenção pelo conteúdo, pela atualidade, pela criatividade e por suas propostas missionárias para as diferentes igrejas cristãs em nosso país. O lema desse movimento é muito sugestivo: Joga Limpo Brasil (JLB). Isso não diz nada? Isso não aguça a reflexão? Isso não desperta pensamentos conectados entre o futebol e a realidade sociopolítica? Pois bem, compartilho neste auxílio homilético alguns pensamentos, informações e propostas, extraídas do material de divulgação do JLB. Quem quiser buscar maiores informações sobre o JLB pode acessar o site: www.jogalimpobrasil.org.br
2.1 – JLB: o que é e o que significa
O movimento – Joga Limpo Brasil (JLB) – foi desencadeado pela SBB em 2012 com o “objetivo de criar uma gigantesca mobilização de atletas, igrejas e organizações cristãs para difundir a mensagem bíblica e seus princípios durante a Copa do Mundo de 2014 e também nos Jogos Olímpicos de 2016”. Para esse movimento, a SBB inspirou-se na expressão inglesa fair play, que traduzida significa “jogo limpo”. Essa expressão é usada no meio esportivo para referir-se à ética, ao cumprimento das regras e à importância do respeito entre os jogadores. Em muitas narrações de futebol, a gente escuta o locutor falar em fair play quando ocorre uma situação em que se evidencia uma atitude de respeito e consideração pelo adversário, principalmente numa partida.
No entanto, conforme a SBB, a “criação do movimento foi inspirada na visão que levou o apóstolo Paulo a ir de Atenas para Corinto (Livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 18), uma das maiores e mais movimentadas cidades do Império Romano e sede de um dos maiores eventos esportivos periódicos: os Jogos Ístmicos. Ali Paulo encontrou a oportunidade para anunciar o evangelho com liberdade e alcançar pessoas de todas as partes do mundo”.
O que eram os Jogos Ístmicos? Eles eram realizados em honra a Posseidon, deus do mar, a cada dois anos na Grécia Antiga. Os jogos eram realizados no Istmo de Corinto, ponto de ligação entre a Grécia continental e o Peloponeso. Os torneios recebiam um grande número de participantes e espectadores, pois a cidade de Corinto era um dos mais importantes centros comerciais e de diversões daquele tempo. Os historiadores, baseados em desenhos da época, indicam que provas hípicas, atléticas, musicais, literárias e náuticas faziam parte desses jogos. Há indícios de que, a partir de 580 a.C., os concursos de poesia e música passaram a ser acessíveis também às mulheres. Sabe-se que, em um desses jogos, Píndaro, grande poeta lírico, foi derrotado cinco vezes pela poetisa Corina. Os vencedores dos Jogos Ístmicos recebiam como prêmio uma palma e uma coroa de folhas de pinheiro (Informações compiladas a partir do site Wikipédia – a enciclopédia livre).
O JLB tem como objetivo “inspirar as igrejas e organizações cristãs a seguir o exemplo de Paulo e aproveitar a oportunidade para disseminar a mensagem bíblica entre a população brasileira e os visitantes”.
2.2 – JLB: metas
Esse movimento desencadeado pela SBB pretende motivar atletas, igrejas, denominações e líderes cristãos num assim chamado Comitê de Referência, cujas metas são as seguintes:
• mobilizar as organizações e igrejas cristãs em todo o país, nas mais variadas áreas de atuação, para orar e atuar criativamente em suas cidades e nas cidades-sede da Copa do Mundo;
• apoiar o desenvolvimento de atividades de impacto em torno da palavra de Deus em todos os estados brasileiros durante os 30 dias da Copa do Mundo;
• estimular a participação de jovens cristãos nas múltiplas atividades oficiais da Copa do Mundo e Olimpíadas, aproveitando as oportunidades de trabalho que serão criadas;
• motivar os voluntários que atuarão na Copa do Mundo e na Olimpíada a manter um contato diário com a palavra de Deus.
Como vemos, tal movimento pode ser algo diferente para uma comunidade cristã nestes tempos de Copa do Mundo. Pode também motivar ações e reflexões sobre a missão da comunidade nestas semanas de intensa movimentação em torno do futebol.
3. Reflexão bíblica
A indicação de textos apoiadores serve para embasar e conectar a reflexão a ser apresentada na prédica dominical ou então na meditação a ser proferida em algum momento da vida comunitária. Entre os textos de apoio (1Co 9.24-27; Fp 3.12-14; 2Tm 4.7-8) vou me concentrar em 1 Coríntios.
Sabemos que a comunidade cristã em Corinto surgiu do trabalho missionário do apóstolo Paulo. E já no primeiro capítulo de sua carta, ele deixa transparecer tensões e conflitos que se instalaram na comunidade. Em razão disso, ele escreve essa carta para orientar e ajudar as pessoas cristãs em Corinto a viver conforme o evangelho, buscando ajudá-los a lidar com a liberdade conquistada por Cristo na cruz. Algumas pessoas, chamadas de entusiastas, estavam provocando situações de conflito na comunidade, pois cultivavam uma interpretação diferente daquela que Paulo lhes havia anunciado e ensinado quando andara por Corinto. Uma leitura atenta dos capítulos anteriores ao capítulo 9 vai nos revelar os temas sobre os quais ele procura elucidar os coríntios. Por exemplo, no capítulo 8, ele se refere à comida sacrificada aos ídolos, reforça a fé no único Deus, reafirma que o amor é que edifica e que as pessoas cristãs precisam cuidar para não escandalizar os fracos com suas atitudes exageradas na vivência da liberdade. Paulo faz um chamamento à reflexão sobre como as pessoas cristãs em Corinto estão vivendo a partir de sua fé, a partir dos valores do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Na perícope escolhida para servir de apoio à reflexão sobre o tema conectado com a Copa do Mundo de 2014 (9.24-27), o apóstolo busca na vida esportiva figuras para refletir sobre a fé e sua vivência no cotidiano. Nesse aspecto, o apóstolo demonstra que conhece bem a vida em Corinto e a predileção de seus habitantes pelos esportes. Mais do que isso, Paulo demonstra aqui que sua mensagem será melhor compreendida se vier revestida com exemplos da vida cotidiana dos coríntios. E por isso ele se vale de figuras do mundo esportivo. Esse mesmo estilo pode ser percebido quando ele se dirige aos filipenses (Fp 3.12-14) e também quando ele escreve a seu discípulo Timóteo (2Tm 4.7-8).
Observe as imagens e os conceitos que ele usa para falar sobre a vida cristã: correm, estádio, prêmio, alcanceis, atleta, se domina, coroa corruptível, meta, luto, golpes, desqualificado. Na Carta aos Filipenses 3.12-14, as palavras são: perfeição, conquistar, para trás, alvo, prêmio. Já em 2 Timóteo 4.7-8 aparecem outras palavras: combati, combate, completei, carreira, coroa, juiz.
Em resumo, a vida da pessoa cristã neste mundo assemelha-se a uma grande ou pequena competição esportiva. A vida é um jogo. E hoje podemos enfatizar que viver neste mundo é fazer parte de uma partida de futebol. E a partir dessa assertiva, vamos refl etir sobre os versículos que lemos em 1 Coríntios 9.24-27.
V. 24 – Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Ninguém está fora da corrida. Não tem como ficar fora. Para os cristãos, não há lugar na arquibancada, nas poltronas. Uma vez batizado, uma vez confirmado, uma vez crente em Cristo, não tem como não participar dessa corrida motivada, sim, pelos mandamentos de Deus. Mesmo com a promessa da salvação por graça e fé, não dá para o cristão assumir uma posição neutra na partida, na corrida. Sabemos que, numa partida de futebol, só um time pode ganhar o campeonato e levantar a taça. Mas na vida cristã o importante é participar da missão de Deus e correr, ou seja, dar exemplos de amor, de perdão, de reconciliação, de justiça, que são esperados por Deus, que nos confia a missão de testemunhar a seu favor neste mundo. Também recebemos o anúncio do juízo de Deus em Mateus 25 e 2 Coríntios 5.10. Em razão disso, não podemos fi car fora da corrida, do jogo, da partida de futebol na vida cotidiana.
V. 25 – Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. O verbo grego que expressa “se domina” também quer dizer controlar-se, exercer o autocontrole. O atleta, quando pratica o autodomínio, vale-se de disciplina, rotina, regras, dedicação, esforço, estudo. Se não for por esse caminho, ele não conseguirá alcançar os objetivos a que se propõe. O mesmo vale para a vida cristã: a vontade de Deus, manifestada não somente em seus mandamentos, mas no evangelho, requer reflexão, dedicação, compromisso, estudo e prática. Os atletas dos Jogos Ístmicos recebiam uma coroa de folhas de pinheiro, que certamente meses depois era jogada fora porque estava seca. Os jogadores da equipe de futebol vencedores da Copa do Mundo receberão uma medalha de ouro, e o time, uma taça. Algum tempo depois, esses troféus estarão em estantes e até esquecidos. No entanto, a promessa de Deus é uma outra coroa, uma coroa que nem traça nem ferrugem podem consumir. Esse deveria ser o alento para a vivência cristã hoje. Porque a recompensa que Deus promete é muito superior a uma coroa de folhas de pinheiro. Então, a comunidade cristã deveria seguir o exemplo do atleta e ser zelosa e atenciosa no cumprimento da vontade de Deus neste mundo.
V. 26 – Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Numa corrida, o objetivo é a linha de chegada. E o apóstolo Paulo parece também se referir ao esporte da luta, em que muitas vezes o lutador acaba errando o corpo do adversário e desfere golpes no ar. Assim não deve ser conosco. Assim também não é com o apóstolo Paulo. Ele se sente aceito pela graça de Deus e, por isso, empreende uma corrida com objetivo e uma luta certeira. O exemplo de Paulo aos coríntios é significativo porque ele mostra que a vida cristã tem sentido, tem alvo, tem metas, tem objetivos que estão embutidos no evangelho. E tanto ele, o apóstolo, como nós somos instrumentos de Deus neste mundo para a missão, a evangelização. Nestes tempos de Copa do Mundo, a figura de um time de futebol é muito apropriada para a reflexão do ser comunidade. Assim como num time existem diversas funções, como goleiro, zagueiro, lateral, atacante, centroavante, assim também na comunidade, na igreja, temos funções diferentes a ser exercidas, mas todas comprometidas num conjunto que chamamos de comunidade, igreja, família de Deus. Também na comunidade não há lugar para o individualismo.
V. 27 – Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado. Na sequência de sua reflexão, o apóstolo Paulo segue valendo-se da metáfora do esporte e usa com veemência o castigo contra seu corpo. Dá a entender que o problema está nele próprio. Sabemos que, para muitas pessoas do seu tempo, o corpo era lugar de concupiscências, tentações, do querer para si somente, e por isso muitos se mortificavam. Paulo, por sua vez, quer que todo o seu esforço seja para os outros. Que sua corrida não seja só para ele alcançar um mérito, mas para alcançar com sua pregação as outras pessoas. Sua missão é fazer o bem aos outros e assim glorificar o Senhor. Nesse sentido, Paulo convida os cristãos de Corinto a deixar de lado seus próprios interesses na busca de um alvo comum a todos, à comunidade. Paulo também confessava que nada o podia separar do amor de Deus (Rm 8.38-39), e mesmo assim ele não queria ser desqualificado. Em outras palavras, o apóstolo está insistindo para que as pessoas cristãs não se acomodem na fé, no testemunho, na prática do amor. O medo do apóstolo Paulo era perder a coroa incorruptível por não ter prestado neste mundo o serviço que agradava ao Senhor. Afinal, ele tinha recebido uma missão de Deus e queria cumpri-la com o zelo e a dedicação de um atleta. Esse era seu recado aos cristãos em Corinto.
4. Meditação
Do tempo dos Jogos Ístmicos aos jogos da Copa do Mundo, muitos aspectos do mundo esportivo sofreram modificações. Como tudo ou quase tudo muda e se aperfeiçoa no decorrer dos anos, também muitas questões relativas aos esportes são bastante diferentes na comparação ao longo da história. Sem querer entrar em detalhes nesse aspecto, basta lembrar apenas quantos novos esportes surgiram no decorrer da história da humanidade. E também lembrar que a música e a poesia, por exemplo, foram excluídas dos jogos modernos. No entanto, outros fatores permanecem válidos e praticados até hoje para quem decide ingressar no mundo esportivo. E alguns desses fatores são o treinamento, o preparo físico, a disciplina, o esforço e a dedicação ao esporte escolhido. E isso não só vale para atletas profissionais, mas também para os atletas de fim de semana ou de esporádicos momentos esportivos na vida de quem quer que seja.
No futebol, temos a figura dos treinos fechados, treinos com bola, concentração e tantos outros meios para preparar os jogadores para as partidas que irão enfrentar. Certamente todas as seleções de futebol dos países classificados para a Copa do Mundo no Brasil passaram por intenso treinamento e preparação para os jogos a ser disputados. Atenção e concentração no alvo: ganhar o título de campeão do mundo! Esse é o objetivo das seleções que jogam a Copa do Mundo no Brasil.
E o apóstolo Paulo em Filipenses 3.13-14 vale-se dessa figura da atenção para dar o seu testemunho: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Mais uma vez, o apóstolo recorre ao mundo esportivo para fazer a ponte com a vivência cristã e sua relação com a vocação de Deus. Quando ele fala em “avançando para as que diante de mim estão”, ele se quer referir à missão, ao serviço, ao testemunho, que são inerentes à vocação do cristão neste mundo. Por isso as regras esportivas valem para a vida da comunidade no mundo, na cidade, no país. Elas valem para a vida da pessoa cristã em sua relação com seus familiares, amigos, cidadãos. Enfim, a vida cristã é regida por muitas regras, baseadas no evangelho. E a primeira regra a ser observada é o amor.
Quando a Sociedade Bíblica do Brasil promove o movimento Joga Limpo Brasil (JLB), podemos entrever toda uma situação em nosso país em que não jogamos limpo. Não é de hoje que a corrupção perpassa todos os órgãos públicos em nossos governos municipais, estaduais e federal. Não é de hoje que empresários praticam o superfaturamento em serviços e produtos negociados com órgãos de governo. Não é de hoje que profissionais liberais, como médicos, enganam e roubam de clínicas particulares e do Sistema Único de Saúde (SUS); advogados que se prestam a passar celulares para seus clientes nas prisões; motoristas de empresas que trabalham para o narcotráfico; fiscais de órgãos públicos que cobram taxas para seu próprio benefício; policiais que cobram uma gorjeta para não extrair uma multa, e por aí se desenrola a vida de corrupção em nosso país.
E quando assistimos a partidas de futebol, vemos muitas vezes que o fair play fi ou no vestiário dos jogadores e joga-se sujo e com violência contra o adversário. E todas essas situações estão embutidas neste movimento que nós podemos adotar: Joga limpo, Brasil! Ou seja, vamos nos empenhar por uma partida limpa, por um país onde as relações sociais sejam pautadas pela honestidade e transparência, pela justiça e pela retidão nas atitudes, pela disciplina no cuidado das regras sociais, no aperfeiçoamento dos processos na busca pelo bem-estar das pessoas, na superação dos preconceitos e na eliminação das intolerâncias sociais, no estabelecimento de relações justas e fraternas em todos os âmbitos da vida social, econômica, política e religiosa.
Nesse jogo da vida, muitas pessoas cristãs e muitas comunidades estão alheias a essa corrida em busca de melhores padrões de vida para as pessoas necessitadas, estão vivendo em seu reduto como se o mundo a seu redor não lhes dissesse respeito, não participam da corrida em defesa da natureza, por exemplo, e acham que não tem nada a ver com as crianças que são vítimas de violência e exploração sexual.
A vivência do evangelho diz respeito não só à pessoa como indivíduo, mas também como pessoa integrada na grande família de Deus, a comunidade, a igreja, que recebe uma missão de Deus para ser realizada neste mundo. A comunidade cristã existe no mundo para servir a Deus através do serviço ao próximo. E muitas comunidades cristãs nem de perto se assemelham a uma ONG atuante porque vivem apenas para si próprias, acomodadas e alheias aos desafios que estão presentes na realidade da cidade em que estão localizadas.
O colega pastor Jorge Batista Dietrich de Oliveira disse: “Como igreja, precisamos de ações mais concretas para fora e de menos programas para nós mesmos. E os programas para nós mesmos deveriam servir de capacitação para atuarmos aonde Deus quer chegar. Estamos acumulando energias e ‘engordando’ em vez de exercitar nossos dons na missão, levando o amor de Deus revelado em Jesus às pessoas que ainda não o receberam”.
O movimento Joga Limpo Brasil oferece em seu programa algumas propostas bem concretas para ações que a comunidade cristã pode realizar por ocasião da Copa do Mundo. Entre as 11 estratégias sugeridas para ações concretas destaco três delas para a reflexão na comunidade. Maiores detalhes e informações poderão ser obtidas no site indicado no item 2 Tema.
1 – Mutirões sociais nas comunidades: Uma grande oportunidade para a igreja servir durante os jogos é organizando mutirões em suas comunidades locais, com atendimento médico-odontológico, jurídico, corte de cabelo, oficinas de artesanato e culinária e muitas outras atividades. Assim, você e sua igreja podem levar ajuda àqueles que não terão acesso aos jogos da Copa do Mundo.
2 – Distribuição gratuita de copos de água: Essa é uma estratégia muito usada por organizações cristãs em todo o mundo, principalmente ao redor dos estádios, pois é uma oportunidade para a igreja servir aos turistas, aos torcedores e às muitas pessoas que estarão trabalhando nas ruas durante os jogos, como policiais, bombeiros e outros prestadores de serviço.
3 – Visitas a asilos, orfanatos e hospitais: Durante grandes eventos esportivos, há uma grande movimentação nas ruas, no comércio e nos estádios, pois as cidades que recebem os jogos passam a viver seus dias em clima de festa. É nesse momento que a igreja de Cristo tem mais uma oportunidade de servir: visitando asilos, orfanatos e hospitais. Você pode organizar em sua igreja uma caravana para visitar esses lugares e compartilhar o amor de Deus.
Voltemos ao ensinamento do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 9.24-27, a saber, não podemos abrir mão dos propósitos formulados nos mandamentos divinos, no evangelho. Nossa atitude deve ser como a do atleta: lutar, dedicar-se com disciplina, com esforço, com amor, com a certeza de que Deus está presente conosco na missão na vida cotidiana. A comunidade cristã está irremediavelmente comprometida com o testemunho da esperança, do amor, da paz e do cuidado, que tanto são esperados por Deus. E se, por fim, queremos participar da corrida com os olhos voltados para Cristo, é ele quem nos indica o caminho e o alvo. Não desperdicemos tempo ficando de braços cruzados. Ao jogo da vida!
5. Pistas para a prédica
Sugestão para o ambiente na igreja: Cartazes da Copa do Mundo de 2014, uma bola de futebol, camiseta da Seleção Brasileira e, se possível, de outra seleção, cartazes dos estádios onde os jogos serão realizados, tiras de papel verde e amarelo. O objetivo é trazer para o âmbito do culto o clima da Copa do Mundo.
Momento 1 – Trazer um pouco da história das Copas do Mundo e informações gerais sobre a realização do evento em nosso país. Assuntos que preocupam o país no momento da Copa.
Momento 2 – Destacar a vida dos atletas, seu preparo e sua dedicação ao esporte, o futebol, as posições dos jogadores... Preparar a ponte para a leitura de 1 Coríntios 9.24-27.
Momento 3 – Refletir sobre a missão da comunidade no local, a missão de cada cristão na sociedade, as conexões entre a vida do atleta e a vida da pessoa cristã, da comunidade.
Momento 4 – Compartilhar a reflexão sobre o movimento Joga Limpo Brasil (JLB), da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Propor uma ação concreta para a comunidade realizar naqueles dias da Copa do Mundo (pode ser uma daquelas mencionadas no item Meditação ou outra ação).
6. Subsídios litúrgicos
Cantos/hinos:
Escolher aqueles cujo conteúdo tem a ver com missão, discipulado ou serviço no mundo.
Leituras bíblicas:
Colossenses 4.3-6 e 2 Timóteo 4.7-8
Leitura de Salmo:
Salmo 139.1-14
Oração do dia:
Senhor, torna-nos capazes de viver com amor nossa vocação como verdadeiros enamorados da tua beleza espiritual, extasiados pelo perfume de Cristo, que exala de uma vida de conversão ao bem, não como escravos subjugados por uma lei, mas como pessoas livres guiadas pela graça. Amém (Agostinho de Hipona).
Oração de intercessão:
Incluir pedidos por paz nas cidades em que acontecerão jogos da Copa do Mundo; por hospitalidade e respeito no trato com os turistas; por espírito esportivo aos jogadores, técnicos e dirigentes das seleções de cada país; por entendimento, fraternidade e respeito entre as torcidas de diferentes seleções; por imparcialidade e retidão dos juízes de futebol; por um clima de alegria e congraçamento por causa do esporte; por paciência e tolerância no trânsito, nas filas de espera, nos aeroportos; por acolhimento e disposição em ajudar pessoas que não falam a nossa língua; por honestidade e transparência nas pessoas que ocupam cargos públicos; por retidão nas atitudes de empresários; por salários justos aos trabalhadores; por uma justiça voltada aos menos favorecidos em nossa sociedade.
Bênção:
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo nos fortaleça e nos proteja em todos os caminhos de nossa jornada. Que o amor de Deus Pai encha nossas vidas e nos anime na solidariedade e no serviço ao próximo. E que a comunhão do Espírito Santo nos mova à reconciliação e amizade para que em todos os nossos relacionamentos seja celebrada a paz. Assim abençoa-nos, ó Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito santo. Amém.
Bibliografia
BRUNKEN, Werner. 1 Coríntios 9.24-27. In: Proclamar Libertação XI. São Leopoldo:Editora Sinodal, 1985. p. 165-170.
DOCUMENTO DA SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL (SBB). Joga Limpo Brasil – Sumário Executivo
DOCUMENTO DA SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL (SBB). Joga Limpo Brasil – Manual de Ações Evangelísticas para a Copa das Confederações 2013 e
Copa do Mundo 2014.
OLIVEIRA, João Batista Dietrich de. 1 Coríntios 9.24-27. In: Proclamar Libertação 33. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2008. p. 112-118.
Voltar para o índice do Proclamar Libertação 38