Estimada comunidade!
A palavra bíblica para nossa meditação é do Salmo 136, “Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre” (Sl 136.1). Dar graças a Deus, agradecer, expressar gratidão ao Senhor. Este é o tema de nossa reflexão - um tema bastante apropriado para esta ocasião. Finalmente, depois de 3 longos anos, o município – nós – nós finalmente temos a oportunidade de retornar e se reencontrar na festa das Orquídeas de Maripá. E isto, depois de atravessar uma tempestade em abril que destruiu muitas casas e lavouras na região. Temos motivos para agradecer ao Senhor? Certamente os temos. “Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre”.
É necessário, entretanto, cavoucar um pouco mais este verbo ‘agradecer’, pois tanto na bíblia como na vida este é um verbo muito importante. Agradecer, dizer ‘obrigado’, ‘obrigada’ é uma lição que geralmente se aprende cedo na vida. Quem não se lembra do pai ou da mãe insistindo conosco para aprender a dizer obrigado. Quando a criança ganhava um pirulito ou um bombom, o presente vinha acompanhado da frase: “como é que se diz?”. E a criança respondia, “obrigado!”. Isto era como uma espécie de ritual. Hoje em dia, infelizmente, me parece que está palavrinha “obrigado, obrigada” está fora da moda para muitas pessoas.
Uma das lições que o salmo 136 apresenta ao povo de Deus é a gratidão, é aprender a agradecer, é dizer obrigado/obrigada. “Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre”. Este verso bíblico se repete diversas vezes neste salmo. Ele é um refrão. Quando o povo reunido rezava o salmo 136, esta expressão de gratidão aparece diversas vezes na oração. É como se Deus se colocasse no lugar do pai ou da mãe para insistir com a criança, agradecer é importante, agradecer é sinal de respeito, agradecer é necessário para o bom viver com Deus e para a boa convivência entre as pessoas.
E quais os motivos de gratidão no salmo 136? Os motivos são muitos. O salmo, porém, é longo e aqui temos de resumir sua mensagem. Mas, se alguém tiver curiosidade, leia ainda hoje o salmo 136. Nele percebemos logo no início o salmo convidando o povo a agradecer ao Senhor por sua bondade e seu amor que duram de geração a geração; A seguir, o salmo celebra a criação de Deus, sol, lua, estrelas, e este mundo bonito que Deus criador deu de presente à humanidade. Depois o salmo traz à memória o tempo difícil e amargoso da escravidão na terra do Egito, quando o povo sofreu nas mãos do faraó. Também aqui se relembra o Deus libertador que conduziu o povo para fora desta experiência amarga. E, por fim, o salmo chama o povo a agradecer a Deus pela nova terra, pelo chão e lugar onde o povo mora e que Deus lhe deu de presente. Também aqui o salmo destaca que o caminho pela nova terra é cheio de altos e baixos, de mesa farta e ameaças. “Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre”.
Neste louvor e gratidão que o salmo 136 nos convida a fazer, percebemos que a gratidão não se refere apenas aos momentos agradáveis na jornada. O louvor a Deus não diz respeito somente às experiências positivas de felicidade e prosperidade. O salmo 136 inclui tanto as vivências positivas como as negativas, as ocasiões de doçura e amargor. Esta certamente é uma outra lição importante para nós. Geralmente nós temos a tendência de selecionar os nossos motivos de gratidão, guardando na memória o que nos é positivo e apagando o negativo.
Sobre isto um Padre chamado Henri Nouwen, já falecido, mas cujos livros continuam sendo publicados, escreve, “Agradecer pelas coisas boas que acontecem na vida é fácil, mas agradecer por tudo em nossa vida – tanto pelas coisas boas como pelas ruins, pelos momentos de alegria e pelos de tristeza, pelos sucessos e pelos fracassos, pelas recompensas e pelas rejeições - este tipo de gratidão exige muita disciplina. Só seremos pessoas verdadeiramente gratas quando pudermos agradecer por todas as coisas que nos conduziram até o presente momento. Enquanto dividirmos nossa vida entre eventos e pessoas que gostaríamos de lembrar e aquelas que preferíamos esquecer, não poderemos pensar na plenitude de nosso ser como presente de Deus pelo qual devemos ser gratos” (VASCONCELOS, Eder e RODRIGUES, Emerson A Arte da Gratidão. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2021, p. 9-19. Adaptado).
O Salmo 136 nos abre os olhos para esta lição, agradecer a Deus por tudo o que molda a nossa pessoa e por tudo o que define a nossa identidade no tempo presente - tanto o tempo de mesa farta como o tempo de sofrimento. O salmo 136 nos chama para uma vivência de gratidão mais profunda, um reconhecimento de que Deus se faz presente tanto na alegria como na tristeza. Não se pretende aqui, de forma alguma exaltar ou elogiar o sofrimento como um fim em si mesmo, mas sim falar de uma gratidão mais profunda, a gratidão da fé. Esta é a gratidão que reconhece Deus se doando em nosso favor, tanto na segurança como na angústia. Deus se doando, por exemplo, na cruz, onde Deus em Cristo se faz presente e se entrega em nosso favor para nos aproximar de Deus e nos aproximar uns dos outros, nos aproximas umas das outras.
A gratidão da fé nos ajuda a reconhecer e agradecer a bondade permanente e o amor fiel de Deus em todos os momentos e ocasiões da vida. A gratidão da fé nos conduz ao Deus presente que nos presenteia com a vida e tudo o que ela tem. A gratidão da fé nos anima a dizer, obrigado, obrigada, também às pessoas ao nosso redor. Por isso, “Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre”. Amém.
