A importância da Confissão de Augsburgo hoje

24/06/2005

Representantes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) estarão reunidos em São Leopoldo/RS, para o lançamento da edição comemorativa dos 475 anos da Confissão de Augsburgo (1530-2005). A publicação desta edição comemorativa foi coordenada pela Comissão Interluterana de Literatura (CIL), e o lançamento acontecerá durante a realização da 3ª Conferência Interluterana (24 a 26 de junho de 2005). Seguem alguns subsídios quanto a origem, conteúdo, relevância e atualidade da Confissão de Augsburgo:

1. Aspectos históricos
A Confissão de Augsburgo (CA) é um documento histórico das igrejas luteranas. Foi redigida num momento crítico da história do cristianismo. As igrejas que haviam aderido aos movimentos reformadores encontravam-se pressionadas pelo poder imperial, que mantinha sua lealdade à igreja oficial. Além disso, os próprios movimentos de Reforma tinham dificuldades internas. Não conseguiam chegar a consensos sobre a doutrina. Isso os impedia de juntarem forças, e literalmente os ameaçava de extinção.

Nessa situação é convocada para a cidade de Augsburgo a Dieta Imperial, onde se pretendia chegar a uma definição em relação ao cisma religioso. Para essa ocasião o professor Felipe Melanchthon preparou um documento onde expunha a doutrina dos luteranos. Nisso ele levou em conta documentos anteriores que tinham o mesmo propósito. A idéia era de apresentar por escrito ao imperador as doutrinas básicas cridas e pregadas pelos luteranos, “reduzidas a uma só verdade simples e concórdia cristã”. Reconhece-se que tanto os dissidentes como a igreja romana “estão e militam sob um mesmo Cristo”. Por isso, devem fazer um esforço para também “viver em uma só igreja cristã, em unidade e concórdia”. Este, portanto, é o propósito da CA.

2. O texto e suas partes
Existem dois textos autorizados da CA, um em latim e um em alemão, com algumas diferenças em detalhes, mas que não chegam a afetar a visão de conjunto. São ao todo 28 artigos, divididos em duas partes. A primeira (1 a 21) traz “artigos da fé e da doutrina”. A segunda (22 a 28), questões controvertidas que são tratadas com mais detalhes. Ali se discutem “abusos” que os luteranos percebem na igreja romana.

A primeira parte, então, é a parte propriamente doutrinária da CA. Seus 21 artigos apresentam ainda uma divisão interna facilmente reconhecível. Os artigos 1 a 17 representam uma espécie de esboço da fé cristã, numa ordem já tradicional. Começa com o artigo sobre Deus (1) e termina com o artigo sobre a volta de Cristo (17). Entre um e outro, são tratados os temas relevantes da teologia cristã. Os artigos 18 a 21, como um tipo de apêndice a esta primeira parte da CA, dão uma atenção especial a temas controvertidos na teologia da época, e que eram pontos focais nas discussões em torno da Reforma. Primeiro temos a questão do livre arbítrio (18), que já havia sido discutida extensamente nas controvérsias entre Lutero e Erasmo. Depois, relacionada com esta, vem a questão da causa do pecado (19), onde se afirma que a vontade humana, embora cativa, como Lutero afirmava, mesmo assim é responsável pelo pecado. Outra questão, que desde o início da Reforma representava um dissenso, era a da fé e das boas obras (20).

Finalmente, fala-se do culto aos santos (21), que segundo os luteranos devem ser lembrados como exemplo de fé e de boas obras, mas não invocados ou venerados.

3. Um breve tratado de doutrina cristã
Os artigos 1 a 17, então, são um pequeno tratado de doutrina cristã, que vai “de eternidade a eternidade” (Salmo 90.2). Neles se pode discernir ainda uma divisão interna. Os artigos 1 a 3 demonstram o vínculo teológico dos reformadores com os dogmas da igreja antiga. Os artigos 4 a 6 apresentam o núcleo da proposta reformatória. Os artigos restantes, do 7 ao 17, concentram-se mais em questões que dizem respeito à igreja. Deles, os dois primeiros (7 e 8) são de caráter mais geral, definindo o conceito de igreja. Os artigos 9 a 13 abordam questões relacionadas aos sacramentos. Temos que lembrar que as questões gêmeas dos sacramentos e da penitência eram como que a alma da religião católica da época. Por ordem são tratados o batismo (9), a Santa Ceia (10) e a confissão (11), que precedia à absolvição, que por algum tempo foi considerada sacramento para os luteranos. O artigo 12, do arrependimento, engata neste último mas se relaciona também com os outros dois. O arrependimento, como Lutero havia insistido já nas suas famosas 95 Teses, é o motor oculto da vida cristã. É a contrapartida dos sacramentos na vida diária. Estes, por sua vez, como diz o artigo 13, querem despertar e fortalecer a fé que leva ao arrependimento e o acompanha. Os artigos seguintes tratam da ordem da igreja. Isso inclui a questão do chamado para a pregação e administração dos sacramentos (14) e a questão da relação entre as tradições e o evangelho (15). O artigo 16, então, trata da ordem política e do governo civil. Naquela época, igreja e estado tinham relações muito mais próximas que hoje. Finalmente, o artigo 17 trata do “fim da história”: da volta de Cristo para julgar os vivos e os mortos, e da ressurreição geral que a acompanhará, no fim dos tempos.

4. Uma breve síntese do evangelho e do discipulado cristão
Os primeiros seis artigos da CA podem ser vistos como uma breve síntese do evangelho, a partir da qual pode-se trabalhar as questões centrais da evangelização e do discipulado cristão. O primeiro artigo (1) mostra quem é Deus, o Deus triúno. O segundo (2) mostra a nossa condição de pecado. Por causa dele, por natureza não podemos ter “verdadeira fé em Deus”. Segundo este artigo, “quantos não renascem pelo batismo e pelo Espírito Santo” continuam no pecado no qual nasceram e “condenados à eterna ira de Deus”. Pensar de outro modo em relação ao pecado seria “ignomínia à paixão e ao mérito de Cristo”. Antecipa-se, assim, o terceiro artigo (3), que trata do Filho de Deus, que morreu “não só pelo pecado hereditário, mas ainda por todos os outros pecados”. Esta abrangência deve ser refletida. Não há pecado que não esteja coberto pelo manto perdoador de Deus em Cristo.

O Cristo ressurreto se encontra no céu, com Deus. Dali ele exerce o seu reinado sobre o mundo. Seu propósito é “santificar, purificar, fortalecer e consolar”. Pelo Espírito Santo por ele enviado, dá a quem nele crê “vida e toda sorte de dons e bens”, por um lado, e por outro lado os protege e defende “contra o diabo e o pecado”.

Tudo isso vem à humanidade “pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé”, como diz o artigo 4, central para a teologia luterana. A fé aceita e se apropria do fato de que por causa de Cristo “os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna”. Esta graça, segundo o artigo 5, nos é comunicada pelo “ofício da pregação”, pelo qual nos são dados “o evangelho e os sacramentos”. Por meio deles o Espírito Santo “opera a fé, onde e quando lhe apraz”. Assim, também a fé que recebe a graça é, ela mesma, graça de Deus. Esta fé contém em si “bons frutos e boas obras”, como diz o artigo 6. A ela se segue, portanto, o serviço ativo às pessoas que dele necessitam.

Esta, portanto, é a breve síntese pela qual podemos evangelizar a partir da CA. O Deus triúno nos criou. O pecado nos separa dele e nos coloca sob seu juízo. Em Jesus Cristo Deus se fez ser humano e decidiu em sua vida e morte a questão do pecado. Por ele somos justificados pela graça, por meio da fé. Isso agora deve ser anunciado ao mundo. Pregação e sacramentos querem comunicar a todas as pessoas a boa nova de que os seus pecados estão perdoados e que Deus as recebe em sua graça. Através desta comunicação, o Espírito Santo cria a fé e, com ela, o amor e todos os dons que podem, agora, se concretizar no serviço às pessoas e ao mundo.
 


Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Artigo
ID: 12687
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Hebreus 13.20-21
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