De 19 a 24.08.2016 o Sínodo Espírito Santo a Belém - SESB recebeu a visita dos pastores Kurt Herrera e Michael Thiel, de Hermannsburg (Südheide), Alemanha. Esta foi a terceira estação, no roteiro que incluiu Porto Alegre e São Paulo, e a primeira vez que estiveram em solo capixaba. Os dois pastores, Kurt (Secretário para América Latina) e Michael(Diretor) representam Obra Missionária Luterana da Baixa Saxônia, conhecida como ELM (Evangelisch-Lutherisches Missionsweck in Niedersachsen), a qual é mantido por três igrejas territoriais: Hannover, Braunschweig e Schaumburg-Lippe. Esta Obra Missionária apoia financeiramente o projeto de formação de novos agentes da Associação Central da Saúde Alternativa – ACESA-ES.
Os dois pastores vieram para o Sínodo com o objetivo de visitar a ADL, em Serra Pelada, e conhecer o trabalho da ACESA in loco, em Vila Pavão e São Gabriel da Palha, e obter mais informações sobre atuação do SESB nas áreas missionárias e urbanas. A partir destes objetivos, foi desenvolvido um programa intenso e diverso, coordenado pelo pastor sinodal Joaninho Borchardt e por mim, pastor Carlos Luiz Ulrich, que trabalhei a serviço da IECLB, de agosto de 2009 a setembro de 2015, na Alemanha.
Saímos de Vitória no sábado de manhã e conhecemos a cidade de Domingos Martins e o Parque da Pedra Azul. Chegamos a Serra Pelada no final do dia e fomos recebidos pelo superintendente da ADL, pastor Siegmund Berger e sua equipe, que mostraram um pouco do trabalho da ADL e suas ênfases na forma diaconal, musical, liderança comunitária, cuidador de idosos e artes cênicas, ao lado da formação do Ensino Médio. Na oportunidade, o grupo de metais se apresentou aos visitantes.
Naquele fim de semana estava acontecendo a VI Wursfest (Festa da Linguiça). Os alemães puderam apreciar esta festa que tem como objetivo resgatar a cultura alemã e a cultura local. Eles assistiram ao desfile das candidatas a Rainha e Princesas da Festa, à moda de viola e ao desfile da cultura pomerana, em carros alegóricos, na rua principal da vila.
Além disso, participamos de um culto no domingo de manhã bem cedo, às 7h30, na comunidade de Empoçadinho, junto com o pastor local Paulo Jahnke e o pastor sinodal Joaninho Borchardt, que conduziu a pregação. Para chegar até o local de culto, os carros precisaram dar marcha ré e acelerar, por causa da poeira, para subir o morro íngreme de Empoçadinho. Chamou a atenção dos alemães a participação de 30 pessoas no culto, numa comunidade que tem apenas 50 pessoas membros, e a intensidade canto e do louvor a Deus entoado pela comunidade.
De Serra Pelada viajamos para Vila Pavão para conhecer a horta da ACESA, chama de “Horta da vida”, e conversar com as lideranças e voluntários desta associação. No caminho pudemos ver de perto a situação crítica dos rios e das plantações por causa da forte estiagem que atinge o Norte e Noroeste do estado. Vimos a areia e as pedras no leito do Rio Santa Joana, praticamente seco por falta de chuvas. Vimos também as pastagens secas e os morros pelados e algumas cabeças de gado magro, à procura de algum fiapo de capim. Vimos ainda o fino espelho d’água do Rio Doce, que corre lentamente para o mar, buscando forças não sei de onde, para se recuperar da maior tragédia ambiental, ocorrida no ano passado, quando a lama de rejeitos de minério da Samarco atingiu em cheio o seu leito.
Em Vila Pavão fomos recebidos pela catequista Karin Dieter, em sua pousada, e pelo pastor Vitorino Reetz. Conversamos com algumas lideranças da ACESA, nitidamente abatidas pelo assassinato cruel de uma das voluntárias, Nauva Bening, dias antes. A dona Édina Borcarte Vervloet, o presidente Cleidiomar Marquart, a coordenadora técnica Genilza Matiello, e o assessor teológico pastor Ênio Fuchs, além de outras pessoas, nos mostraram a horta, que é cultivada com mais de cem variedades de ervas e plantas medicinais, e atende as escolas e o público em geral na distribuição de mudas e chás desidratados.
Ao lado da horta, conhecemos também o “Espaço Terapêutico da Saúde na IECLB”, onde se faz a secagem e embalagem das plantas e onde há duas salas para massagens, além de um local de distribuição de tinturas, pomadas e xaropes. Tanto o espaço da horta quanto o espaço terapêutico foram cedidos pela comunidade luterana de Vila Pavão, e fica ao lado da igreja da IECLB, conhecida na região como “igrejona”.
De Vila Pavão seguimos para São Gabriel da Palha para conhecer a sede da ACESA e o laboratório de manipulação das ervas medicinais. A casa está passando por reformas e adequações, para atender os padrões da vigilância sanitária, para um laboratório de manipulação. Dali são distribuídos os produtos prontos e embalados para os três núcleos e os doze grupos que a ACESA tem nos municípios de São Gabriel da Palha, Vila Pavão, Barra de São Francisco, Pancas e Colatina.
Além do laboratório, conhecemos o Mercado Popular em São Gabriel da Palha, que tem o apoio da Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA. Segundo Clovis Conti, trata-se de um mercado de produtos agroecológicos vindos direto dos produtores cadastrados, sem atravessadores. O MPA organiza e coordena esse mercado de produtos agrícolas e se mantém com uma porcentagem das vendas dos associados.
No penúltimo dia de visita ainda tivemos um encontro com os pastores e pastoras da União Paroquial da Grande Vitória, que falaram como é ser igreja na cidade grande, no contexto de migração, mudanças climáticas marcantes (seca e enchente) e de crise moral-política e econômica.
Os visitantes compartilharam algumas impressões que lhes chamou a atenção: a) todas os templos e outras instalações ligadas à Igreja estão devidamente sinalizadas por placas e pelo símbolo da IECLB; b) primeira igreja que viram a organização e articulação a partir das bases comunitárias; c) as parcerias com organizações sociais e públicas; d) a ACESA pelo resgate do saber popular na saúde natural e alternativa e as suas implicações econômicas, favorecendo as pessoas mais necessitadas; e) a parceria da Igreja com as prefeituras e organizações sociais; f) a grande e diversa área geográfica do SESB e a participação ativa dos seus membros; g) a hospitalidade e a alegria com que foram recebidos em todos os locais; h) a boa e conservada malha viária do estado do ES, nos 1.054 Km percorridos no fim de semana; i) as lindas paisagens; j) e o “sentimento de pertença e participação ativa” com as coisas da igreja é bem maior do que na Alemanha” – concluíram.
A IECLB, sem dúvida, tem um grande desafio a desempenhar nesta parte do Brasil, sendo sempre de novo necessário proclamar: que a salvação, as pessoas e a natureza não estão à venda. Vivemos sob a graça de Deus, portanto, necessitamos proclamar em palavras e ações o Evangelho comprometido com a vida daqueles e daquelas que sofrem. Para que isto aconteça, de forma concreta, é essencial as parcerias em âmbito local e âmbito global. Portanto, muito nos alegra a parceria com a Obra Missionária da Baixa Saxônia.
P. Carlos Luiz Ulrich
Vitória/ES