Comunidade de Nova Friburgo

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Visão Geral da História da Comunidade Luterana de Nova Friburgo

17/03/2014

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Visão Geral da História da Comunidade Luterana de Nova Friburgo
Seus aspectos espirituais, eclesiais e sociais.

Para podermos ter uma visão geral e breve da historia da Comunidade Luterana em Nova Friburgo sugiro que a dividamos em cinco períodos. Evidentemente que cada um destes pode ser subdividido na medida em que se queria aprofundar aspectos ou detalhes. A proposta é pensarmos a história da comunidade a partir de seu lugar na sociedade e o papel que ela assumiu ou foi levada a assumir no sentido de agente ativo na história de Nova Friburgo.

 

Surgimento

A fundação Dá-se com a chegada de imigrantes de origem germânica promovida por um projeto Imperial de Dom Pedro I. Isto ocorreu em 03 de maio de 1824.
Este processo migratório não foi sem conflitos de objetivos, interesses e necessidades das partes envolvidas. O ponto auge destes conflitos esta em que no contrato de imigração não estava previsto eles ocuparem lotes de terras na Região Serrana do Rio de Janeiro e sim em um lugar no Sul da Bahia. Não lhes restando opções, após manifestações em contrário, se renderam ao poder imperial brasileiro e vieram fazer companhia aos suíços sobreviventes que já se faziam presentes na região desde 1819.

O movimento migratório deu-se também com grandes sofrimentos pessoais. As condições de viagem apresentavam aspectos nada favoráveis para a saúde das pessoas. Pessoas ficaram debilitadas e morreram antes de poderem conhecer sua morada no novo continente. O caso mais conhecido é o falecimento da esposa do pastor Sauerbronn, cujo óbito veio ocorrer durante o nascimento de um de seus filhos, que também faleceu pouco tempo após haverem subido a serra Este fato deu origem ao cemitério Jardim da paz, popularmente denominado de cemitério dos alemães.

O grupo de imigrantes alemães trouxe uma novidade ao contexto religioso brasileiro. Até então ainda não havia uma comunidade cristã de confessionalidade protestante funcionando no Brasil com expressa autorização governamental. Neste projeto de imigração estava incluída a contratação de um pastor luterano. Este pastor assumiu manter a colônia alemã unida e com metas de que se desenvolvesse. A comunidade luterana é quem desempenhou este papel. A possibilidade de se manifestar a espiritualidade através do idioma materno foi, pelo menos na primeira geração destes imigrantes, um fator preponderante para se manterem com forças de vida. A comunidade luterana de cunho étnico germânico desempenhou um papel social bem definido: animar e consolar as pessoas através de uma mensagem de esperança para que as pessoas não desfalecessem em meio às extremas adversidades encontradas.

A comunidade étnica protestante também assumiu o papel de representar legalmente os interesses dos imigrantes diante das autoridades constituídas pelo império. Se lermos os documentos produzidos na época veremos que isto de fato ocorreu, sendo o pastor Sauerbronn o representante legal desta.

Creio ser mister ressaltar que aos protestantes era proibido pregar sua doutrina eclesiástica para outras pessoas que não fosse aos imigrantes. Também não era permitido celebrar casamentos ou batismos para pessoas que não fossem de berço protestante. Não eram autorizadas celebrações consideradas pomposas, mesmo fúnebres. A construção de um local de culto em forma de templo era vetada. Somente em 1858 que se construiu um templo, cuja obra se utilizou até 1952, quando foi inaugurado o novo templo. Estes aspectos legais envolvendo religiosidade e administração pública imperial trouxeram alguns aborrecimentos e entraves na vida das pessoas. Não custa lembrar de que entre os suíços havia pessoas que confessavam o protestantismo, mas assinaram um documento de abjuração como condição de imigração e que, com a chegada dos protestantes alemães, alguns destes se encorajaram para voltar a sua origem religiosa que no íntimo nunca haviam abandonado. E estes acontecimentos produziram ressentimentos entre e desconfianças entre as denominações religiosas da época. Tudo porque aos protestantes era expressamente proibido por lei serem evangelizadores, o que se chamava de prosélitos.

Na medida em que pastor Sauerbronn perdia suas forças físicas, pastor Mayer assumia a condução pastoral da comunidade luterana. O que se oficializou após a morte do primeiro em 1864.

Podemos dizer que sob a liderança do pastor Meyer vivemos dois momentos distintos: auge e decadência da prática do protestantismo de cunho luterano em Nova Friburgo na segunda metade do século XIX.

Auge porque na medida em que descendentes de imigrantes, na busca de melhores condições de existência, passaram a se dedicar ao plantio do café, ao comércio, alguma profissão liberal ou mesmo outro ofício de prestação de serviço o luteranismo cresceu em influência na sociedade e não ficou restrito somente na região onde estavam localizados os lotes destinados originalmente aos mesmos. Neste período foi fundada a comunidade em São José do Ribeirão, que já não existe mais; no lugar há uma comunidade presbiteriana.

Há indícios de que no período de atuação do pastor Mayer tenha se adotado o vernáculo em várias ocasiões para celebrar. Isto é um forte indicativo de que os descendentes dos imigrantes passaram por um processo de aculturação e dispersão, especialmente durante as duas últimas décadas do século XIX. No entanto, o uso da língua portuguesa nos cultos não foi o suficiente para evitar um quase desaparecimento da comunidade luterana do nosso meio. A comunidade vinha perdendo a sua função social original, a de manter uma colônia étnica unida.

Vale lembrar que pastor Mayer foi um cidadão bastante ativo na vida pública e administrativa de Nova Friburgo, chegando a ocupar a presidência da Câmara, que lhe dava simultaneamente a função de prefeito.

No final da vida de Mayer um de seus filhos assume conduzir atividades no seio da comunidade, mas não era oficialmente instalado na condição de pastor. Este filho do pastor Mayer irá se transferir para a comunidade de cunho calvinista que surgira em Nova Friburgo no final do século XIX. Calvinistas são os presbiterianos. Com a morte do pastor Mayer, na verdade se encerra um ciclo histórico do luteranismo em Nova Friburgo.

Decadência

Desde a metade da primeira década do século XX, com a morte de Meyer, até o ano de 1937 o povo luterano não conta com atendimento pastoral cotidiano, pois era assistido de forma esporádica pelo pastor Friedrich Ludwig Hoepffner, cuja residência era no Rio de Janeiro. Este pastor contou com o auxílio de outros colegas, mas de forma bem ocasional. Entre os anos de 1933 e 1937 o professor e missionário Friedrich Gustav Erns Plöger deve ter residido em Nova Friburgo, pois consta haver falecido aqui no Município. Esta realidade fez com que a presença luterana em Nova Friburgo ficasse tênue e extremamente enfraquecida. As atividades no templo eram tão poucas a tal ponto ter sido o mesmo cedido aos presbiterianos na segunda década do século passado.

A invisibilidade da existência de uma comunidade luterana entre os anos 1910 e 1917 em Nova Friburgo ficou tão evidenciada pelo caso da tentativa de se vender o terreno da mesma. Diante deste fato algumas pessoas surgiram para reclamar, afirmando exisitir ainda a comunidade. Houve um processo na judicial e a causa foi dada como ganha para a comunidade Luterana. Isto ocorreu em 1917.

Ressurgimento

No início da segunda década do século xx dá-se os primeiros passos que irão mudar bastante a configuração social, política e econômica de Nova Friburgo. E isto trará de volta a presença mais incisiva do luteranismo no cenário cultural e religioso friburguense. Trata-se do processo de industrialização, tendo como uma das principais lideranças Julius Arp.

Os investidores, diretores e um contingente considerável de pessoas envolvidas na construção e na condução das fábricas fundadas aqui em Nova Friburgo ao longo das décadas do século XX são de ascendência ou descendência alemã, cuja espiritualidade é de confissão Evangélica Luterana. Isto significa que o renascimento da presença luterana está outra vez profundamente enraizado ou imbricado a presença germânica. O luteranismo se apresenta novamente na condição de estar culturalmente abraçado com uma determinada etnia, no caso a germânica. A comunidade Luterana mais uma vez assume o papel social de manter a coesão do grupo étnico. O nome da comunidade era Deutsches Evangelische Kirche (Igreja Evangélica alemã). Este nome foi mudado após a segunda Guerra Mundial, quando se aboliu o termo Deutsches, adotando Igreja Luterana de Nova Friburgo.

Em 1937 acontece uma cisão no interior da comunidade alemã. A questão envolvia contradições entre os que defendiam e os que se opunham a ideologia predominante no governo alemão de então; o nazismo. Antes de o Brasil declarar guerra aos países alinhados com o Terceiro Reich de Hitller eram permitidas manifestações públicas a desta forma de governo. Getúlio Vargas mantinha uma proximidade com o governo italiano, que por sua vez era aliado com o alemão e isto criava um clima favorável para propaganda pública. Mas em Nova Friburgo muitos alemães não tinham simpatia por um governo autoritário tipo o de Hitler. Creio que estes deveriam ser mais defensores de um tipo de política governamental de cunho mais liberal.

Esta cisão foi o que originou em última instância a ideia de que se deveria convidar alguém que pudesse fazer um diálogo no sentido de se manter uma união quanto aos objetivos maiores no contexto regional. É quando entra em cena o Pastor Schlupp. A missão mais imediata foi levada ao cabo com êxito. Manteve-se a unidade. A comunidade de fé foi quem celebrou este elo. A comunidade luterana garante um lugar importante na história de Nova Friburgo, é quem acompanha espiritualmente um processo de desenvolvimento social, econômico e político e também cultural, sem dúvida. A comunidade tem como base pessoas de cultura germânica e continua adotando o idioma alemão para as suas celebrações.

Durante o desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial a comunidade é vista com desconfiança, especialmente por parte do governo brasileiro quando este declara Guerra aos países do Eixo. Pastor e muitos membros são presos durante três meses. Os cultos são proibidos. O templo é alugado para a Igreja Metodista, então se organizando em Nova Friburgo. Durante praticamente dois anos se podiam apenas oficiar algum rito sob uma autorização especial.

Em meio a isto a comunidade procura exercer a solidariedade. Em 1938 envia doações para o Chile em função de um terremoto que vitimou muitas pessoas naquele país. Também faz campanhas para arrecadar roupas e calçados para serem enviados para as vítimas que tiveram suas habitações destruídas pelos conflitos bélicos e vagavam pelas ruas durante o inverno congelante da Europa.

Auge

Terminada a Grande Guerra Mundial em 1945 começa um novo período da história do luteranismo em Nova Friburgo. Com o desenvolvimento industrial mais vertiginoso o luteranismo se fortalece. Em 1952 é inaugurado o novo templo, o atual templo. O antigo terreno como templo foi vendido aos metodistas.

Nas décadas seguintes à construção do templo a comunidade viverá o seu auge de todos os 190 anos de sua história. Auge no que diz respeito ao número de membros e influência na sociedade friburguense. As pessoas de Confissão Luterana irão deixar marcas profundas na história de Nova Friburgo e na história de muitas pessoas. Seja através das lideranças alojadas nas fábricas, através da ação pastoral do pastor Schlupp ou mesmo através de gestos simples das pessoas da comunidade.

Ao longo da segunda metade do século XX pessoas de tradição cultural não germânica começam a ser acolhidas no seio da comunidade, mudando sensivelmente a configuração social da mesma. A comunidade dá os primeiros passos no sentido de superar sua condição de igreja conhecida pelo seu etnicismo; “a igreja dos alemães”. Cultos e outras atividades são oficiados em língua portuguesa, possibilitando as pessoas conhecerem o conteúdo ou os fundamentos da doutrina protestante de cunho luterano.

Atualidade

Quando o modelo industrial aqui constituído, isto é, em Nova Friburgo, entrou em declínio houve consequências para a comunidade luterana. Perdeu-se parte significativa de sua base social. Isto pode ser ilustrado pelo fato de que já não predominam os sobrenomes de origem germânica entre os membros da comunidade, fazendo com que a busca por celebrações com uso do idioma alemão tornou-se exíguo, escasso. O único evento dirigido com língua alemã é um culto mensal. Todas as demais atividades são dirigidas com o vernáculo, idioma brasileiro.

Vivemos um grande desafio. Somar-se a outras denominações religiosas a fim de construir um ambiente de paz e dignidade. Somar sem perder uma identidade própria, pois é na diversidade das identidades que podemos somar para construir. O luteranismo agora poderá e irá trabalhar para tornar-se conhecido por seus fundamentos, seus princípios, sempre orientados por uma criteriosa interpretação das sagradas escrituras. Somos uma comunidade para todos os povos. Somos uma igreja de Jesus Cristo no mundo. Somos uma igreja de Jesus Cristo no Brasil. Cremos que somos aceitos por Deus por intermédio de sua Graça e misericórdia manifestadas em Jesus Cristo. “O justo viverá por fé” ( Rm 1.17)

Nova Friburgo, 17 de março de 2014

Adélcio Kronbauer
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Relação de pastores que atuaram em Nova Friburgo

Friedrich Oswald Sauerbronn
Nascido 29 de fevereiro de 1784 em Hilsbach - Baden
Falecido 04 de abril de 1864 em Nova Friburgo
Trabalhou até maio de 1864. Assistiu luteranos no Rio de Janeiro até 1837.

Pastor Johann Kaspar Meyer
Nascido 06 de outubro de 1828 Altikon / Schweiz
Falecido em 16 de abril de 1906
1861 a 1864 auxiliar nos trabalhos pastorais de Sauerbronn
01 de junho de 1864 a 16 de abril de 1906 pastor titular
18 de setembro de 1887 inauguração templo comunidade São José do Ribeirão.

Pastor Friedrich Ludwig Hoepffner
Nascido 22 de julho de 1875 Danstadt / Pfalz
Falecido 25 de abril de 1941 Rio de Janeiro ( pastor Comunidade evangélica alemã rio de Janeiro - Deutschen Evangelischen Gemeinde Rio de Janeiro)
Assistiu a comunidade em Nova Friburgo no período de vacância entre a morte de Meyer e a vinda de Pastor Schlupp.
Contou com o auxílio dos pastores Simon, Treutz, Ebersbach e Wiese e do diácono Zander. Também teve auxílio do professor e missionário Friedrich Gustav Erns Plöger (1933-1937), cujo falecimento deu-se em Nova Friburgo.
Em 1921 foi fundada a Schul und Kirchenverein (Escola e círculo eclesiástico ou escola e sociedade eclesiástica) Desta sociedade surgiu a Sociedade Esportiva Friburguense.

Em 1936 é considerado o ano da reorganização da comunidade Luterana.

Pastor Johannes Eduard Schlupp
Atuou na condição de pastor da comunidade entre 01 de fevereiro de 1937 a 31 de dezembro de 1979.

Pastor Osmar Falk
06 de janeiro de 1980 a 31 de dezembro de 1987

Pastor Rolf Rieck
Junho de 1988 a janeiro de 1998

Pastor Armindo Laudário Müller
Fevereiro de 1998 a maio de 2008.

Pastor Odemir Simon
03 de agosto de 2008. Permaneceu um ano e meio em Nova Friburgo.

Pastor Adélcio Kronbauer
Atual pastor desde 01 de outubro de 2010.
 


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