Tema do Ano da IECLB



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No Poder do Espírito, Proclamamos a Reconciliação - Tema do Ano 2007

01/12/2006

 

TEMA:NO PODER DO ESPÍRITO, PROCLAMOS A RECONCILIAÇÃO

Lema: Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos (Atos 4.20)


 1. Um teólogo italiano da Idade Média, Joaquim de Fiori, escreveu certa vez que a história poderia ser dividida em três eras: 1) a era do Pai, que compreenderia o espaço de tempo entre a criação do mundo, a vocação do povo de Israel, o tempo dos profetas até o nascimento de Jesus Cristo; 2) a era do Filho, que começa com o nascimento do Filho de Deus, sua vida, ministério, a cruz e a ressurreição, seguida do envio da sua comunidade de crentes – a igreja – para proclamar a boa notícia ao mundo; 3) a era do Espírito, que começa com a descida do Espírito em Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, e caracteriza a vida atual da Igreja de Jesus neste mundo.

 2. Pode ser um pouco esquemática demais esta maneira de explicar a história do mundo e das relações do Deus Trindade com a sua humanidade. Ainda assim, Fiori está certo ao proclamar que nós vivemos hoje sob a era do Espírito. É o Espírito de Deus e de Jesus, Filho, que chama a igreja para viver o seu amor e misericórdia neste mundo. É o Espírito que cria a igreja, a comunidade de fé. Ela não é simplesmente uma associação de pessoas religiosas. Para isto não haveria necessidade de fé, Espírito ou mesmo Deus, bastaria boa vontade para se reunir e um rol de princípios éticos. A igreja cristã é mais que isso. Ela é uma comunidade que nasce do Espírito, da força e do poder do Espírito de Deus.

3. Ora, é este Espírito de Deus que cria em nós a fé que liberta. É ele que mantém esta fé viva e atuante. A fé que nasce da escuta do evangelho, porém, não pode ser guardada num cofre. A fé – que o Espírito cria em nós – tem uma só direção: ela atua pelo amor, como escreveu o apóstolo Paulo (Gálatas 5.6). E o amor é serviço!

4. Então, se a fé cristã é mesmo a ação do Espírito de Deus em nós, o fruto desta fé só pode ser o desprendimento que nos anima a servir às outras pessoas, como também Deus nos serviu em Cristo. E este serviço não tem fronteiras, não encontra limites, é criativo, é amável, é algo que pode surpreender, por exemplo, quando quebra barreiras de preconceito racial, social ou cultural. Haveria muitos exemplos do que a fé é capaz de fazer ou realizar. Cada pessoa pode abrir os olhos e perceber estes verdadeiros milagres do amor de Deus no meio das nossas fraquezas, limitações e omissões. É o amor de Deus que transforma este mundo.

5. Uma coisa é certa: nós experimentamos a fé de muitas e variadas maneiras. Mas, duas são as mais comuns e visíveis. Primeira: a fé vem pelo ouvir do evangelho (Romanos 10.17). Quando alguém anuncia o evangelho, esta palavra de Deus é poderosa para suscitar em nós a fé, a esperança e o amor. Claro, por vezes, estranhamente fazemos questão de tapar nossos ouvidos. Deixamos de escutar este evangelho e ele então segue adiante. Outros o escutam e tiram dele as conseqüências desse ouvir. Por isto, Deus nos deu ainda uma segunda maneira de compreender e receber o seu evangelho, uma maneira viva e palpável, que nos compromete com o seu Espírito! Ele nos deu o santo batismo e a santa ceia. A essa forma material da revelação de Deus designamos sacramentos. Os sacramentos são, como a tradição da Igreja o designa, palavra visível. Ou seja: eles são portadores da mesma promessa, do mesmo evangelho, que a palavra pregada. Só o são de uma maneira diferente, um modo palpável e sensível. Sem a Palavra, os sacramentos nada seriam; com ela, são boa nova para a salvação. Por isso, como a Palavra, eles requerem a fé que acolhe o evangelho no coração.

6. Vejam como Deus age. Ele escolheu elementos muito simples que jamais poderíamos imaginar que pudessem tornar-se sagrados: a água, o pão e o fruto da videira. São elementos da natureza, essenciais à vida: a água, porque rega os campos, sacia a sede e renova todo o meio ambiente; o pão e o fruto da videira, frutos do trabalho humano a partir do trigo e da uva, porque saciam a fome e alegram a vida. Ora, justamente estes elementos simples e até comuns – unidos à palavra de Deus que diz: batizem com água; comam e bebam! – se tornam evangelho palpável, palavra viva e salvadora de Deus, cada vez que os recebemos. O batismo nós o recebemos uma vez só, como ato de acolhida e perdão pela graça de Deus que nos insere na comunidade das filhas e filhos de Deus. Já o pão e o vinho, nós os recebemos como presente de Deus toda vez que aceitamos o convite para nos achegarmos à sua mesa. Na Ceia do Senhor buscamos e recebemos a reconciliação com Deus e com os semelhantes. Por isso este sacramento também é chamado de Ceia da Comunhão, pois nos une em comunhão diante de Deus no culto e nos anima a viver a nova vida em Cristo com gestos de paz e solidariedade no dia-a-dia. Cada ceia é uma reafirmação da graça do batismo e uma antecipação da grande ceia a ser celebrada no reino dos céus. A mesa da ceia é, no mundo, um sinal revolucionário. Pois nela vivemos, por antecipação, a paz que Deus dá, comemos o pão da vida e bebemos o vinho da alegria, da felicidade que não tem fim. Ah, se a comunidade cristã cresse no potencial transformador que a ceia oferece gratuitamente! Graças a Deus que estes seus sacramentos nos foram dados para sempre, para que possamos recorrer a eles cada vez que nos sentimos pobres, fracos e desgraçados. E esta memória da ceia há de estender-se para as mesas em nossas casas e tornar a convivência abençoada.

7. No poder do Espírito! Isto significa que vivemos da graça, do amor e do poder vivificador e santificador de Deus. O Espírito de Deus habita em nós, pela fé. Este Espírito confere dignidade nova às pessoas. Ele levanta as nossas cabeças abatidas, ele nos abre os olhos para o sofrimento do mundo, ele nos fortalece nas nossas fraquezas e fortalece também as outras pessoas. Ele faz nascer em nossos corações uma compaixão tão grande que move o mundo!

8. Por que o Espírito tem tanto poder assim? Porque ele é o poder de Deus para a salvação de todas aquelas pessoas que crêem. O poder de Deus é para a vida e não para a morte. Deus é um Deus de vivos e não de mortos.

9. Mas o Espírito faz muitas outras coisas. Ele nos ajuda a entender as palavras da Bíblia, o anúncio da verdade que liberta e salva (João 8.32; 16.13). Ele nos abre ouvidos, mente e coração para as dores deste mundo (confiram Lucas 10.25ss). Ele nos ensina a andar nos passos do Filho de Deus, a andar no Espírito (Gálatas 5.16) como gosta de escrever o apóstolo Paulo.

10. E, nessas andanças, vamos aprendendo muitas coisas. Aprendemos a ser pessoas alegres, a viver em paz com as outras pessoas, a sempre falar bem delas; aprendemos a ser gente em quem se pode confiar, aprendemos a ter domínio próprio, a não fraquejar quando as adversidades da vida se abatem sobre nós, a manter sempre viva a chama da esperança. É isto: o Espírito faz de nós gente com esperança, que sabe semear esperança e fé no meio onde vivemos e trabalhamos. É o Espírito que faz de nós cidadãos e cidadãs que lutam pelo bem da cidade onde vivemos (Filipenses 1.27ss; Jeremias 29.7).

11. Mas o Espírito de Deus faz mais uma coisa. Ele faz algo que é essencial no mundo de hoje. Ele restabelece laços rompidos, o que na linguagem bíblica se chama reconciliação. Deus reconciliou consigo mesmo toda a humanidade por meio de Jesus, seu Filho, nosso Senhor (2 Coríntios 5.18). Quer dizer, se havia uma inimizade entre nós e Deus, ele fez uma ponte até nós para reatar as relações rompidas. Jesus é a ponte que nos une novamente ao Deus Criador. Por isto nós o chamamos de Salvador. Porque ele reatou a nossa estreita e íntima amizade com Deus. A inimizade e nossa rebeldia foram vencidas. Aquilo que nos fazia inimigos e separados de Deus, fonte de vida, já não existe mais. Prevaleceu o amor de Deus por nós. Esta reconciliação é algo tremendo, que muda a face do mundo.

12. Como assim? De que forma a reconciliação de Deus para conosco muda a nossa história? Isto a gente não aprende numa simples e única lição. Para compreender o que significa que fomos reconciliados com Deus e assim podermos desfrutar da sua amizade, talvez uma vida inteira ainda seja pouco. No fim de sua vida, já no leito de morte, Lutero afirmou: “Somos mendigos [da palavra de Deus]; esta é que é a verdade.” Às vezes, confundimos a força de Deus em nós com piedade religiosa. Bem, até pode ser que gente piedosa compreende e vive, ou procura viver, este amor de Deus. Mas seria um erro achar que a piedade religiosa é a medida da fé. A medida da fé é sempre – e exclusivamente – a ação do Espírito de Deus que atua em nós, que liberta e reconcilia a nós e ao mundo consigo mesmo. E ele age, como dizem a Escritura e as confissões luteranas, “onde e quando lhe apraz” (CA, artigo 5; cf. João 3.8). Ele é livre em sua ação, mas sua ação é sempre maravilhosa.

13. Se nós cremos nisto, então há muita coisa a fazer. O apóstolo Paulo escreveu certa vez que a comunidade cristã – reconciliada com Deus – recebeu o ministério da reconciliação (2 Coríntios 5.18s). A comunidade de fé existe, portanto, para reconciliar as pessoas neste mundo. Primeiro, elas são chamadas a reatarem suas relações com a fonte da Vida, Deus mesmo. Depois, elas são chamadas a reatarem a amizade com os seus inimigos. Reconciliação é uma proposta de paz num mundo marcado pela escalada da violência. Esta violência não tem fronteira. Pode começar dentro de casa, quando maridos espancam a esposa ou filhos, e se estende pelas ruas. Ela atua no mercado de trabalho, divide povos e nações, provoca guerras cruéis e uma tal destruição ambiental que já está comprometendo o futuro da vida na Terra.

14. Proclamar reconciliação neste mundo que – escandalosamente – parece ter se acostumado com a violência, é algo desafiador. O Tema do Ano escolhido pela IECLB propõe, na verdade, uma palavra que é um verdadeiro programa de vida. O anúncio da reconciliação hoje pode ser traduzido pela mensagem da paz. Deus reatou a sua amizade com o seu povo. Ele estabeleceu a paz! Ele não ficou de costas para nós. Por isso, muito menos nós ficaremos de costas para quem clama por justiça, paz e direito à vida. A paz hoje é um clamor universal e vai exigir de nós, comunidade cristã, muito empenho e até sofrimento para alcançá-la.

15. A palavra de Deus é viva e eficaz, intuiu o profeta Isaías (Is 55.11). Uma vez anunciada, ela não volta vazia. Ela cria mundos. Ela renova corações. Ela cria novas mentalidades. Ela faz da comunidade de fé uma comunidade aberta e acolhedora para viver reconciliação num mundo violento e desumano. A palavra de Deus é como uma luz no meio da noite escura. Ela acende a chama da fé e da esperança. Ela nos ajuda a propor novos caminhos para a humanidade Ela nos chama para servir, lutar, criar, transformar o que precisa ser mudado, segundo a justiça que conduz à paz. Vamos deixar-nos renovar por esta palavra viva. Vamos experimentar, no dia-a-dia, o poder da reconciliação, o poder que o amor de Deus tem para transformar a igreja e a sociedade.

16. Mas será possível tudo isso? Se olharmos apenas para o espelho, provavelmente vamos desanimar. É bom olhar-se no espelho, retocar a imagem, ver melhor como podemos recobrar aquele brilho nos olhos que mexe com as outras pessoas. Mas somente o espelho não ajuda. Ele não nos capacita a deixar para trás o que nos escraviza e enfeia.

17. A vida em liberdade de fé e serviço acontece quando olhamos para o autor e consumador da fé, Jesus, o Filho do Deus vivo. Nele encontramos um outro espelho, o espelho da verdadeira humanidade, do ser humano que por amor é capaz de dar a própria vida em benefício dos seus amigos e, até, dos inimigos.

18. Esta é a mensagem que o mundo hoje precisa com urgência. No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação! Não podemos deixar de falar disso que vimos e ouvimos! No poder do Espírito, somos capazes de sair de casa e assumir a nossa cota de serviço para mudar este mundo. Por isto, somos missionários e igreja missionária. No poder do Espírito, arriscamos reatar as relações com quem supostamente estávamos brigados. No poder do Espírito somos desafiados a renovar nossas comunidades, ultrapassando fronteiras (geográficas, étnicas, sociais, culturais, etárias). No poder do Espírito, sonhamos com uma nova sociedade, onde as pessoas mais simples serão respeitadas, levantadas e honradas. No poder do Espírito, faremos o possível e o impossível para que este mundo tenha jeito! Porque sabemos e cremos: Deus reconciliou consigo o mundo para que nos tornássemos seus embaixadores, embaixadores da paz que move montanhas de ódio e preconceito!


Âmbito: IECLB
Área: Campanhas / Nível: Tema do Ano
Natureza do Texto: Vários
ID: 60052

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