Meio ambiente é um termo técnico novo que foi absorvido pelo currículo escolar. Hoje não tem escola no Brasil que não fale do meio ambiente. É sem dúvida uma grande conquista, quando a escola não fala apenas das matérias convencionais como português, matemática e física, mas também do ambiente em que vivemos. Os alunos aprendem que este meio é algo que deve ser protegido, pois é ameaçado de diversas maneiras, por exemplo, por poluentes atmosféricos, venenos usados na agricultura ou pelo desmatamento. É claro que queremos respirar ar puro, comer alimentos sem substâncias tóxicas e desfrutar a biodiversidade. Por isso o termo “meio ambiente” não tem divergências. Podemos fazer uma enquete e - lógico - todo mundo é a favor do meio ambiente.
Ainda tem outro termo técnico que ficou mais conhecido a partir da conferência no Rio em 1992 que se chama sustentabilidade. Trata-se de um conceito de equilíbrio natural que deve ser mantido, pois a vida na terra ocorre em ciclos. Como o ciclo hídrico: a chuva cai, umedece a terra, escoa pelos rios para o mar, evapora para a atmosfera e vai cair novamente como chuva. Ou a folha da árvore cai, entra em decomposição, forma húmus, o que nutre novamente a vegetação. O gás carbônico do ar é absorvido na fotossíntese pelas plantas que formam biomassa. Quando esta planta morre um dia os processos biológicos de decomposição liberam este gás carbônico novamente para a atmosfera. Não queremos interferir neste equilíbrio natural. Por isso somos também a favor da sustentabilidade, não apenas do meio ambiente.
Entretanto, ser a favor e agir a favor são coisas distintas. Analisando com mais detalhes temos que fazer a pergunta: Nós apenas falamos a favor do meio ambiente e da sustentabilidade ou estamos também agindo em seu favor?
Esta pergunta não é fácil de responder. Por um lado podemos argumentar que o aumento de gases de efeito estufa na atmosfera e o conseqüente aumento da temperatura na terra não é sustentável. Outro ponto que podemos destacar é a perda de biodiversidade, principalmente causada pelo desmatamento. Todo dia a terra perde 150 espécies. Esta perda é irrecuperável. Analisando desta forma podemos afirmar em resumo que a humanidade pelo menos na soma das suas atividades, adotou uma vida que não merece ser classificada como favorável do meio ambiente e da sustentabilidade.
Mas não devemos encerrar a nossa reflexão neste ponto. Pois existe outra palavra sobre a qual também existe uma ampla concordância: o crescimento. Não importa o país ou partido político. O crescimento sempre é o ponto principal da doutrina. Se qualquer país enfrenta uma crise, a saída é estimular o consumo e sair da crise com crescimento. O crescimento virou sinônimo para o bem-estar, e a sua ausência significa crise. Então queremos a crise? Obviamente não. Somos, portanto, a favor do crescimento, além do meio ambiente e da sustentabilidade.
Alguns falam de crescimento sustentável. Mas isto soa como “um círculo quadrado”. Porque só pode ser uma coisa ou outra: a situação está ou estável e em equilíbrio ou está em crescimento.
Isso significa que temos que escolher entre crescimento e sustentabilidade?
Antes de responder, gostaria de refletir mais sobre o porquê de o crescimento ser tão atraente para nós.
Enquanto a sustentabilidade é um ideal para a terra, nunca o foi para a humanidade que sempre buscou avançar. Ideias, pesquisas e descobertas levaram a humanidade da vida na Idade da Pedra para o patamar de hoje. Meus avós presenciaram a vinda da energia elétrica nas casas, dos automóveis e dos aviões. Nossa geração viveu a revolução digital e a globalização e vai ter outras inovações pela frente. Não podemos esquecer que este crescimento está geralmente vinculado com uma melhoria das condições de vida, tais como, tratamento médico, educação, comunicação e mobilidade. Até aqui, tudo está em harmonia. A dissonância surge quando observamos outros aspectos do crescimento como o consumo de energia e de recursos naturais e os impactos ambientais a ele vinculados. Não é por acaso que a nação mais avançada e mais desenvolvida em termos de tecnologia, que acumula mais prêmios Nobel nas mais diversas áreas, é ao mesmo tempo também a nação com o maior consumo de energia. E todos os países procuram percorrer a mesma trajetória. O saldo para o planeta é desfavorável e precisamos repensar os princípios.
Não podemos apenas crescer por crescer. É uma bobagem pensar que crescer é positivo por si só. Pois existem áreas onde precisamos continuar crescendo e outras onde temos que decrescer. Por exemplo, temos que reduzir o consumo material pela reciclagem, reutilização, fabricação de bens de consumo duráveis, uso de energias renováveis e a eliminação do enorme desperdício de material, inclusive de alimentos. Na lógica do crescimento o alimento jogado fora é contabilizado como crescimento. Trata- se de um crescimento desvinculado com aquilo que devemos buscar em primeiro lugar: o bem-estar e a qualidade de vida. Para melhorar a qualidade de vida, outras áreas como serviços, educação, justiça social, segurança terão que crescer.
Retornando assim à pergunta feita, se temos que escolher entre crescimento e sustentabilidade, a resposta é que devemos sempre priorizar a sustentabilidade, quando se trata de questões materiais. Um exemplo de tal priorização seria não usar produtos descartáveis. No mercado posso usar uma cesta em vez de sacolas plásticas. Na festinha posso oferecer bebidas num copo lavável em vez de descartável e assim vai. Casas podem ser equipadas com aquecedores solares para o chuveiro, o que funciona muito bem na minha casa. O transporte automotor que é caro, barulhento, poluente e perigoso deve migrar para formas mais humanas sem deformar cidades para as necessidades do tráfego, esquecendo as necessidades das pessoas que nela vivem.
Mas temos que buscar o crescimento, quando se trata de questões imateriais, como qualidade de vida e justiça social. Estagnação nesta área é retrocesso. Vamos lembrar sempre a diferença entre os dois tipos de crescimento, quando ouvimos um político falar sobre a necessidade de crescer. O crescimento material que está sobrecarregando o planeta e o outro crescimento de qualidade de vida tão necessário.
O autor é natural Stuttgart, formado em Eng. de Processo, com doutorado em emissões atmosféricas. É consultor para emissões atmosféricas e qualida- de do ar. Reside em Curitiba/PR
Voltar para índice Anuário Evangélico 2014