“Deus viu que tudo que havia feito era muito bom...
No sétimo dia Deus acabou de fazertodas as
coisas e descansou.” (Gn 1.31 e Gn 2.2)
Além dos estranhos e perigosos fenômenos naturais que nos atinge, ou que atinge milhões de pessoas em diversas regiões do planeta, os cientistas e especialistas alertam sobre a perigosa mudança do Clima. Provam que a intervenção do ser humano ameaça o equilíbrio do clima e a vida na terra. Os estudos e diálogos apontam para a necessidade de parar urgentemente com as ações individuais, com os projetos industriais e econômicos, com a implementação de políticas públicas que mantém e agravam o processo de destruição e poluição. O alerta tem legitimidade cientifica e está acompanhado pelos nefastos fenômenos naturais que estão além da “normalidade” até então convencionada.
Estamos diante de um desafio global. Só um país com o seu poder econômico, ou com suas armas e exércitos não conseguirá derrotar a ameaça. Justamente ao contrário, com essa visão este continuará participando da destruição. Já conhecemos que a construção de um processo de desaceleração da intervenção humana no clima passa por um grande acordo entre os povos, nações, culturas, modelos econômicos, políticos e sociais. O processo inclui a mudança de comportamento, a visão de mundo e o compromisso com a vida.
Nós cremos, conforme confessamos com as palavras do Credo dos Apóstolos, no Deus Criador do céu e da terra. Mesmo conscientes de que a Criação é de Deus - está abençoada - somos os últimos a reagir diante da intervenção humana no clima e das ameaças a vida na Criação de Deus. Fazemos isso pela omissão ou pela co-participação.
A ameaça ao clima com todas as demandas, iniciativas e desafios relacionados precisam urgente ganhar espaço em nossas agendas. Penso que as comunidades precisam abrir espaço para a reflexão e conscientização a respeito da ameaça e da reação urgente em prol da vida. As comunidades cristãs, pela graça de Deus podem influenciar pessoas e famílias na mudança de atitudes e no exercício da cidadania em prol do movimento pela estagnação do processo de destruição.
Mais do que isso, as comunidades cristãs, as nossas comunidades, recebem de Deus o dom de anunciar a graça, a bondade, o amor e o seu poder salvífico. Também de testemunhar a sua presença viva na história e entre nós. Esse dom não exclui, não escapa aos compromissos com o cuidado e com a preservação do sistema terra - conjunto de fluxos de energia e ciclos físicos, químicos e biológico/ecológicos que suportam a vida no planeta, que Inclui os humanos, nossa sociedade e atividades.
Certamente o olhar de Deus nos dias de hoje para a sua Criação registra a destruição e a nossa omissão. Somos chamados para apropriar-nos dos desafios que a mudança climática nos impõe. Podemos juntos buscar uma linguagem litúrgica e o aprendizado de uma espiritualidade que facilitem o exercício dos dons de cuidado e preservação do sistema vivo da Criação de Deus. A mudança climática tornou-se agenda global e exige espaço em nossa dinâmica comunitária e espiritual.
Guilherme Lieven
Pastor Sinodal, Sinodo Sudeste - IECLB