Durante este ano de 2011 toda nossa igreja é chamada a debater, meditar e ter atitudes a partir do tema “Paz na criação de Deus”. Tema que está amparado nas palavras do evangelista Lucas 2. 14: “Glória a Deus e Paz na Terra”. Somos chamados (as) a refletir sobre nosso compromisso com a criação de Deus, nosso compromisso na construção da paz.
Envolver-se com Deus significa ajudar a criar novas relações na sociedade, envolver-se com Deus, significa tensão e confronto com a velha realidade humana, com as relações de agressão, que a sociedade nos impõe e que somos desafiados pela fé que confessamos. Deus age contra toda a lógica humana. E é isso que somos convidados/as a refletir neste ano. No meio da correria que este mundo nos coloca e dos tantos desafios que se colocam, Deus nos chama para percebermos o quanto colaboramos com o sofrimento imposto a Deus e sua criação. Nessa época da Paixão, lembramos justamente do sofrimento de Jesus que foi revelado de várias maneiras. Que pede de cada um de nós mudança de vida e compromisso com Jesus e não compromisso com o sofrimento. Aceitar este Jesus nos surpreende, nos deixa as vezes confusos, entender esse Jesus e o que ele espera de nós, nos deixa perturbados.
Jesus atravessa o sofrimento com um amor que faz pensar. Mostra um amor que é Universal, que veio para todos e todas. Desvenda o amor que enfrenta o sofrimento – e o que era considerado normal – para buscar ressurreição.
Nós, pessoas cristãs, acreditamos que a nossa vida depende da superação do sofrimento, na Cruz e na morte. A paixão de Cristo precisa mexer conosco! Nós precisamos perceber que é da cruz, sim, que depende a nossa vida. As nossas ações são uma resposta a à cruz que foi vencida, e não nos deixa conformar com o sofrimento – nenhum sofrimento – nem da criação, nem de irmãos e irmãs, nem na irresponsabilidade em nossa convivência e comunhão.
Quando a Notícia é boa precisa ser passada adiante, não pra fazer alarde, ou pra querer aparecer, mas porque com ela queremos contagiar outras pessoas. Queremos que outros/as superem o sofrimento com a gente.
Acredito que esta saudação “ Glória a Deus e Paz na terra” foi gerada a partir da experiência de um povo que – depois da ressurreição – conheceu um outro poder, diferente do poder da morte. A saudação “Glória a Deus e paz na terra” permaneceu quase que inalterada no relato do evangelista Lucas. O fato de Jesus sofrer a morte num mundo atingível por leis e decretos, e pelas conseqüências de entendimentos de leis e jeito de viver, quer mostrar que ele não é só o Salvador para o povo de Israel, mas sua morte ultrapassa fronteiras e sua ressurreição acontece para todo o povo que vivia naquele imenso império. A salvação ganha com isso uma dimensão universal.
Anunciar esse Deus que morre na cruz é anunciar um Deus frágil, que sofre a cada acusação, que sofre a cada queda, que necessita até de ajuda para carregar a cruz. Anunciar esse Deus é perceber que Deus nos concede a comunhão mesmo quando queremos um mundo sem diferenças - sendo nós diferentes, com realidades diferentes, com erros e com acertos de comunidades e pessoas que experimentam a paz.
Zelar por nossos pequenos atos está intimamente ligado à nossa fé. Não há como ser diferente. Isso é, vivenciar a paz em nos relacionamentos domésticos, no ambiente de trabalho,quando colocamos limites na produção desordenada e no desrespeito cotidiano, no ambiente de nossas comunidades, quando buscamos caminhos e partilhamos nossa sabedoria para que a paz seja fruto da justiça todos os dias.
Mas a paz é mais do que melhorias constantes no cotidiano. Há coisas que precisam de uma transformação maior. E para isso não dá para contar com ideias rápidas, formuladas sem muita reflexão. É necessário o estudo, o aprofundamento de questões para que a paz seja fruto de uma compreensão maior de que o que cremos não são só palavras repetidas a cada culto.
Nosso Deus é salvador, porque transforma nossos relacionamentos de maneira que não suportemos mais dor: Jesus já sofreu. É tempo de anunciar a salvação. Nosso Deus é restaurador, porque nos move, apesar dos nossos tropeços e dos nossos erros. E continua conosco com seu Santo Espírito – não só “ajudando”, mas principalmente enfrentando causas de morte, da morte, entre nós.
Na nossa discussão sobre este tema da IECLB temos que ter presente a pergunta pelo nosso compromisso com a criação de Deus. Se não nos ocuparmos com esta discussão, negamos, com toda certeza, nosso compromisso com a superação do sofrimento de Jesus no relato de sua Paixão.
Que a discussão do tema “Paz na criação de Deus”, fortaleça nosso compromisso com o Evangelho, fortaleça nossa ação como pessoas cristãs no mundo e nos fortaleça na união como irmãos e irmãs que se reconhecem e comungam da mesma fé.
Amém
Altemir Labes
Pastor Sinodal
Sínodo Nordeste Gaúcho