O olhar de qualquer observador atento não poderia deixar de perceber o desmatamento vertiginoso da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul para exploração comercial.
Impossível passar desapercebida a devastação de árvores nativas para o plantio de pinus, eucaliptos e outras culturas.
Esse desmatamento desenfreado representa a destruição de um patrimônio nacional face à inexistência de fiscalização e à própria aquiescência de autoridades governamentais.
O abate de espécies vegetais ameaça a biodiversidade animal com consequências irreversíveis ao meio ambiente.
A ganância, a falta de consciência, a ignorância e a irresponsabilidade do ser humano levam a atitudes destrutivas, contrárias à preservação da vida.
A mídia europeia tem demonstrado preocupação com resultados provenientes dessas atitudes, sentidos nas alterações e instabilidades do clima, sendo a
estabilidade climática condição sine qua non para a existência e a preservação da vida.
A sangria das matas também afeta as nascentes e consequentemente a presença de água pura. Sabe-se que três quartos da água doce disponível no mundo nascem nas áreas cobertas por florestas.
Documentários científicos relatam que cinquenta e oito por cento da fauna vertebrada do planeta foi extinta nos últimos doze anos, um verdadeiro crime ambiental.
Ao percorrermos a Rota do Sol ou a Estrada Livre no Rio Grande do Sul, é impossível fechar os olhos e ignorar o triste quadro em que vivemos.
Plantações de pinus entre São Francisco e Canela provocam incêndios quase que permanentes, resultando na completa destruição da flora e da fauna. Esse tipo de cultura alastra-se atualmente na Serra Geral pelada e no litoral, podendo-se já prever o desastre ecológico em virtude da proliferação desta monocultura altamente inflamável e desfavorável ao meio ambiente.
A facilitação do acesso à Serra Geral por novas estradas, como a Rota do Sol, tem colaborado para o desmatamento acelerado e impiedoso da Mata Atlântica.
No entanto, existem legislações que limitam o abate de árvores nativas e que nem sempre são respeitadas, como a existência de uma declividade mínima, a partir da qual essa prática é interditada por lei. Por que não é realizada uma fiscalização nas áreas ditas de preservação permanente neste sentido? Quem são os responsáveis por tais infrações e por que não são coibidos?
O mais irônico na Rota do Sol é o controle de velocidade estabelecido para evitar o atropelamento ou danos à fauna nativa por excesso de ruído, quando, a olhos vistos, a mata está sendo abatida de forma devastadora, condenando à morte toda a vida que dela dependia para sobreviver.
Uma grande tristeza invade qualquer viajante sensível ao perceber que a beleza e o encanto de nossas lagoas emolduradas pelas matas virgens estão em vias de desaparecer, em estado agonizante, como que a pedir socorro pelo futuro que o ser humano lhes está reservando.
Poderíamos seguir o exemplo da África, onde em determinadas regiões, está sendo institucionalizado um abate inteligente, racional e monitorado, com fiscalização severa, visando a proteção da floresta.
Também poderíamos seguir o exemplo de algumas comunidades asiáticas, onde estão sendo tomadas iniciativas na educação infantil para a conscientização de crianças com respeito à importância da preservação ambiental.
Qual herança deixaremos para nossos descendentes? A estupidez humana alcançou seu limite em atitudes altamente destrutivas: ao devastar a vida vegetal e animal, o homem torna-se autor de sua autodestruição. É a vida no planeta que está em risco.
Lamenta-se que tais fatos não sejam amplamente denunciados na mídia por jornalistas profissionais.
A Mata Atlântica clama socorro, a vida clama socorro, o santuário da biodiversidade clama socorro.
Protejamos este tesouro da natureza, patrimônio da humanidade.
Profa Suzana Maria Coelho
Porto Alegre, 3 de maio de 2017