A igreja e a questão ambiental
P. Clovis Horst Lindner
A IECLB ousa ao propor reflexões urgentes sobre a questão ambiental. O tema do ano de 2011, Paz na Criação de Deus — Esperança e Compromisso, desafia a sociedade como um todo e as pessoas individualmente, em seu modo de viver e de conduzir sua relação com o que Deus criou. A reflexão do tema proposto é urgente e inadiável, sob pena de todos sermos vítimas da nossa própria indiferença. Portanto, trata-se da sobrevivência, não somente da espécie humana, mas de toda a vida sobre a Terra, a morada que Deus nos concedeu.
Para uma igreja que desafia de tal modo a sociedade, entretanto, há um aspecto inquietante que deve ser levantado, por uma questão de coerência. Ao cobrar postura ambiental da sociedade e dos cidadãos, como se posiciona a própria igreja diante da questão ambiental? A pergunta dirige-se a quem propõe ações e procedimentos, e quer saber se também são considerados em seu próprio cercado.
Isso levanta algumas inquietantes interrogações, das quais pretendo enumerar apenas algumas. O problema ambiental faz parte das questões consideradas na administração da igreja? Como se lida com os dejetos, o lixo, as sobras das festas, o papel usado nos expedientes, o material dos retiros e seminários, o tipo de material adotado nos coffee-breaks de encontros e reuniões? Que destinação se dá a sobras de festa nas comunidades? Que produtos de limpeza são usados nas instalações?
Como é tratado o bosque ou o jardim que cerca o templo, o cemitério, a casa pastoral, o centro comunitário? Questões ambientais pesam na balança ou o veneno é mais prático do que a enxada? As folhas que caem das árvores são tratadas como lixo ou como adubação natural?
Quais os cuidados com a água nas dependências eclesiais? Que tipo de válvula assiste as descargas dos banheiros? As torneiras têm timer ou jorram água indefinidamente? Há vazamentos a serem controlados? Uma cisterna recolhe águas pluviais para rega, uso na limpeza e nos banheiros? Quando a paróquia troca o carro de serviço, a questão ambiental é considerada ou o peso maior está direcionado unicamente para o custo-benefício?
A questão ambiental é conscientemente planejada num acampamento de jovens, num dia da igreja, numa assembleia sinodal ou em outro encontro qualquer? Ela é levada em conta na avaliação pós-evento? Ela é um item considerado primordial no planejamento estratégico? Até mesmo nos cultos, há alguma preocupação concreta com a questão verde ou nos limitamos a incluí-la nas orações de intercessão?
Quando se constrói um novo templo, local de reuniões ou casa de retiros, a obra tem preocupação com o impacto ambiental? São tomados cuidados para que o ambiente contemple corretamente ventilação, refrigeração e calefação com o uso mínimo de aparelhos que minimizem deficiências nestes aspectos, como ar-condicionado ou aquecimento central? Uma casa de retiros precisa de aquecimento central de água, em que durante um banho se jogam centenas de litros de água pelo ralo antes que se possa alcançar a temperatura desejada para um banho confortável?
Enfim, esta listinha de perguntas inquietantes poderia estender-se por muitos outros parágrafos e áreas em que nos movemos como igreja, nas nossas atividades semanais. A questão primordial, entretanto, é a do exemplo. Quem cobra, deve ao menos estar disposto a incluir o objeto de sua cobrança nas ações do seu próprio dia a dia. Quem propõe um debate como este, do tema do ano, deve tornar-se ele próprio objeto de avaliação.
Para não ficarmos, mais uma vez, somente numa prédica, ou seja, num discurso sem consequências práticas, chamo a atenção para um fantástico programa que está dando certo na Alemanha. Trata-se de um selo verde eclesiástico, chamado Der Grüne Hahn (O Galo Verde). O símbolo do programa faz referência aos galos no alto das torres das nossas igrejas. Ele está lá como um vigia, uma atalaia. O Galo Verde é uma atalaia ambiental sobre a torre da igreja.
A instituição eclesial alemã interessada em receber o selo do Galo Verde inscreve-se, elabora um programa ambiental para as suas dependências e atividades, coloca-o em prática e se submete a avaliação de observadores do Der Grüne Hahn. Há uma vistoria periódica, tipo ISO 9000, que determina se a instituição pode receber o Galo Verde e se está apta a mantê-lo de período em período. O programa está construído sobre o tripé Credibilidade — Sustentabilidade — Responsabilidade.
O ideal do projeto é desafiar a igreja a uma administração responsável com o futuro, no sentido de que a igreja que defende a Criação também executa suas ações de modo responsável ambientalmente, no sentido de manter o planeta habitável para as finuras gerações.
Coisas boas devem ser transplantadas e contatos estão acontecendo no sentido de implantar um selo parecido para as nossas comunidades e igrejas. Desde que se falou no assunto, já apareceram diversos interessados. Estamos numa fase de contato com os responsáveis pelo selo na Igreja Luterana da Baviera. Esperamos poder dar passos concretos para o ano de 2012 e contamos com a colaboração de vocês.
O autor é pastor da IECLB, diretor de redação do jornal O Caminho e editor da revista Novolhar, reside em Blumenau/SC
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