Programas de Rádio



ID: 2938

Você saber orar?

Prédica

28/07/2019

Lucas 11.1-13

Prezada Comunidade,

Os textos bíblicos dessa época do ano litúrgico nos querem orientar sobre a nossa vida cristã. Hoje ouvimos que os discípulos pedem a Jesus: “Ensina-nos a orar”(v.1). A prática da oração precisa ser ensinada. Se nós não ensinamos nossos filhos e filhas a fazer orações, eles vão aprender isso em outros lugares, através da TV ou da internet.

Este pedido dos discípulos é motivado pelo próprio Jesus. Eles veem Jesus orando, mas eles não sabem orar. Os discípulos querem que Jesus lhes ensine uma oração que os identifique seus seguidor@s. Desta maneira a oração do Pai-nosso tornou-se o símbolo de identificação cristã, assim como o Credo Apostólico tornou-se o símbolo da confissão de fé. Nós nos identificamos como cristãos na oração do Pai Nosso e no Credo Apostólico, mesmo que algumas palavras sejam um pouco diferentes de uma igreja para a outra.

Algumas pessoas não gostam de orações decoradas/repetidas, como o Pai Nosso ou de confissões de fé como o Credo Apostólico. Dizem que as pessoas só repetem palavras, sem valorizar o sentido dessas palavras. Por isso, é melhor orar de forma espontânea. No entanto, não deveríamos desprezar as orações memorizadas. O processo da aprendizagem da oração se faz pela imitação e não pela convicção. Veja a sua experiência em sua casa. As crianças que aprendem a orar em casa imitam os adultos. Elas fazem os mesmos gestos, repetem as mesmas palavras. Elas criam o hábito mais pela percepção da importância que damos à oração, do que pela convicção.

Jesus começa dizendo que ao falar com Deus, podemos chamá-lo de paizinho Isso era uma novidade. A religião judaica e o Antigo Testamento chamam Deus de Javé, de Todo-Poderoso, de Senhor do Exércitos, de Senhor dos céus e da terra. E isso não era por acaso. O Antigo Testamento tem uma preocupação muito grande em manter a Deus distante, para evitar que Ele fosse manipulado pelas pessoas. Quanto mais próximo, mais fácil seria essa manipulação de Deus. Nós podemos perceber isso hoje em dia. Uma pessoa lê a Biblia e já começa a usar passagens bíblicas a torto e a direito. Isso é manipular a Deus.

Quando Jesus ensinou a orar o Pai Nosso, ele conhecia esse cuidado para que Deus não fosse manipulável. Mas Jesus também queria ensinar que Deus está próximo e é acessível. Por isto usou a palavra Abba (paizinho, em aramaico) para se referir a Deus. Ao chamar Deus de paizinho, Jesus usa a linguagem íntima do vocabulário infantil, onde nos achegamos a Deus como crianças. Jesus nos autoriza a chamar Deus de Abbá - “paizinho, pai querido” – dizendo que para se achegar a este Deus da graça e do Reino, precisamos ser como crianças.

Infelizmente, essa forma carinhosa de chamar Deus de paizinho foi sendo substituída pelo pai do modelo patriarcal. O pai autoritário e distante, aquele que tem a última palavra, - esse pai autoritário servia melhor para o modelo de uma igreja autoritária. Desta forma, a igreja caiu na mesma idolatria que os profetas já criticavam, ao reduzir a imagem masculina de Deus para justificar o poder masculino na igreja e na sociedade.

Uma outra forma de usar mal esse título de Deus como Pai, é quando ouvimos alguém dizer: Deus é Pai. Normalmente as pessoas querem dizer com isso que elas são filhos de um Pai rico. São filhos do Rei, são príncipes herdeiros. Que o que é delas está guardado. E aí daqueles que se metem com os filhos do Rei. E a partir daí justificam a doutrina da prosperidade, que é uma manipulação humana para enganar a boa fé das pessoas..

Quando Jesus escolheu o termo, Abbá, Jesus resgatou familiaridade e intimidade no relacionamento humano-divino. Mas Jesus teve um cuidado para impedir que este Abbá fosse comparado com o pai humano e autoritário. Jesus disse que esse paizinho está nos céus. Ao dizer “Pai Nosso que estás nos céus” Jesus nos alerta que Deus não pode ser manipulado, pois mesmo sendo um Deus íntimo, próximo e familiar, ele está nos céus.

Mas, além do Pai Nosso, orações espontâneas, também são importantes. E nós – luteranos e luteranas – dizemos que orar deve ser igual a conversar com Deus. Mas a oração do Pai nosso que estás nos céus também nos quer orientar sobre o conteúdo de nossas orações espontâneas e até avaliar se as orações que encontramos na internet são ou não agradáveis a Deus.

Por exemplo, uma cena frequente é ver jogadores de futebol fazendo o sinal da cruz antes de pisar no gramado; ajoelhando-se e levantando as mãos ou apontando para o céu, depois de fazer um gol enquanto pronunciam uma oração silenciosa. Eu sempre ficava curioso para saber o que os jogadores dizem nessas orações. Descobri uma das muitas orações que diz assim: “Meu Bom Deus, que, ao entrar no campo, eu demonstre o meu valor. E sempre quando eu for jogar, que eu jogue um bom futebol. E sempre ao driblar, que meu belo lance faça a bola passar, sem que a defesa alcance. Que na falta e no escanteio, do canto ou pelo meio, que ao gol eu possa chegar. Que em todos os jogos de competição a bola venha ao meu encontro, na hora certa da decisão. Que pelo amor à camisa, eu consiga fazer o gol. Que na hora decisiva de bater um pênalti, eu seja iluminado e faça a bola entrar no fundo da rede. Deus: que o meu time jogue com garra para fazer o melhor em campo. Que o nosso técnico faça alterações com sabedoria. Que a torcida se encante com o nosso futebol e ao mesmo tempo conviva em paz com as outras torcidas. Deus, meu bom pai, proteja-nos em campo. Obrigado, meu bom Deus!”.

Contando que possa haver crentes fervorosos nos dois times que se enfrentam, e que fazem a mesma oração, como Deus resolveria o dilema de atender as orações dos dois lados? Fora o pedido para que as torcidas se encantem com o espetáculo e convivam em paz, o resto não passa pelo modelo de oração que é o Pai Nosso. Se Deus atendesse a oração das duas equipes, todo jogo de futebol terminaria empatado.

Nós já vimos que a oração do Pai nosso que estás no céu deve ser um modelo para todas as outras orações. Nós podemos orar o Pai Nosso de forma pessoal, mas não devemos esquecer que ela está falando do nosso Pai. Por isso, o que eu peço a Deus não deve ser apenas para mim. Deve ser para nós. Além disso, Jesus disse que ele estaria lá onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome. As nossas orações individuais são importantes, mas jamais deveríamos deixar o convívio comunitário e a participação nos cultos. Quem diz que não precisa ir na igreja porque ele reza em casa, pode até falar com Jesus, mas não se encontra com Jesus, porque ele está lá onde as pessoas se reúnem em seu nome (Mt 18.20). Que coisa estranha, não é mesmo? Eu quero falar com Jesus, mas não quero – ou não tenho tempo - para me encontrar com ele.

O Pai nosso que estás nos céus nos ensina que a oração sempre deve começar com Deus (que seu nome seja santificado, que o Reino de Deus venha e que sua vontade seja feita aqui na terra), e em seguida pedimos por nossas necessidades. Os nossos pedidos não devem ser egoístas, mas devem ser para que o nome de Deus seja santificado, que seu reino seja visível através desse meu pedido e que a vontade de Deus seja feita aqui na terra, como ele feita no céu. Portanto, a oração do Pai Nosso também nos orienta sobre como devemos fazer nossas orações individuais e espontâneas.

Quando se faz feijoada em casa, o primeiro passo é escolher o feijão. Não é qualquer feijão que entra na feijoada. Da mesma forma, assim também não é qualquer pedido que deve entrar em nossa oração. O que eu posso pedir a Deus em minha oração? Jesus nos deixou exemplos de pedidos que podem entrar nas nossas orações: O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Os dois primeiros pedidos falam de nossa fome, de nossas necessidades e de nossas dívidas/de nossas culpas. Pedir a Deus que nos ajude a conseguir o suficiente para viver e que consigamos nos perdoar. Isso é o suficiente. Ter as necessidades básicas de alimentação, de moradia e de saúde garantidas e ter o perdão das pessoas. O resto a gente dá conta.

Portanto, Jesus ensina os seus discípulos que é preciso saber pedir. É preciso não cair na tentação de pedir algo somente para mim mesmo. Por exemplo, tem pessoas que não basta o pão de cada dia, elas também querem carro, apartamento, querem ficar ricos, querem que Deus abra as portas e derrube todas as barreiras para que o sucesso chegue até elas. Esse pedido já foi exagerado e conforme o modelo de oração do Pai Nosso, são coisas que Deus não vai atender.

Não devemos pedir o que nós mesmos podemos resolver. Se estamos inseguros naquilo que precisamos fazer, então podemos pedir que Deus nos dê as forças necessárias para a nossa ação. Mas que o nosso pedido esteja condicionado a que seu nome seja santificado, que o Reino de Deus venha e que sua vontade seja feita aqui na terra. Nosso bem-estar deve incluir o bem estar dos que estão ao nosso redor. Temos a promessa que Deus nos atenderá naquilo que for bom para nós e para os que nos cercam. Deus gosta de ouvir as nossas orações, mas as nossas orações precisam ser orações solidárias. Amém
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52689
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Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
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