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ID: 2938

Viver como minoria

Lucas 12.32-48

11/08/2019

Viver como minoría
Lc 12.32-48

O Evangelho de Lucas traz hoje palavras cheias de afeto e de carinho, ditas por Jesus a seus seguidores e seguidoras. Muitas vezes essas palavras passam despercebidas. No entanto, volta e meia elas têm uma surpreendente atualidade. E percebemos como é importante escutar essas palavras em nossa realidade atual.

«Meu pequeno rebanho». Jesus olha com uma ternura imensa para seu pequeno grupo de seguidoras e seguidores. São poucos. São minoria. Um deles estava sempre preocupado com o dinheiro, outros estavam preocupados como que os fariseus falavam deles, outros buscando o privilégio pessoal de um lugar a direita e a esquerda de Jesus. Pedro tinha um gênio forte e um caráter de difícil convivência. João, com sua ingenuidade juvenil, parecia estar fora da realidade. A esse grupo de pessoas Jesus chama de “Meu pequeno rebanho”. Jesus olha para os seus seguidores e seguidoras não como uma multidão, mas como um pouco de fermento na massa, uma pequena luz na escuridão, um punhado de sal para dar sabor a vida.

É um engano desejar uma igreja poderosa e forte. É um engano pensar que a missão da igreja é aliar-se a um poder político para dominar a sociedade com os valores ou pessoas “terrivelmente evangélicos”. É um engano pensar a mensagem de Jesus terá mais efeito se um presidente, um governador, um prefeito, deputados e vereadores forem evangélicos. O Evangelho não se impõe pela força e nem pelos caminhos da política. O Evangelho se fortalece quando os seguidores e seguidoras de Jesus vivem o estilo de Jesus, procurando fazer a vida mais humana.

«Não tenham medo». Essa frase aparece 366 vezes na Bíblia. Poderiamos dizer: Mais de uma para cada dia do ano. Essa é uma das grandes preocupações de Jesus Ele não quer que seus seguidores(as) fiquem paralisados pelo medo, nem tomados pelo desânimo. Os governantes sabem que a melhor maneira de dominar as pessoas é pelo medo. Dizem que certa vez uma mãe começou a meter medo da escuridão no seu filho, para que ele não voltasse tarde para casa. Quando tornou-se jovem, esse menino não conseguia sair de casa a noite. Ele ficou impedido de fazer uma série de coisas à noite. O medo o paralizava. Jesus nunca incutiu medo em seus seguidores. Ao contrário, quando Jesus via que seus seguidor@s estavam inseguros e o medo lhes paralizava, nesses momentos Jesus lhes tirava o medo ao dizer: “Não tenham medo. Não fiquem aflitos. Confiem em Deus e confiem também em mim” (Jo 14. 1)

«O Pai tem prazer em dar o Reino a vocês». Jesus lembra aqui que Deus é o nosso Pai. Por isso, não somos órfãos, sem cuidados ou abandonados. Deus Pai tem prazer em confiar a nós o projeto do seu Reino. Ele quer que ensaiemos em nossas comunidades, em nossas igrejas um modo de vida mais humano.

«Vendam tudo o que vocês têm e deem o dinheiro aos pobres». Os seguidores(as) de Jesus são um pequeno rebanho, mas não devem estar preocupados apenas com seus próprios interesses. Os seguidores(as) de Jesus não devem viver de costas para a realidade. As comunidades de Jesus devem estar sempre de portas abertas. Compartilhar com quem necessita ajuda e solidariedade. Devemos sempre ser comunidades generosas e misericordiosas.

«Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração» Os povos indígenas da Amazônia dizem que aquilo que a gente gosta, isso está grudado no nosso coração. Quando Jesus menciona o tesouro, ele se refere àquilo que as pessoas dedicam a sua vida. Uma pessoa que não tem um tesouro grudado no coração, uma vida sem esperança é uma vida que não tem graça. Por isso, precisamos olhar muito bem para ver o que está grudado em nosso coração. Se os bens materiais estiverem grudados no coração, então eles imprimirão no coração a ansiedade, a inquietude e sufocam a alegria de viver. Mas se Deus e seu Reino de vida e justiça estiverem grudados no coração, então avareza, ansiedade, inquietudes não me atormentarão. Deus sabe do que precisamos (v. 30). Se buscarmos viver o Reino de Deus e a sua justiça (v. 31a), então as demais coisas da vida humana nos serão acrescentadas (v. 31b).

A gente diz que nada nesse mundo é seguro, exceto a morte (e o imposto de renda). Mas Jesus nos diz que viver conforme a vontade de Deus no presente é uma garantia de futuro. Buscar a justiça de Deus no presente e viver aberto para o futuro de Deus, é ter a promessa de que Deus nos guiará através da escuridão.

Nossos dias estão marcados por insegurança, por preocupações e por medo. A insegurança é pessoal, institucional e jurídica. As pessoas têm medo de assaltos, medo de serem traídas, medo de perder espaços e o sustento de suas famílias. Nossas autoridades veneram tanto o modo de vida dos Estados Unidos, mas também lá os dados do Departamento de Justiça dos EUA mostraram que mais de 60% dos estudantes do país não se sentem seguros na escola.

Nossa insegurança está em que algumas instituições jurídicas decidem de forma tendenciosa. Algumas de suas decisões e o cumprimento das mesmas dependem dos interesses de pessoas que têm poder.

A tecnologia trouxe o mundo para dentro de nossas casas, mas essa mesma tecnologia também levou coisas importantes para longe de nós. A convivência, o respeito, a comunhão. Rodas de conversa ao redor da mesa na casa, na lanchonete, na sorveteria, no bar, na igreja têm pouco valor e são pouco utilizadas. São descartáveis e dispensáveis. O amor tornou-se algo passageiro. O diálogo é considerado perda de tempo. A racionalidade é pouco valorizada. A afetividade perdeu o foco. Sem racionalidade, sem diálogo e sem afetividade, não há projetos de vida felizes e consistentes.
No entanto, essa realidade pode mudar. O estilo de vida de Jesus pode mudar essa realidade. Mas para isso Jesus precisa de homens, mulheres, jovens e crianças que se disponham a viver a proposta de seu estilo de vida. A vida das pessoas cristãs deve fazer uma diferença positiva no lugar, no bairro, na cidade onde elas vivem. Devemos convencer as pessoas pelo nosso exemplo.

Por volta do ano 1.000, na Europa surgiram muitos monastérios. Nessa época a Europa era um lugar de guerras, de fome, de doenças e de morte. Foi nesse tempo que surgiu a Abadia de Cister, na França. Essa Abadia (convento) tinha como norma a regra de São Bento: ORA ET LABORA. Essa regra também foi adotada pelas comunidades protestantes depois da Reforma Luterana: ORACAO e TRABALHO. Entre os cistercienses e entre os protestantes – a preguiça era um pecado. Um dos hinos que todos os protestantes do mundo conhecem é: Vamos nós trabalhar, somos servos de Deus. Você se lembra desse hino?

Os monges cistercienses começavam o dia às 3h da manhã, com um longo período de oração. Depois dedicavam-se ao trabalho no campo e ao processamento de produtos agrícolas como o queijo, a carne e o vinho. Eles tinham um bom conhecimento da medicina e também eram excelentes construtores de casas, pontes e igrejas. Os monges compartilhavam seus ensinamentos com os habitantes do lugar. Isso trazia desenvolvimento e segurança alimentar. Mas quando tudo estava indo bem, eles decidiam ir embora, para começar tudo de novo em outro lugar que necessitasse de seus conhecimentos. Era assim que eles entendiam sua missão como pequeno rebanho, como um pouco de fermento na massa, uma pequena luz na escuridão, um pouco de sal para dar sabor a vida. Para eles e depois também para os protestantes, a presença de cristãos deveria fazer uma diferença positiva no lugar.

Assim, também hoje, as nossas comunidades devem ser fermento, luz e sal – e assim transformar o clima que se vive na sociedade e tornar os relacionamentos entre as pessoas mais parecidos com o estilo de Jesus. Quando permitimos que na igreja e na comunidade se instale o mesmo ódio que existe na sociedade, quando começamos a diferenciar as pessoas entre bons e maus, entre fieis e pecadores – então estamos fazendo justamente o contrário do que Jesus espera de nós. A tarefa dos cristãos não é trazer as coisas ruins da sociedade para dentro da igreja, mas levar para a sociedade as coisas boas de Jesus. Nossa tarefa não é julgar ou atacar uns aos outros. Nossa tarefa é mostrar que os ensinamentos de Jesus são um contraponto, que existe uma alternativa e construir um mundo melhor, mas para isso é preciso começar a viver o estilo de vida de Jesus, e que vivendo o estilo de Jesus fortalecemos entre nós a paciência, o amor, a paz, a justiça a paz, a compaixão, a solidariedade. É dessa maneira que vamos fortalecer também as nossas comunidades.

Essa é a mensagem boa de Jesus, mas ele nos alerta que seguir a sua proposta pode não ser fácil. As dificuldades e os problemas são parte da vida, também da vida cristã. Jesus nos diz que os problemas e dificuldades não são castigos, mas são experiencias nas quais acabamos descobrindo capacidades e possibilidades que ainda não conhecíamos. E nunca esquecer que o tamanho de um problema é determinado pelo lugar de onde o olhamos. Podemos nos assustar diante do tamanho de nosso problema, ou podemos olhar para Deus e dizer que esse grande problema não é maior do que o nosso Deus.

A vivência do Evangelho somente será transformadora se ela for ser algo muito prática. Dar o exemplo - ser engajado - é a única maneira de influenciar outras pessoas e a única maneira efetiva de inculcar valores. Uma das coisas que cada um de nós detecta – quase que automaticamente – é a falta de coerência entre o que se diz e a maneira como se vive. Assim também as pessoas detectam nos seguidores e seguidoras de jesus se elas são coerentes em suas vidas com esses ensinamentos de Jesus ou não.

Deus procura que nós – seu pequeno rebanho – sejamos pessoas humildes que o sirvam. O Evangelho anuncia que o Senhor vem, e a forma de se preparar é desde já procurar ser cada dia um ser humano melhor. Estamos sendo chamados a florescer e não murchar ou desanimar, mas a viver ativamente conforme ao estilo de Jesus. A vida humana é um permanente recomeçar e Jesus está convidando a um novo começo.
Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 32 / Versículo Final: 48
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 52797
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