Programas de Rádio



ID: 2938

Emissoras: um megafone da Igreja para o mundo

FUNDAÇÃO ISAEC DE COMUNICAÇÃO

01/08/1988

Emissoras: um megafone da Igreja para o mundo

As Rádios União FM de Novo Hamburgo e Imigrantes FM de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, União FM de Blumenau e União FM de Florianópolis, em Santa Catarina, são os veículos da Fundação ISAEC de Comunicação (FIC), que iniciou suas atividades em dezembro de 1977 como projeto de comunicação radiofônica da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. A qualidade de vida, a valorização do ser humano, a justiça social, a preservação do meio- ambiente e a vida em comunidade são os objetivos das emissoras de rádio da FIC. Entre os seus 118 funcionários, a instituição conta também com um assessor teológico, o pastor Carlos F. R. Dreher, que está nesta função desde março de 1984. Para esta edição especial do Jornal Evangélico sobre os 100 anos de imprensa evangélica, Dreher responde a uma série de perguntas relacionadas a FIC, uma instituição bastante controvertida no julgamento das comunidades da IECLB.


JOREV: O que as emissoras FM da FIC estão conseguindo fazer em termos de comunicação que interessa à IECLB?

Dreher: Nossas rádios estão fazendo uma pequena parte do que poderiam fazer se tivessem o material humano necessário e não estivessem tão dependentes da atividade comercial. Isto significa, em primeiro lugar, que não temos investido recursos e atenção na formação de profissionais em comunicação dentre os próprios membros da IECLB. Em função disso, temos pouca gente trabalhando nas emissoras da FIC que tenham assimilado o que nos interessa em termos de participação na comunicação social em nosso país. Por outro lado, o fato de termos que sobreviver com recursos que são gerados na exploração de comerciais nas emissora coloca toda atividade radiodifusora sob o prisma da atividade comercial. Isto significa que 95% da preocupação se relacionam ao fazer dinheiro, para não sucumbir, e os outros 5% são dedicada a coisas mais nobres, como programas religiosos, culturais e de participação na comunidade civil e eclesiástica.

JOREV: Você acha que estes 5% justificam a existência destas emissoras e todo o envolvimento da Igreja?

Dreher: De jeito algum estes 5% se justificam. Se a Igreja quisesse apenas investir capital a fim de conservá-lo e fazê-lo render, haveria outros empreendimentos de menor risco e com retorno mais garantido. Como a Igreja investiu a fim de cumprir uma missão, o retorno de rendimento não será em termos financeiros, mas em prestação de serviços, inclusive missionários, que, no entanto, também deveriam ser muitas vezes maior. E também é isto que faz com que muita gente com razão questione os investimentos. Mesmo assim, é importante que a Igreja esteja disposta a correr um risco tão grande, confiando na possibilidade de mais tarde haver uma participação maior de suas emissoras no processo de comunicação social. JOREV: Para quando você prevê este mais tarde? Dreher: Tenho a confiança de que, assim que a FIC estiver livre de compromissos financeiros da sua fase inicial e que ela inicie um período em que o negócio esteja dando certo, ela então possa criar um fundo que lhe permita fazer as duas coisas: capacitar comunicadores e criar espaços para uma comunicação mais comunitária. Somos a geração sanduíche(intermediária). Vivemos no momento de reverter a história.

JOREV: O que as emissoras da FIC estão fazendo em termos de comunicação?

Dreher: Além da atividade comercial e de geração de programas de lazer (principalmente música) com finalidade comercial, estamos veiculando mensagens evangélicas para reflexão. Estes programas, mesmo que tenham conteúdo abalizado e tendendo para estimular no ouvinte o raciocínio critico, não são ainda o que se caracterizaria como comunicação cristã. Eles são o resultado de uma prática de comunicação verticalista ainda dominadora. Além disso, nós dedicamos grande parte da programação ao serviço noticioso, mesmo não tendo grande equipe de reportagem. Procuramos repassar a informação que vem de diversas fontes noticiosas, usando o prisma da ética cristã. Também damos toda prioridade às notícias da Igreja que seriam de interesse do público amplo.

JOREV: O que, enfim, diferencia as emissoras da nossa Igreja das emissoras seculares?

Dreher: Em primeiro lugar, as emissoras da FIC são uma janela da Igreja para o mundo. Ou melhor que o exemplo da janela, um megafone. A nossa Igreja tem realmente estes canais de divulgação. Em segundo lugar, as nossas rádios estão entre pouquíssimas emissoras no Brasil que têm um objetivo de comunicação; a maioria das emissoras de rádio não se preocupa com a pergunta para que e para quem existimos?

Comunicação cristã deve abrir espaço ao povo

JOREV: Que prática de comunicação é essa que diferencia as rádios?

Dreher: Comunicação social e meios de comunicação social devem ser entendidos como algo que pertence à sociedade como um todo. O que temos agora é que os meios pertencem a uma minoria privilegiada e que utiliza estes meios para agir sobre a sociedade em função de seus interesses próprios. A sociedade como tal não se comunica pelos meios de comunicação. Tentar fazer comunicação cristã neste contexto é como nadar contra a correnteza. Vai exigir de nós, no futuro, criar espaços em que realmente as necessidades de expressão do povo possam estar presentes.

JOREV: De que forma as expressões do povo podem estar presentes?

Dreher: Por exemplo, faço meditações pensando em responder as perguntas e problemas das pessoas; neste momento, porém, me coloco acima das pessoas, julgando-me capaz de decidir o que elas têm de ouvir. Poderia ser bem melhor se as pessoas viessem ao microfone e colocassem elas mesmas suas dúvidas e perguntas e que outras pessoas respondessem e contribuíssem na procura das respostas.

JOREV: Se isto é possível numa rádio FM, por que não se faz?

Dreher: Porque precisa-se de bem mais recursos e de uma melhor equipe de trabalho. Houve épocas em que se falava muito em comunicação participativa — toda a chave do projeto da Fundação ISAEC de Comunicação inclusive era a comunicação participativa —, onde a comunidade participaria na elaboração dos programas. Hoje, porém, a comunidade é apenas consumidora do que os outros veiculam. Numa dinâmica de integração do rádio na comunidade, o próprio testemunho cristão será muito mais autêntico e eficiente porque é o somatório do testemunho de muitas pessoas e não apenas de um profissional de testemunho.

JOREV: Como você classifica a programação da OASE nas emissoras da FIC?

Dreher: Este é uni belo exemplo de comunicação comunitária. É uma parcela de contribuição muito valiosa, esta que nos vem da OASE das Regiões 2 e 4, que ajuda a produzir o programa Conversando com Você. E um programa de participação da comunidade, porque um grande círculo de pessoas apressa suas opiniões e dá seu testemunho. Este vem da comunidade e responde a A FIC: tem dois estúdios de gravação em Porto Alegre, um de oito e outro de 16 canais perguntas e anseios da própria comunidade. Além disso, a OASE contribui na busca de recursos para a transmissão radiofônica. O programa Conversando com Você vai ao ar também em outras emissoras. Na União FM de Novo Hamburgo vai ao ar às 10h55; na União FM de Florianópolis, às 7h10; e na União FM de Blumenau, às 11h. Vai ao ar também em Timbó (SC) e em Estrela (RS), e em breve será veiculado nas cidades catarinense de Brusque, Joinville e Indaial.

JOREV: Carlos, o seu discurso é da prática libertadora, mas as rádios da FIC tem a maior parte da programação elitizante. Como você explica isto?

Dreher: Até agora procurei não usar a palavra libertadora, porque ela já é interpretada erroneamente. Quando falo em libertação, as pessoas já ouvem com uma conotação ideológica. No entanto, tudo o que eu estava dizendo até aqui era, na verdade, uma crítica à elitização de todo o sistema de comunicação oficializado no Brasil. Como os próprios meios de comunicação no Brasil não são sociais, porque pertencem ao Estado e são concedidos a uma minoria privilegiada, toda a atividade de comunicação obedece obviamente aos interesses e intenções de uma minoria. Por outro lado, comunicação social feita por cristãos convictos deve ter outros interesses, não os do próprio comunicador e, sim, os do povo de Deus. Comunicação deve estar atrelada à idéia do reino de Deus que nós buscamos concretizar em comunidade, e aí existem propósitos e necessidades que não são de competência de minorias, porque são as intenções de Deus para com o seu povo.

JOREV: Como assessor teológico, até que ponto você consegue influenciar na linha editorial da FIC?

Dreher: Eu represento, dentro da FIC, a nível de programação, os interesses da IECLB. Na prática, eu faço as vezes de um coordenador de programação, mas não estou ai para mandar e determinar a programação das rádios. Estou aí para elaborar com os profissionais desta área a programação. Isto é uma longa caminhada, porque é um processo de aprendizagem à medida em que se vai fazendo rádio, e se aprende errando. O meu problema maior é que sou, dentro da FIC — entre os mais de 100 funcionários, — a única pessoa destacada a se preocupar com o aspecto social religioso da programação. Obviamente temos outras pessoas que há anos trabalham conosco e que já assimilaram a nossa filosofia de trabalho. Como um destes exemplos cito Walter Mick, gerente da União FM de Blumenau. O problema é que estas pessoas têm que lutar no dia-a-dia com os problemas da administração prática e não lhes sobra tempo para se dedicar a coisas mais nobres na área da comunicação. É desgastante ter que lutar pelos recursos materiais, às vezes em detrimento de seus ideais.
 


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