Programas de Rádio



ID: 2938

Aniversário da Comunidade de Belo Horizonte

25/01/2019

Lucas 4.14-21

Prezada Comunidade de Belo Horizonte (comunidade real)
Estimados rádio-ouvintes (como comunidade virtual – temos uma média de 540 pessoas ouvintes todos dias)

Estimados irmãos e irmãs:
Vocês lembram como João Batista começou a sua missão?

No início do Ev. de Lucas, cap. 3 – João Batista menciona palavras do profeta Isaías cap. 40 bastante ameaçadoras:
Arrependei-vos porque o Juízo de Deus está próximo.
Preparai o caminho do Senhor – Deus virá julgar esse mundo.
O machado já está à raiz das árvores. Toda árvore que não produzir frutos será cortada e lançada ao fogo.
Arrependei-vos e produzi os frutos dignos do arrependimento.

Agora no cap. 4.14-21 começa a missão de Jesus. As palavras de Jesus são bem diferentes. Jesus também traz palavras do profeta Isaías, mas agora do cap. 61.
Jesus diz: O Espírito de Deus está sobre mim pelo que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor.
E Jesus termina dizendo: A partir de hoje isso vai começar a acontecer.

Jesus aplica para si mesmo essas palavras do profeta Isaías. Ele diz que ele é uma pessoa ungida. O que será que quer dizer isso? Você já foi ungido alguma vez? Penso, por exemplo, se você como padrinho, madrinha, pai ou mãe foi ungido com óleo na celebração do Batismo de uma criança. Ou então, sendo eleito para alguma função de liderança na Comunidade, você foi ungido com óleo no culto de investidura.
Ungido é a pessoa que sabe o que Deus espera dela. Ele reconhece a tarefa que Deus colocou em suas mãos e espera que Deus a ajude a cumprir essa tarefa. O que Deus espera de Jesus é o mesmo que Deus espera de nós, isto é, atitudes são bem concretas:
- evangelizar os pobres
- proclamar libertação aos cativos
- restaurar a vista aos cegos
- colocar em liberdade os oprimidos
- anunciar o ano aceitável do Senhor – isso é – anunciar um tempo de transformação, um tempo de reconstrução.

A vontade de Deus não pode ser semeada e ficar estéril dentro do nosso coração. Se a Palavra de Deus ficar apenas no meu coração ela murcha, seca e morre. Portanto, a palavra de Deus para permanecer viva ela precisa de ar livre, ela precisa ser aplicada no dia a dia. Deus deu a tarefa para Jesus de ser um construtor de esperanças. E a oração que cada um de nós deveria fazer é perguntar-se constantemente: O que Deus espera de mim hoje.
Portanto, a tarefa da igreja de Jesus Cristo é tornar viva a vontade de Deus. Não só em palavras, mas em atitudes.

Essa semana que passou – especificamente na última sexta-feira passada, dia 25 de janeiro e no dia de hoje 27 de janeiro, estamos celebrando o aniversário de fundação e re-fundação da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte.

Há 86 anos atrás, o pastor Viktor Schwanner que era pastor em Juiz de Fora(MG) e resolveu vir a Belo Horizonte para fazer uma visita aos evangélicos alemães para tratar da fundação de uma igreja luterana. Ele passou uns 10 dias fazendo visitas e no dia 25 de janeiro de 1933, às 19:30h, aconteceu o primeiro culto na Igreja Batista do Barro Preto. Umas 70 pessoas estiveram presentes naquele culto. Depois do culto, o pastor Schwanner e umas 40 pessoas foram até a rua Juiz de Fora, para o prédio da Cervejaria União de propriedade do sr. Guilherme Griese e ali aconteceu a Assembleia de fundação da CECLBH. Oficialmente nossa igreja não começou no culto, mas na cervejaria. A promessa do pastor Schwanner era que a Igreja da Alemanha enviaria um pastor para Belo Horizonte. Depois ele voltou para Juiz de Fora.

Toda história é feita de momentos altos e baixos. Aqui em Belo Horizonte não foi diferente. Depois que o P. Schwanner voltou para Juiz de Fora, foi se desenvolvendo aqui um conflito sobre o objetivo de uma Igreja Evangélica Luterana. O conflito era sobre a missão da Igreja:  Evangelização e trabalho social. O professor de alemão Dr. Karl Dressler lembrava que Martim Lutero insistia que igreja e escola devem andar juntas. O professor Dressler tinha vindo do Sul do Brasil e lá muitas igrejas evangélicas-luteranas eram assim: durante a semana o espaço da comunidade era usado como escola e nos domingos esse mesmo espaço era usado para o culto. O Sr. Griese – no entanto - dizia que a igreja só devia cuidar do espiritual e que escola deveria ser a preocupação de outras pessoas. Na votação a maioria das pessoas apoiou o sr. Griese e com isso o professor Dressler saiu da igreja.

A igreja alemã demorou um pouco para enviar um pastor para Belo Horizonte, por isso, o pastor Schwanner continuava vindo a Belo Horizonte de três em três meses.

Somente em novembro de 1933 chegou o pastor Walter Schlupp – que foi o primeiro pastor para Belo Horizonte. Ele tinha a tarefa de organizar as atividades da comunidade como o culto de adultos, o culto infantil, visitar os membros, publicar o boletim informativo e criar uma escola bilingue. O sr Griese voltou atrás e aceitou a construção do modelo igreja-escola. Depois de um ano o P. Schlupp não quera mais ser pastor. Ele queria ser somente professor. Mas a Igreja alemã não aceitou isso e enviou o P. Schlupp para a Comunidade de Teófilo Otoni e para Belo Horizonte veio um novo pastor da Alemanha chamado Alfred Busch.

Foi no tempo do Pastor Busch – entre os anos de 1935 até 1940 que se construiu o prédio de dois andares da Escola Alemã, no centro da cidade de Belo Horizonte, na rua Tupis 723. O prédio ficou pronto em 1940. Durante a semana era uma escola bilingue e no domingo se celebravam os cultos.

No entanto, em 1942 o Brasil entrou em Guerra contra a Alemanha. Os pastores Schwanner de Juiz de Fora e Busch de Belo Horizonte foram presos e levado para a Penitenciaria Agrícola de Neves.  O dinheiro no depósito bancário da Comunidade de 33 contos de reis - foi confiscado e só devolvido em 1951. O prédio recém construido da Escola Alemã na rua Tupis também foi confiscado pelo exército - e não foi devolvido até hoje.

Alguns alemães daquele tempo, com medo de perseguição política,  chegaram a lavrar em cartório sua renúncia a fé evangélico-alemã. A igreja evangélica luterana de Belo Horizonte – com menos de 10 anos de existência - se extinguiu em 1942.

Depois que os pastores foram soltos em 1944, o pastor Schwanner resolveu ficar em Belo Horizonte e mesmo sem igreja, sem escola, sem comunidade – ele resolveu começar tudo de novo. Por isso, a Comunidade tem duas datas de fundação: a primeira no dia 25 de janeiro de 1933 e a refundação da Igreja no dia 27 de janeiro de 1946.

A reconstrução da igreja luterana foi um processo muito difícil. Ainda hoje nós temos essa tarefa. Somos uma igreja pequena com 250 membros. Mas, apesar das dificuldades os nossos antepassados aqui em Belo Horizonte tinham uma preocupação constante: Se ouvimos a Palavra de Deus, como podemos ajudar as pessoas do lugar onde vivemos?

Portanto, fé e ação sempre foram as marcas dessa Comunidade de Belo Horizonte. Hoje dizemos Evangelização e Diaconia  e aqui em Belo Horizomte temas a Igreja/Comunidade e a Instituição Beneficente Martim Lutero (IBML). Comunidade e IBML são as duas pernas que fizeram essa igreja caminhar até hoje.

No 2000 foi criado a logomarca da Comunidade e da IBML com o nome Luteranos. Se olhamos para a logomarca vemos o desenho do nosso templo atual, - a igreja da Paz - com as duas portas abertas. Porta aberta é sinal de convite, de abertura. Mas porta aberta de uma igreja também significa que não somos um convento, que não devemos ser cristãos somente dentro da igreja, mas nossa tarefa - depois de ouvir a Palavra de Deus - é sair da igreja e ser bons cristãos no dia a dia. Jesus quer te alimentar a nossa fé com sua Palavra e Sacramentos, mas é fora da Igreja que Jesus quer ver os frutos de nossa fé.

Uma das coisas mais importantes em Martim Lutero foi sua insistência na coerência entre fé e vida. Nunca deveríamos separar a nossa fé das nossas atitudes e dos nossos pensamentos. Nós não podemos deixar a fé dentro da igreja no domingo e viver os dias da semana como se Deus não existisse. Devemos cuidar para que nossas atitudes sejam coerentes com a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

Quando saímos da igreja, depois do culto, Jesus espera que nós vivamos a nossa fé promovendo o cuidado, a solidariedade, a justiça, a diaconia. Sem isso, qualquer fé torna-se perversa e maldosa. Fé sem amor não torna as pessoas boas, mas faz delas pessoas maldosas e perversas. Foi por causa da fé sem amor que as pessoas saíram de suas casas para crucificar a Jesus.

Jesus aposta no poder do amor. Não no poder militar, econômico, político – nem mesmo no poder popular. Se queremos ser seguidores de Jesus devemos apostar no poder do amor. Esse é o novo espirito que Jesus traz a esse mundo. O que fortalece a minha fé e o que ainda não me deixa desesperar nesse mundo é saber que sempre que esse espírito do poder do amor estiver presente, ali ainda pode acontecer transformação, perdão, reconciliação e possibilidade de reconstrução. Quando o Espirito de Deus está presente, lá as forças do mal começam a recuar.

Portanto, nesses tempos de aniversários -  devemos lembrar as histórias daqueles que nos antecederam na fé evangélico-luterana aqui em Belo Horizonte. Lembrar e contar as histórias de nossa família, de nossa igreja nos faz reconhecer que até aqui nos trouxe Deus. Contar essas histórias também nos torna pessoas conscientes que nos dias de hoje, Deus também confiou a nós a continuidade de sua missão aqui nessa parte das minas gerais – ou em qualquer outro lugar que estivermos.

Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50836
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