O mês de novembro lembra Finados, bem como a proximidade do final de ano que se associa a muitas atividades. Soma-se a tudo isto as turbulências advindas da economia, no sobe e desce das bolsas de valores. Há inquietações, especulações, preocupações quanto ao presente e o futuro da humanidade. As crises perpassam as relações e, a criação de Deus como um todo, sofre e geme dores insuportáveis. Soa a pergunta: para onde vamos?
O lema bíblico deste mês traz uma proposta para a crise que vivemos: “Se abrires a tua alma ao faminto, e fortaleceres a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia”. (Isaías 58.10) O profeta parece ser simplório para a complexidade de nossas estruturas sociais. Mas veja só a situação do seu povo. A tradição do jejum visava o bem estar de cada israelita. O jejum preserva não só a saúde bem como uma sociedade que sabe partilhar as suas riquezas junto aos empobrecidos. No entanto, o jejum se tornou numa prática egoísta, proporcionando rixas e contendas entre a comunidade. Deus não aprova este tipo de jejum. O que Deus deseja é que se acabe com todo o tipo de escravidão, que se reparta a comida com os famintos (Is 58.6-7) No Novo Testamento o próprio Jesus vai dizer em Mateus capítulo 25: “O que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos a mim o fizestes”. No livro de Tiago 1.27 nos é dito que a verdadeira religião que agrada a Deus é assistir os órfãos e as viúvas nas suas tribulações.
O que presenciamos no mundo é um verdadeiro engano. O foco centraliza-se na produção, competição, especulação. As pessoas são vistas apenas como consumidores. A própria religião atrela-se cada vez mais as necessidades do consumo. É preciso desfazer-se deste engano, mudar o foco. A Palavra de Deus chama esta atitude de conversão. A verdadeira religião, uma autêntica espiritualidade volta-se para uma relação de solidariedade, na busca de considerar o outro nas suas diversas necessidades. Deus nos fez para viver na parceria quer seja com ele próprio e com o nosso semelhante. O que vemos é uma adulteração da essência do ser humano. Estamos ficando estranhos nas nossas relações. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que precisamos uns dos outros. Verdadeiramente estaremos bem quando o outro também possa regozijar-se. A conversão que Deus espera é um voltar-se para o Criador, cuja conseqüência dar-se-á no encontro conosco e com o outro. A restauração desta parceria fará com que a “... escuridão será como meio dia” para todos.
Rogamos a Deus para que as turbulências sejam geradoras de uma reflexão e busca do verdadeiro sentido da vida. Que o nosso jeito de ser Igreja possa acolher estes desafios deste momento e ser uma luz tão esperada para toda humanidade diante das crises deste século. Que possamos estar diante das dores de parto para o nascimento de um novo jeito de nos organizarmos como povo. Oxalá, que estejamos a sentir também ventos favoráveis para restabelecer a verdadeira amizade com o Criador e entre as suas criaturas.
P. Werner Kiefer
Matriz – Porto Alegre