Nesta semana, vivemos no Brasil o episódio da conquista do campeonato mundial de futebol. Parece que todos os segmentos da sociedade nacional vivem sob impacto da glória da Seleção Brasileira. A conquista do penta provocou enorme euforia. Queremos mais? A paixão de nossos conterrâneos pelo futebol, esporte integrado na cultura de nosso povo, tornou-se o grande agente para a confraternização espetacular em todo o País. É gente sambando, batucando, soltando o grito da vitória. Uma esperança a mais na alma do povo foi satisfeita..
Não haverá, porém, de demorar e o torcedor deixará de usar, com orgulho, a camisa verde-amarelo. Aos poucos, serão recolhidas as bandeiras e as fitas decorativas com as cores nacionais. A mídia deixará de conceder espaços generosos para notícias procedentes do Japão e da Coréia do Sul. O cotidiano, em breve, ficará desprovido das coreografias animadas nos gramados e estádios.
Deparei-me, na seção de opinião da Folha de S. Paulo, com uma frase de efeito. Dizia assim: Vencer é ótimo, mas ser sempre capaz de vencer é mais significativo. Ganhar é bom, mas a glória da conquista passará logo, assim como a fumaça é levada embora pelo vento.
A euforia é passageira. Restou o circo. Ele diverte, provoca risos de alegria e até esperança. Quem sabe o hexa, em 2006!
Agora, a vida continua. Restou o circo, a saudade da festa. O pão alimento acabou há tempo. A vida justa e digna foi driblada, como se fosse uma ação de gênios, gênios da mentira, da corrupção, dos especialistas em busca de ambições pessoais.
O Brasil do circo e da carência de pão pertence ao mundo criado por Deus. O povo brasileiro, driblado pelos poderes que promovem a violência e têm prazer na morte, é povo amado por este mesmo Deus. É povo especial, santificado, eleito, chamado a participar de um novo projeto de esperança.
Apesar de nossa pequenez e perdição, apesar dos lábios impuros (Is.6,5) que marcam nossa vida, a vocação dos/as cristãos/ãs nos desperta e encoraja à denúncia e ao anúncio da Boa Nova. Não será nem o penta nem um futuro hexa, a quem creditamos a esperança de uma novidade de vida, de fato. O novo dia, em que o efeito da justiça serão a paz e a esperança (Is. 32.17), já se vislumbra. Será um novo amanhã, que não é transitório. Em meio à realidade da carência de pão, o vigor para essa novidade se fundamenta na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. O grande projeto do futuro é o projeto da esperança; seu ponto culminante: o reino de Deus.
Na qualidade de liderança e de guia do Sínodo Norte Catarinense (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) recém-eleito e investido, sentimo-me motivados a pôr mãos à obra. A tarefa de concretização do projeto de esperança é de todas as pessoas.
Deus conta com nossa participação. Para tanto, Ele limpa nossas mãos, às vezes tão desajeitadas; Ele purifica nossos lábios impuros. Deus mesmo promove os acertos e a limpeza. É Ele quem nos coloca como pessoas humanas a serviço da palavra da verdade (Is 6.8). E nosso projeto torna-se, então, projeto de esperança desse Deus que prioriza estar próximo de sua criação e de suas criaturas.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 05/07/2002