É quarta-feira de noite e o cheiro de chá já se espalha por toda a casa. Sobre a mesa estão retalhos, botões, agulhas, linhas, uma colcha já começada, bolo de chocolate, xícaras e chá e uma vela lilás.
Aos poucos elas vão chegando. Entre abraços, carinhos e histórias, o lugar vai se tornando um espaço sagrado. Unidas em oração, elas se colocam diante de Deus assim como são e pedem por um tempo diferente. “Espírito de Deus toma conta de mim...”cantam elas. Ao redor da mesa são todas iguais. Escondidas atrás de retalhos de tecidos coloridos, elas repartem suas alegrias e suas tristezas. Sorrisos, lágrimas, lamentos e sonhos se misturam e, assim como os retalhos, vão sendo costurados em novas combinações e formas. A esperança solidária vai aliviando o coração e trazendo paz e alegria.
É ao redor de mesas comuns, em casas comuns, que mulheres comuns e ao mesmo tempo absolutamente extraordinárias, vão fazendo história e vivendo o Dia Internacional da Mulher. São vidas repartidas, dignas, solidárias, justas e alegres.
As mulheres sabem que nem tudo é bonito em suas vidas. Há também dores, desilusões, preocupações, dúvidas, culpa, vergonha, medo. Mas tudo isto se torna mais leve quando a carga é repartida, quando os fatos são vistos sob uma nova perspectiva, quando percebem que a vida pode ser costurada de maneira diferente. E aí... sai de baixo! Quando as mulheres encontram sua voz, seu talento, sua coragem, elas agem com ousadia e com dedicação deixam Deus as transformar e transformam o mundo ao seu redor!
Sabemos que muito já foi conquistado com suor, lutas e sacrifício. Por isso honramos e agradecemos aquelas que vieram antes de nós. Nos deixaram um legado de sabedoria e de luta. Sabemos também que celebrar o Dia Internacional da Mulher nos ajuda a lembrar (como se isso fosse necessário) que vivemos num mundo de homens: são eles a norma, são eles os chefes da família, são eles quem detém o poder. Mas nós mulheres trabalhamos lado a lado com nossos companheiros que entendem esta luta, para que o mundo seja mais bonito e mais justo.
Para a maioria das mulheres no mundo a vida continua sendo cruel e sofrida. Carregam água sobre a cabeça por quilômetros todos os dias; são responsáveis pela alimentação, educação e bem estar da família; não têm renda própria e quando têm não podem decidir o que fazer com ela; sofrem violência doméstica e discriminações de todo o tipo, independentemente de classes social, etnia ou nacionalidade.
Celebrar o Dia Internacional da Mulher não é uma questão de escolha pessoal. É um gesto profundamente cristão. É uma opção política e teológica de colocar-se ao lado da luta por justiça e igualdade de direitos, luta esta que causou a própria morte de Jesus Cristo na cruz.
Celebrar o Dia Internacional da Mulher nos faz lembrar que a libertação se encontra nas marchas, nos protestos, nas ações e decisões políticas. Mas libertação também acontece ao redor das mesas comunitárias, regadas a chá, café e fatias de bolo de chocolate, repletas de retalhos de tecido, linhas e agulhas.
Pa. Ms. Marcia Blasi
São Leopoldo, RS