No dia 8 de março, dia internacional da mulher, convido para acendermos uma vela lilás por todas as mulheres que deram suas vidas por um mundo melhor, e por outras tantas que dedicam suas vidas na construção de uma sociedade mais irmanada. Também nas nossas comunidades, as mulheres, parceiras dos homens, são força criadora e criativa de nossa Igreja.
Vela acesa. Em oração pedimos ao Pai que derrame sua bênção amorosa sobre as mulheres, para que continuem sendo fortes em toda sua fragilidade. Que derrame sua bênção também sobre os homens, parceiros de caminho e construção de um novo tempo de justiça e paz. Dedico a elas este texto:
Quando uma mulher fez Jesus mudar de idéia
Das histórias sagradas sabemos o nome de uma e outra rainha e de duas ou três profetizas. Mas de muitas mulheres que aparecem nas histórias bíblicas não sabemos o nome. Algumas aparecem por pura teimosia, por isso, foi impossível deixa-las de lado.
Uma dessas histórias é de uma mulher nascida em Canaã. Não sabemos o seu nome, nos é apresentada como alguém que veio gritando para conseguir a atenção de Jesus. Ele e seus discípulos estavam na região de Tiro e Sidônia, e se a mulher era Cananéia então era estrangeira naquele lugar.
Sabemos pelos relatos bíblicos que, nas tradições da época, ser mulher já era considerado um fardo. Nos sensos não era nem incluída. Veja, por exemplo, o que acontece na contagem daqueles que comeram na tarde da multiplicação dos pães, “os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças” (Mateus 15.38).
Ser mulher e estrangeira era, portanto, um fardo duplo. Ela tem consciência desse seu status ou da falta dele, mas lança-se na direção Daquele que era a última esperança para a sua filha doente. E, aos gritos, vai chamando atenção das pessoas para a sua dor. Nem os discípulos agüentaram! Devem ter pensado que era mais uma histérica correndo atrás do Mestre.
Ela tem em casa uma filha muito doente que é apresentada como uma menina que está possuída por espíritos estranhos. Estar possuído significava estar tomado por uma força sobre-humana que maltrata e faz a pessoa parecer um animal, talvez seja o que conhecemos hoje epilepsia. Algo assustador, uma força que joga no chão, faz revirar os olhos e dizer palavras desconexas. “Senhor, tem piedade, minha filha está sendo atormentada por um demônio”, grita a mãe desesperada. Os homens que caminhavam ao lado de Cristo, os seus discípulos, parecem não ter muita paciência. Eles querem afastar aquela mulher de perto do seu mestre. Eles se mostram pouco sensíveis. Mas é uma mulher persistente, corajosa. É teimosa e não se importa com o que aquela gente está pensando. Ela crê naquele homem e pede a sua ajuda.
Essa mulher está sedenta por carinho, buscando um olhar que dê dignidade. Ela se aproxima esperando um gesto, uma palavra, um sinal.
Jesus não a manda embora, mas silencia diante do seu pedido. A resposta dele para a mulher é dura. Primeiro silencia, depois diz: Eu vim somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel. Somente para os judeus e não para gentios e pagãos. A mulher nem deveria estar ali aos gritos chamando a atenção de todos. Deve ser louca! Diziam alguns.
Além de parecer escandalosa, a mulher era estrangeira, e os discípulos acreditavam que só os judeus deviam chegar perto de Jesus. Tudo conta contra a mulher. Ela é atrevida. Aquela mulher (que não era do povo judeu) reconhece em Jesus a sua última esperança. Ela crê. Ela não desanima, insiste, arrisca tudo. “Senhor ajuda-me!”.
Então Jesus é mais duro e diz: Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cães. “Então, me dê as migalhas”, diz a mulher em súplica. E, nesse momento, essa mulher anônima convence Jesus, o faz mudar de idéia. Se antes, Jesus sentia se enviado somente para o povo de Israel, aqui ele abre um precedente e se deixa convencer, se deixa seduzir pela fé dessa mulher. “Mulher, grande é a tua fé! Seja feita a tua vontade”.
Nesse encontro com o sublime, quando podemos reclamar, chorar toda lágrima para, depois, nos alegrarmos novamente é que nossa parte humana encontra com a parte divina que há em nós e nos tornamos fortes na fraqueza.
Mensagem enviada pela Pª Vera Cristina Weissheimer em colaboração com o Fórum de Reflexão da Mulher Luterana