No dia 8 de março, dia internacional da mulher, convido para acendermos uma vela lilás por todas as mulheres que deram suas vidas por um mundo melhor, e por outras tantas que dedicam suas vidas na construção de uma sociedade mais irmanada. Também nas nossas comunidades, as mulheres, parceiras dos homens, são força criadora e criativa de nossa Igreja.
Vela acesa. Em oração pedimos ao Pai que derrame sua bênção amorosa sobre as mulheres, para que continuem sendo fortes em toda sua fragilidade. Que derrame sua bênção também sobre os homens, parceiros de caminho e construção de um novo tempo de justiça e paz. Dedico a elas este texto:
Mulheres abrem portas em paredes fechadas
Nós sabemos que, se preciso for, as mulheres pintam céus azuis nos dias mais nublados de suas vidas. E se a meada dos fios que tecem se embaraça, elas pacientemente desmancham e começam a fiar outra vez. Se a colheita se perde, elas fazem outra semeadura. Elas são capazes de desenhar portas abertas em paredes fechadas. São capazes de abrir frestas em muros altos para poder respirar e continuar acreditando na vida.
É preciso ousar sempre. Algumas vezes é preciso ser a primeira a dar o passo para abrir novas portas. Se hoje há mulheres rabinas e pastoras que ocupam os altares é porque houve uma pioneira.
A primeira médica a se formar no Brasil, por exemplo, foi Rita Lobato Velho Lopes, em dezembro de 1887, na Faculdade de Medicina de Salvador, na Bahia. Em 1928, aos 32 anos, Alzira Soriano é eleita a primeira prefeita da América do Sul, numa cidade do Rio Grande do Norte. Em 1933 é eleita a primeira deputada federal: Carlota de Queiroz, de São Paulo. As duas conquistaram seus cargos antes mesmo de haver o voto feminino no Brasil. Ele só viria, depois de um forte movimento, com a promulgação da Constituição de julho de 1934.
As mulheres conseguiram grandes avanços no mercado de trabalho, mas ao chegarem em casa há um mundaréu tarefas que esperam por elas. E o mais interessante é que são elas que educam os meninos que se transformam em homens. Talvez esteja aí o segredo para que outras mulheres tenham uma melhor sorte do que quem se desdobra em mil tarefas com dois braços: educar de forma mais inclusiva. Está, em grande parte, nas mãos das mulheres mudar essa cultura ainda tão machista.
No livro de Números encontramos uma passagem inspiradora (Números 27.1-11) de uma sociedade patriarcal que é veementemente questionada por cinco mulheres. Por ocasião da morte do pai das irmãs Maalã, Noa, Hogla, Milca e Tirza, ocorre um grande impasse. Elas não têm irmão. O pai é um certo Zelofeade, chefe de uma tribo dentro do clã de Manassés. Todas as questões relacionadas às regras de convivência devem ser levadas à assembleia dos anciãos, do sacerdote Eleazar e de Moisés. Mas como? Às mulheres é proibida a participação em qualquer atividade pública e, principalmente, naquelas que discutem questões relacionadas ao poder. Se elas não podem entrar lá, como Maalã e suas irmãs vão chegar até quem pode ouvi-las?
Elas, correndo o risco de perder as terras da famílias, se organizam e vão à porta da congregação para reivindicar o direito à herança deixada pelo pai. Se intrometem na história e nas leis. Elas dirigem-se aos chefes fazendo com que lembrem de como o pai sempre fora fiel a Deus. Moisés ouve a argumentação das filhas de Zelofeade, que não veem razão para perder a terra por não haver um homem entre elas. Moisés recolhe-se para meditar e ouve Deus dizendo: Estas mulheres estão certas, elas têm esse direito de tomar posse da terra de seu pai. A terra lhes pertence. É seu direito. É justo que se passe a herança para elas.
Ter a posse da terra significa que elas podem participar também das assembleias e das decisões políticas. Elas realmente metem o nariz onde não são chamadas e se fazem ser ouvidas. Muda-se a lei, e a partir de então a herança fica com o parente mais próximo. Já não se questiona se é homem ou mulher. A coragem e a determinação dessas mulheres abrem uma nova maneira de ver o mundo entre os israelitas.
As mulheres abriram um precedente. Elas abriram uma porta numa parede fechada, humanizaram a lei e foram incluídas.
Mensagem enviada pela Pª Vera Cristina Weissheimer em colaboração com o Fórum de Reflexão da Mulher Luterana