Missão com Mulheres


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História de vida de Siegried Loeblein

Em comunhão com as viDas das mulheres

13/10/2014

Nome: Siegried Loeblein
Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo
Comunidade: Porto Velho
Paróquia: Porto Velho
Sínodo: Sínodo da Amazônia

Siegried Loeblein, nascida Stolte, nasceu a 20 de outubro de 1941 na cidade de Cruz Alta/RS. É casada com Romeu Loeblein e mãe de Carla Loeblein Rios. Sua profissão sempre foi costureira, e hoje é aposentada. Segundo ela, estudou “apenas meio ano”; o que aprendeu depois “foi sozinha e com os pastores que passaram pelas Comunidades em que fui membra”. Relata que gostava muito de ir à aula, mas naquele tempo para uma mulher isso era mais difícil. Atualmente reside na cidade de Candeias do Jamari/RO, Sínodo da Amazônia, com sua família. Sua história na IECLB começa com o Batismo, pois é filha de pais luteranos. Desde criança sempre participou, junto com seus pais, nas atividades da Igreja.

Em 1945, com 3 para 4 anos de idade, mudou-se para a cidade de Iraí/RS, para uma vila situada a 18 km de Iraí que se chamava Farinhas e hoje pertence ao município de Alpestre/RS. Naquele tempo não havia estrada, nem pontes, somente “picadas” e mata fechada. Lá chegavam muitas famílias de imigrantes de outras localidades, como Lajeado, Ibirubá, Canela, São Sebastião do Caí, Gramado, São Leopoldo, Taquara, todas do Rio Grande do Sul.

Desta migração surgiu, no dia 10 de maio de 1946, a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Farinhas. O primeiro culto foi celebrado pelo pastor Augusto Ernesto Kunert, da cidade de Palmitos/SC. Os cultos eram realizados nas casas, mas logo viu-se a necessidade de construir uma igreja e também um cemitério e formar, assim, a primeira Diretoria da Comunidade; seu pai, Etvino Stolte, foi eleito tesoureiro. A Comunidade ficou filiada à Paróquia de Iraí/RS. O caminho para Iraí era de canoa pelo Rio Uruguai ou, então, pela “picada” (um tipo de trilho por entre a mata). Em 1948, começou o trabalho de mutirão dos membros, derrubando árvores, serrando madeiras à mão, fazendo pinos e colocando os pregos. “Nesse ritmo, em 12 de novembro de 1950 foi inaugurada a 1ª igreja com um delicioso churrasco”, conta.

O atendimento pastoral era feito pelo mesmo pastor Ernesto Kunert, que vinha de cavalo da cidade de Palmitos/SC, atravessando o Rio Uruguai em uma balsa. O cavalo ficava no lado de Santa Catarina, e uma nova montaria era trazida de Farinhas por um membro do Presbitério, que conduzia o pastor até a localidade.

Com 9 anos de idade, entrou no Ensino Confirmatório. Ainda não havia Culto Infantil ou Escola Dominical. Quem realizava os encontros era o pastor Godofredo Boll. O pastor lhe deu uma tarefa que muito lhe agradou: “Ajudar a arrecadar dinheiro para a Obra Gustavo Adolfo, junto com outras crianças da minha idade. Ainda hoje guardo o meu 1° quadro que ganhei de presente”. A Confirmação foi em 1954, realizada pelo pastor Manfred Hasenack. Todo o ensino transcorreu em língua alemã. Após a Confirmação, começou a participar da Juventude Evangélica.

Em 05 de outubro de 1959, foi fundado o Grupo de OASE. Sua mãe foi uma das fundadoras. A Comunidade passou a ser atendida pelo pastor Arno Wartschow. O grupo era coordenado por uma senhora chamada Augusta Daenecke, de nacionalidade alemã. As mulheres se reuniam todos os domingos à tarde para estudo bíblico, ensaio de cantos, ensaio de peças de teatro, programas de Natal, onde Siegried também participava.

Também no ano de 1959, foi realizado o 1° culto de kerb. Havia mais ou menos 200 pessoas presentes. Após o culto, a banda de música já começava a tocar, juntamente com uma pequena orquestra, formada por membros da comunidade, que se chamava Orquestra Nienow. Em 1964, a Vila de Farinhas foi desmembrada de Iraí e passou a pertencer ao novo município de Alpestre. Em 1963, foi lançada a pedra fundamental de uma nova igreja de alvenaria, que foi inaugurada no ano de 1967. Nesse ano a Comunidade já contava com 100 famílias. Após um período de acentuado crescimento, houve uma estagnação devido ao grande êxodo rural. Muitos migraram para a cidade, principalmente para Farroupilha/RS e regiões calçadistas, em busca de uma vida melhor fora do campo.

Em 1976, ela casou e começou a participar do Grupo de OASE. Foi eleita tesoureira. Siegried conta que era muito tímida. Acredita que por falta de conhecimento, já que tinha estudado somente meio ano. Mas este não foi problema: uma grande ajuda veio pelo pastor Gastão Breunig. Começaram, então, as promoções: galinhadas, chás, etc. Todos os anos no aniversário da OASE era realizada uma festa para arrecadar dinheiro. Era preciso equipar a cozinha. Ela conta que “as mulheres realmente puxaram a frente das promoções também para a Comunidade, e logo foi comprado o sino para a igreja. Mais tarde os bancos, e assim por diante”. Esse envolvimento foi muito importante para o futuro de líder, como veremos.

Além das reuniões mensais com o pastor, ela convidava mulheres para ensaios de cantos, além de ensaios de jograis para datas como Natal e Páscoa. Tudo isso acontecia na sua casa aos sábados à tarde. Seu marido era caminhoneiro e se ausentava muito de casa. Tomavam chimarrão, o bolo alguém sempre providenciava, e também conversavam sobre o culto de final de ano. Neste período era difícil para o pastor vir seguidamente ao interior porque também atendia outras localidades. O culto era realizado uma semana antes ou depois dos dias especiais. Conta que as mulheres da OASE resolveram fazer sua própria programação, e a Comunidade gostou. Tudo era feito em língua alemã porque a maioria não sabia falar português, principalmente as pessoas de mais idade.

Em 1977, os cultos começaram a mudar: a liturgia era em alemão e a prédica em português ou vice-versa, e mais tarde era tudo em português. Para as mulheres essa mudança foi difícil, pois tinham que aprender a liturgia, orações, cantos. As traduções, às vezes, não combinavam. Pior foi para o Grupo de OASE. As mulheres de mais idade “perderam o gosto, mas nas reuniões que fazíamos na minha casa continuava tudo em língua alemã”. Em 1981, chegou o Culto Infantil. Acontecia todos os domingos. “A encarregada desse trabalho na Comunidade era eu”, conta com certa saudade desse tempo.

Em 1983, acontece a terceira mudança. Foram morar no município de Iraí/RS. Isso foi um grande choque para o Grupo de OASE de Farinhas, que sentiu sua falta. Ela ingressou no Grupo de Iraí. Era tudo diferente. Conhecia poucas pessoas. Quem exercia o pastorado era a pastora Louraine Christmann, mais conhecida como “Lola”. Logo foi eleita coordenadora paroquial e, em 1985, secretária do Grupo de OASE. Ela adorou ser coordenadora paroquial. O trabalho era muito gratificante para ela e também para as mulheres do interior. Juntamente com a pastora Lola, começaram a trabalhar a valorização da mulher fora e dentro da comunidade. Ainda havia muito preconceito em relação à entrada de mulheres na Diretoria e à sua participação nas reuniões da Comunidade. Conta que, no início, algumas foram convidadas a se retirar. Nesse período, começou a participar dos congressos distritais e regionais. A OASE de Iraí também começou a fazer visitas aos membros que não podiam mais sair de casa, aos doentes, internados em hospitais, enlutados, etc., tudo sob sua coordenação.

Em 1986, foi mais uma vez pioneira: “Comecei com um programa de rádio, na Rádio Marabá AM, que se chamava ‘“Hora Evangélica’, que era feito em alemão, e quando o pastor não podia fazer o programa normal em português, eu o apresentava”. Esse trabalho de rádio foi muito gratificante para ela. Conta que gostou de “poder levar a palavra de Deus para pessoas em tantas outras cidades, e, por ser em alemão, era um programa muito ouvido por pessoas idosas e também de outras religiões”.

Mais uma vez pioneira entre as mulheres, foi estudar. De agosto de 1994 a junho de 1996, participou do Curso de Teologia Popular (CTP) e do Curso de Liturgia e Ofícios do ICTE (Instituto de Capacitação Teológica Especial), esse com 76 horas/aula, no Distrito Uruguai (hoje Sínodo Uruguai), no CEFAPP, na cidade de Palmitos/SC. Em Palmitos, tomou gosto pela PPL (Pastoral Popular Luterana) e pelos Encontros Internacionais da Mulher, sempre realizados nos dia 8 de Março. Um dos seus incentivadores foi o pastor Valdemar Witter. Em 1997, entrou para a Diretoria Paroquial como vice-tesoureira. Uma mulher ocupa espaço entre os homens. Também em 1997, foi eleita coordenadora distrital da OASE, juntamente com os pastores/orientadores distritais Nilberto Scheidt e Arnaldo da Rocha Clemente e mais cinco integrantes. O trabalho envolvia 49 Grupos de OASE, e essa foi uma das atividades que mais gostou de realizar e da qual sente muitas saudades.

Participou dos Concílios Distritais, apoiou o Movimento dos Sem Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragem na região do Alto Uruguai, juntamente com os pastores. Muitas foram as visitas aos acampamentos, bem como passeatas com mulheres agricultoras pela valorização das mulheres. O movimento de valorização das mulheres se chamava “Margaridas”. No ano de 2000 acompanhou o pastor Edu Grenzel tanto na OASE como nos cultos no interior, em enterros, visitas aos doentes com Santa Ceia, etc. Neste ano, ela também iniciou um grupo de canto, cujos ensaios eram realizados todas as quartas à noite com dois violeiros na igreja. Um dos violeiros era o P. Edu.

Em 2003, mudou-se com a família para Candeias do Jamari/ RO. A cidade fica a 20 km da capital Porto Velho, e faz parte do Sínodo da Amazônia. Aqui a realidade é totalmente diferente do sul. No dizer dela, “outra cultura, outros costumes, jeito diferente, mas a Igreja IECLB é a mesma em qualquer lugar desse Brasil. Aqui não tinha OASE. A Comunidade é pequena. As mulheres moram muito dispersas na capital”. Mas disse ter sido “muito bem recebida e acolhida pela Comunidade e pela pastora Regene Lamb”. Os membros são poucos. Uma das grandes dificuldades “que enfrentei aqui é a distância e a localização da igreja, que fica em um bairro distante e também muito perigoso”. Observando a nova morada e a nova Comunidade, concluiu: “Deus também mora aqui”. E foi à luta, como sempre fez em todos os lugares em que residiu.

Ao seu ver, “as mulheres da Comunidade são mais valorizadas do que do que no Sul, principalmente no Presbitério”. De fato, desde a fundação da Comunidade, as mulheres estão presentes no Presbitério. Mas faltava um movimento muito importante na Igreja de Porto Velho: a OASE. Em 2009, chegou o pastor Alan Sharle Schulz. Neste momento, Siegried já era a vice-presidente da Comunidade. Na eleição da nova Diretoria, coube-lhe a Presidência. Era o que faltava. “Em 2010, com muito esforço, fundamos o primeiro Grupo de OASE do Sínodo da Amazônia, ao qual demos o nome de ‘Catarina’ em homenagem à esposa de Martim Lutero”. Tal feito foi motivo de muitos comentários. O que é isso? Para que serve? OASE era algo conhecido só de quem veio do Sul. O nordestino não conhece esse tipo de trabalho. Mas nada disso arrefeceu o ânimo das mulheres, e Siegried foi eleita presidente do grupo também. Vejamos o que ela diz: “Em julho de 2012, chega para assumir a comunidade o pastor Jorge Klein e dá uma linda sequência no trabalho do pastorado anterior e nos encheu de ânimo mais uma vez. Hoje faço parte apenas da diretoria da OASE, pois os anos vão passando e quer queira, quer não, os anos vão chegando e com ele o peso da idade. Mas continuo ajudando e servindo sempre no que posso, pois esse é o trabalho que me fortalece todos os dias, o trabalho da Igreja e de Deus”.

Por fim, ela faz uma confissão e manifesta um temor. O temor é de ofender alguém que também foi parceiro ou parceira de muitas jornadas. E confessa: “Aqui em Rondônia foi onde renovei e renovo a minha fé a cada amanhecer. Temos que ter muita fé para continuar com esse trabalho que não é fácil, mas agradeço ao meu bom Deus que me trouxe até aqui e que me deu a oportunidade de escrever essa caminhada na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”. E guia-se pelas palavras do profeta Isaías: “O Deus Eterno diz ao seu Povo: Você é pequeno e fraquinho, mas não tenha medo, pois eu, o Santo Deus de Israel, sou o seu Salvador e o protegerei” (Isaías 41.14).

É possível dizer que dona Siegried é mulher de dois extremos na IECLB: extremo Sul e extremo Norte. Em ambos, ela plantou a semente da Igreja.

Entrevista concedida à Sra. Ilse G. H. Klein
Porto Velho/RO


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