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História de vida de Margrid Uebel Coelho

06/06/2019

 

Nome: Margrid Uebel Coelho

Participação na IECLB: Desde o Batismo

Paróquia: Evangélica de Confissão Luterana de Água Boa

Comunidade: Água Boa - MT

Sínodo: Mato Grosso

 

Nasci em berço luterano, aos 17 de fevereiro de 1971, em Mondaí –SC. Sou filha caçula do casal Adelir Jacob Uebel e Irma Maria Uebel, irmã de Martin e Andréas. Fui batizada em 08 de abril de 1971, pelo Pastor Edio Scwantes, na Igreja Evangélica de Mondaí.

Morávamos em Palmitos/SC, anos de 1974. Neste tempo, meus pais faziam cinema nas comunidades do interior para terem uma renda extra. Minha mãe era auxiliar de enfermagem, trabalhava no hospital e meu pai trabalhava como dentista. A Kombi era o meio de transporte da família e com ela levavam também os equipamentos de que necessitavam. Na época, o pastor Norberto Schwantes, amigo de meus pais, pediu para que eles divulgassem, durante as sessões de cinema, as imagens de uma terra maravilhosa localizada no centro do país, tratava-se da região de Água Boa e Canarana, no Mato Grosso.

No dia 20 de julho de 1974, saímos (nossa família, meus avós maternos com minha tia caçula de 11 anos e a família do tio Alfredo) rumo ao Mato Grosso, início da aventura inesquecível. O caminhão com a mudança e duas Kombis com as famílias e os mantimentos para as refeições, na beira da estrada. As duas Kombis iam à frente do caminhão. Próximo do horário de almoço, meu pai e o tio Alfredo escolhiam cuidadosamente um local com uma boa sombra, água, banheiro e espaço amplo, a beira da estrada, para almoço e descanso. Enquanto minha mãe e a tia Voni faziam o almoço, papai e o tio Alfredo aproveitavam para descansar, porque dormir não era possível com o barulho das crianças. Eram 4 meninos e 3 meninas precisando descarregar um pouco da energia, correr e brincar. Quando o almoço ficava pronto, o caminhão com a mudança estava chegando.

Foram cinco dias de aventura e, em 24 de julho finalmente chegamos no Vau dos Gaúchos, uma vila onde iríamos nos instalar. As terras ficavam 60 km à frente. Nesta vila tinha uma escola construída de madeira, era melhor construção da vila mantida pelo município de Barra do Garças. Como a escola estava sem professor, nossa família resolveu ir direto para a fazenda. No dia 26 de julho descarregamos a mudança. Estavam todos muito animados, ajudando um ao outro a descarregar o caminhão. 

Para nós, crianças, a aventura continuava, apesar dos meus irmãos e primos serem mais velhos tudo era uma aventura, pendurar-se no cipó e gritar como Tarzan, ouvir o barulho dos macacos e tentar imitá-los. Eu e meu irmão Andréas, que éramos menores, não conseguíamos acompanhar os mais velhos e questionávamos nossa mãe: “Mãe! Quando vai ser de novo como era em Palmitos?” Muitas vezes, minha mãe chorava e orava muito por ter feito esta loucura. Quando nos mudamos de Palmitos, Martin, meu irmão mais velho, já estava estudando na escolinha e eu e o Andréas fazíamos o Jardim de Infância. Em Palmitos, morávamos no Centro, em frente ao clube, próximo da escola e do Hospital Municipal. Tínhamos o parque da pracinha para brincar. Tudo era perto de casa, Sair deste conforto para o meio do mato, no meio do nada não foi fácil.

Lembro-me também, que nos primeiros tempos íamos passear e conhecer os vizinhos, todos muito receptivos. Em cada visita ganhávamos algo e assim, quando voltávamos para a fazenda, a Kombi estava lotada de sementes, mudas e como não poderia faltar, a galinha e seus pintinhos. Era muito divertido.

Nosso primeiro Natal no Mato Grosso foi muito diferente. Não tivemos um pinheiro, mas tivemos uma linda árvore do cerrado, enfeitada com bolinhas. O Papai Noel saia do meio da plantação de milho. Ficávamos assustados com aquela luz que brilhava na escuridão do milharal, mal sabíamos que era a Groβmutter se passando pelo nobre Papai Noel. Os presentes eram todos iguais, tanto para os meninos como para as meninas, um carrinho colorido para que pudéssemos brincar juntos, sem atritos. Sentávamos ao redor daquela árvore, cantávamos hinos de Natal, ouvíamos histórias do nascimento de Jesus Cristo e todos éramos muito felizes.

No início de 1975 mudamos para o Vau dos Gaúchos e em junho deste mesmo ano, mudamos para Água Boa. Lembro-me que brincávamos à vontade no meio das ruas largas. Subíamos nas árvores e descíamos com cordas e roldanas e, como eu não tinha uma irmã, ficava sempre ao lado dos meus irmãos. Isso me trouxe inúmeras experiências e tombos, por ser a “cobaia” nas brincadeiras. Mas o mais divertido disso tudo era quando minha mãe atendia um parto em nossa casa, ai eu tinha uma “boneca viva” para cuidar, enquanto minha mãe cuidava da mãe do bebê.

A escola foi construída com a ajuda dos pais que ali estavam, cada qual ajudava como e com o que podia. Lembro-me que estudávamos até umas 10 horas da manhã, porque após este horário o sol era muito quente. A escola não tinha telhado, somente as paredes. Por isso, à tarde as aulas aconteciam entre 14h30 e 17h30 porque depois deste horário escurecia e não havia luz na escola. Lembro-me também que sentávamos num banco e as anotações eram feitas nos cadernos sobre nossos colos, sem contar que a professora precisava se dedicar com alunos de várias idades em numa mesma sala.

No começo, os cultos eram na escolinha. Mais tarde, as comunidades católica e luterana se uniram e construíram um centro comunitário (pavilhão em alvenaria) perfeito para culto, missas, festas comunitárias, casamentos e outros eventos.

Em 04 de dezembro de 1983, no pavilhão comunitário, foi realizado o culto de minha confirmação e de meu irmão Andréas, pelo pastor Roberto Jorge Schmidt.

Aos 14 anos fui morar em Goiânia, com meus irmãos e minha tia Elisa, que já moravam lá. A mudança se deu em virtude de não haver segundo grau em Água Boa. Meus pais sempre deram muito valor aos estudos. Em janeiro de 1989 morei em Passo Fundo–RS, onde fiz seis meses de faculdade de Biologia. Descobri que não era isso que eu queria então, com o apoio da família, retornei à casa de meus pais onde permaneci de agosto/1989 até janeiro do ano seguinte, quando passei no vestibular para Farmácia na Faculdade de Cuiabá-MT. Depois de um ano cursando Farmácia em Cuiabá, pedi transferência para a Faculdade de Goiânia-GO, pois queria ficar mais perto do amor da minha vida. Concluí o Curso de Farmácia e Bioquímica em dezembro de 1995 quando então, celebrei minha formatura.

Em janeiro de 1996 Lisson, meu esposo e eu nos mudamos para Água Boa onde montei uma farmácia em sociedade com minha mãe unindo seu conhecimento prático ao meu conhecimento teórico. Foi um período maravilhoso. Ficamos com a farmácia até fevereiro de 2011. Hoje, permaneço trabalhando nessa mesma farmácia, porém, como farmacêutica substituta.

Sempre gostei de estar na companhia de meus pais. Meus pais sempre gostaram de aventura. Nas férias de julho de 1988 fomos acampar no Rio Araguaia, município de Cocalinho-MT. Ali, conhecemos um grupo de pessoas que estava acampado na outra margem do rio. Tivemos bons momentos juntos. Conheci Lisson, meu esposo. Ele é de família católica, mas se identifica com a comunidade luterana. Em 09 de fevereiro de 1993 recebemos a bênção de Deus. Foi na comunidade de Água Boa. O pastor Eltério Koehlerr foi quem fez nosso casamento.

Hoje, somos uma família abençoada com três filhas maravilhosas: Cibele, nascida em março de 1995, na cidade de Goiânia-GO; Fabíola, nascida em maio de 1997 e Letícia em maio de 2000, ambas em Água Boa-MT. Em virtude dos estudos, nossas filhas não moram mais conosco. A mais velha já está formada e as outras duas ainda estão na faculdade.

Minha família sempre foi atuante na comunidade luterana e na comunidade água-boense, desde a emancipação da cidade. Comigo não foi diferente. Desde 2008 assumi cargo de tesoureira da Paróquia, fui secretária da Comunidade e depois, no biênio 2012/2013 fui presidente da Comunidade. Tive momentos ímpares com grande aprendizado e grandes amizades. Ao ingressar na diretoria da Comunidade e da Paróquia também me tornei voluntária no grupo de liturgia, grupo de canto, no grupo de artesanato, no grupo da OASE, ajudando na organização dos eventos, ouvindo histórias e literalmente colocando as mãos na massa quando se trata de fazer cucas (as deliciosas cucas da OASE).

Agradeço a Deus pela família que me concedeu, pelas oportunidades, pelos aprendizados, pelos amigos, pela comunidade, pelas dores, por ter me dado forças para cumprir a minha missão e por Ele achar que sou merecedora e me escolher para servi-lo.


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