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História de vida de Irmgard Fuck Lautert

23/02/2016

 

 

 

Nome: Irmgard Fuck Lautert

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: Condor

Paróquia: Condor/RS

Sínodo: Planalto Rio-Grandense
 

 

 

Sou Irmgard Fuck Lautert, casada com Dorival Lautert, mãe de Sandro e Adriane, vó dos amados netos Samuel e Romulo, de minhas maravilhosas netas, Maira e Emanuelle, sogra da nora Geni e do genro Rildo. Sou filha de um professor rígido e severo, que exigia muito de nós quatro, filhos e filhas. Nas férias escolares, as crianças brincavam, e nós, em casa, precisávamos estudar alemão e geometria e ler livros que ele escolhia. Eu queria ser mais livre, correr e brincar. Apesar da rigidez, chegou o dia em que eu pude reconhecer e dizer: “Obrigada, pai, por insistir nos estudos, obrigada, mãe, pelo carinho e estímulo para participar na OASE”. Na vida adulta, sempre me dediquei e trabalhei no comércio da família.

É com gratidão a Deus e alegria que vou compartilhar a minha caminhada na OASE. Foi uma bênção de Deus em minha vida. Jovem, recém-casada, comecei a participar das reuniões da OASE. Isso foi bem peculiar na época, pois as mulheres jovens não participavam, porque a OASE era só para as mais velhas; no entanto, consegui levar algumas amigas.

Participar da OASE foi legado deixado por minha mãe, que sempre dizia: “Vai nas reuniões, não esqueça”. Escutei um relato de uma participante de um Congresso que aconteceu em São Leopoldo/RS, pelo qual me “apaixonei”. Eu queria fazer parte destes grupos. Participar, conhecer, ouvir, trocar ideias e fazer parte dessa “Frauenhilfe”, dessa OASE-VIVA. Aos poucos, fui aprendendo que havia uma diretoria, uma hierarquia. Os estudos bíblicos foram uma revelação, quando o pastor explicava os textos. Com o passar do tempo, fui assumindo cargos de Presidência, Tesouraria e Coordenação Paroquial. Participei de um seminário de preparação com a Sra. Gertrudes Grüber. Foi um trabalho muito bom conhecer os grupos, dialogar com as mulheres, ouvir as suas dúvidas, seus anseios e ser informada do que estava acontecendo, com olhos para fora dos muros da Igreja. Os objetivos da OASE eram capacitar, valorizar e fortalecer a mulher, inteirando-a também do tripé que diz “COMUNHÃO – TESTEMUNHO – SERVIÇO”.

Como presidente da Região III, após ter sido coordenadora paroquial, participei de reuniões do Conselho Nacional da OASE, e daí se abriram novos horizontes.

Assumi o cargo de vice-presidente da Região III. Após alguns meses de desistência da presidente, acabei assumindo a presidência. De repente, como presidente, senti-me despreparada para esta função, mas, com a ajuda do pastor Ermindo Wahlbrink da minha cidade e da Diretoria, tudo foi se encaminhando. Participando das reuniões do Conselho Nacional, percebi o compromisso que estava em minhas mãos.

Foi lançada a Semana Nacional da OASE, com temas para o início da semana da primavera. Fomos motivadas para uma visita às novas áreas de colonização, como Canarana/MT, Querência/MT, Água Boa/MT, e fomos em mais mulheres. Hospedadas em casas de família, com o apoio dos pastores, vi com clareza que a Semana Nacional da OASE tinha um objetivo certo, isto é, criar a unidade nacional.

Na Semana Nacional da OASE, assumimos o desafio de visitar as novas áreas de colonização do Mato Grosso e demais regiões pelas quais passamos. Tudo foi um grande aprendizado. As mulheres destas novas áreas acharam que iríamos dar palestras, quando na verdade, nosso objetivo era fazer contatos, sentir as necessidades dos grupos que já estavam formados ou se formando. Estas jovens mulheres se encontravam muito sozinhas, devido às grandes distâncias.

Longe dos familiares e com saudades do sul, lembraram-se da mãe e da sogra que frequentavam a OASE nas suas comunidades. A dor da saudade da família foi um fator muito forte para elas se unirem em grupos de OASE e lá poderem compartilhar alegrias e tristezas nas suas casas ou debaixo de qualquer pé de manga, com um bom chimarrão. 

Numa reunião do Conselho Nacional da OASE em Cascavel/PR (Casa de Retiros), chegou o momento de escolher a nova diretoria. A mesma era constituída em forma de rodízio, e chegara a vez da Região III, a qual representava. Eu não sabia disto. Foi uma decisão que teve de ser tomada ali, e assumir a Presidência do Conselho Nacional da OASE foi um desafio enorme. Com as dúvidas, veio também a consciência de ter que me preparar, estudar, informar, conhecer melhor a minha Igreja com seus regimentos, estatutos e departamentos, etc... Na ocasião, chegou às minhas mãos um bilhete de uma irmã muito querida que dizia: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13). Este já era um versículo que me acompanhava. Escutei o chamado e aceitei o cargo. Tudo estava acontecendo rápido demais. 

Na minha gestão de presidente do Conselho Nacional da OASE, investimos em proporcionar seminários para as lideranças regionais e líderes de grupos. Realizamos o 2º Congresso Nacional em Curitiba/PR, onde foi proposto fazer o Seminário Nacional do Idoso, a Dança Sênior e o 1º Censo da Pessoa Portadora de Deficiência (PPD) da IECLB com o apoio da diaconisa Hildegard Hertel (em memória). 

Participei de um encontro promovido pela Federação Luterana Mundial (FLM), em Neuendettelsau, na Baviera/Alemanha, com mulheres do 3º Mundo. Para participar destes encontros, estudei inglês durante dois anos, o que não foi fácil; no entanto, o que facilitou foi a boa fluência verbal no alemão para explicar um estudo bíblico. Esse foi um encontro muito frutífero, onde pude conhecer mulheres de outros países e raças, como o Quênia, Tanzânia e outro, onde se fala inglês, francês, alemão e português.

Fizemos um intercâmbio com mulheres do Leste Europeu que já haviam visitado o Brasil, para conhecer e saber como se vive Igreja numa democracia. Fomos entre sete mulheres conhecer a realidade da vida no pós-comunismo. Foi muito interessante escutar os seus depoimentos falando da queda do regime comunista, e da reconstrução da cidade com traços bem arrojados e modernos. A maioria das igrejas foi preservada graças a um acordo político. Visitamos muitas construções antigas, edificadas na Idade Média. Conhecer estas obras antigas foi algo muito emocionante. Conhecemos cidades e comunidades na Polônia, Hungria, Eslovênia e outros lugares, e tudo foi marcante para todas nós. Durante o período comunista nestes países, a prática religiosa era proibida. No entanto, as mulheres encontraram uma maneira de fazer um estudo bíblico meio clandestinamente, reunindo-se em torno de uma mesa, com um bom bolo e doces, alegando ser uma data comemorativa de aniversário, às vezes num galpão ou porão.

Participei de um encontro latino-americano só de mulheres, com representantes da Venezuela, Bolívia, Chile, Argentina, Paraguai e Brasil. Outro encontro de representação internacional foi em La Paz/Bolívia. Todos estes eventos foram patrocinados pela Federação Luterana Mundial (FLM). Participei de encontros do Dia Mundial de Oração (DMO), encontros ecumênicos, congressos regionais e sinodais, reuniões de presidentes de OASE, Comunidade e como representante paroquial do Sínodo, tudo voltado para a valorização da mulher.

Relembrando e relatando estes encontros, os pensamentos voltam ao passado. Tantas boas recordações, lembranças e conhecimentos adquiridos nestes encontros. Lembro-me de uma reunião em Porto Alegre/RS em que o diálogo era sobre as siglas que me eram um tanto desconhecidas, mas, mesmo assim, fui me atualizando nesta caminhada de OASE/Igreja.

Algumas vezes, eu me perguntava: conseguimos atingir as mulheres com nossos objetivos? Fizemos muitos projetos que só ficaram no papel, tivemos algumas utopias, como, por exemplo, o trabalho com idosos. Havia épocas de muita resistência por parte das mulheres, para assumir trabalhos e funções na OASE. Embora buscássemos fortalece-las, encorajá-las e subsidiá-las para assumirem funções, elas alegavam que não sabiam, não tinham tempo, a família não permitia. Passei e ouvi tudo isto também.

Relembrando e resumindo, devo confirmar que, nos momentos bons e difíceis, sempre senti a presença do bondoso Deus. Quando precisava falar de improviso, eu orava: Senhor, coloca as tuas palavras na minha boca e que sejam uma bênção para as pessoas que me escutam. Hoje algumas mulheres me falam: O que você falou, valeu e aprendemos muito. Resumindo, devo dizer que houve os momentos abençoados de encontros e reencontros, como também houve percalços e pedras no caminho. Sei que tudo isto faz parte de uma caminhada. Estou muito grata a Deus por ter colocado este trabalho e dever em minhas mãos, por ter feito de mim um tijolo para a construção do seu reino.

Na cidade de Condor, onde moro, fui presidente da Comunidade. Atualmente sou representante da Comunidade no Conselho Paroquial do Sínodo Planalto Rio-Grandense.

De uma maneira muito especial, quero manifestar gratidão ao meu querido esposo, por seu apoio e sua paciência. Foram muitos dias de ausência para participar de reuniões, foram longas viagens para as novas áreas de colonização, América Latina e Europa. Lembro-me, de maneira especial, da volta de uma viagem para uma reunião em Porto Alegre/RS. Após o término da mesma, embarquei no 1º ônibus da noite para Panambi/RS, num dia muito frio e chuvoso de inverno. A previsão de chegada era 1 hora da manhã, num posto de gasolina, fechado durante a noite por razões de segurança. Meu marido estava me esperando. No entanto, devido ao tempo frio, chuvoso e de inverno, houve muitas horas de atraso. O esposo, para não passar frio na agonia da longa espera por sua mulher, ligou o ar quente do carro. Lá se foi a energia. Cheguei com muitas horas de atraso. Tivemos que aguardar o amanhecer e o posto abrir as portas para nos atender. As suas palavras foram: Nunca mais pede para te aguardar de tuas viagens. No entanto, na próxima viagem e muitas outras, quem estava lá me aguardando era ELE. Aqui o meu reconhecimento e o meu carinho por tamanha paciência e benefício. “A gratidão é uma atitude que honra a Deus”.

Tenho muito a agradecer aos filhos, pastores, amigas e ao grupo de OASE de Condor/RS, cidade onde moro. Quando eu precisava de um trabalho, sempre me apoiaram muito. Encerro dizendo: “SERVI AO SENHOR COM ALEGRIA” (Salmo 100.2).

Para a OASE do futuro deixo o desafio nas palavras do nosso reformador Lutero: “Em fé e amor consiste toda a essência de uma vida cristã. A fé recebe, o amor dá de si, a fé leva a pessoa para Deus, o amor leva Deus às pessoas”.

IRMGARD FUCK LAUTERT – Ex-presidente da OASE Nacional


Texto escrito por HELGA SCHÜNEMANN, coordenadora editorial do ROTEIRO da OASE.


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