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História de vida de Carla Andrea Grossmann

Em comunhão com as viDas das mulheres

12/03/2015

 

Nome: Carla Andrea Grossmann

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: Bom Pastor

Paróquia: Coronel Barros

Sínodo: Planalto Rio-Grandense


Meu nome é Carla Andrea Grossmann. Nasci em 16 de março de 1970, em Marechal Cândido Rondon. Fui batizada em 29 de março do mesmo ano. Posso dizer que minha caminhada na igreja começou naquela época. Lembro-me com muito carinho de ter participado do Culto Infantil na Comunidade Martin Luther, em Marechal Rondon. Meu pai teve vários empregos, e, por conta de sua busca constante por um trabalho digno, mudamos várias vezes de casa. Sou, portanto, uma garota do subúrbio das cidades. Faço parte, por origem, da grande massa da população migrante que, ao longo dos anos 60, 70 e 80, correu Brasil afora em busca de emprego e melhor condição de vida. Ao longo de muitas migrações, a ligação com a igreja sempre foi alento e deu segurança para minha família. Onde quer que morássemos, não estávamos sozinhos! Quanto eu tinha 6 anos, minha família veio para o Rio Grande do Sul, para Ijuí, onde meus pais tinham muitos parentes e havia emprego para meu pai. Minha mãe era professora durante o dia e estudava à noite. Ela era educadora especial, e com ela aprendi a respeitar todas as pessoas e ver o que o mundo considera como diferente, de outro jeito, como diversidade e pluralidade. Com ela aprendi as primeiras orações e histórias bíblicas. Ela era muito ativa na Comunidade, cantando no coral, levando os filhos e a filha à igreja, sendo orientadora do Culto Infantil. Dela ouvi um dos primeiros conselhos importantes que uma mãe e um pai podem dar à sua filha, quando eu ainda era menina: “Filha, nunca deixe um homem bater em você. Você é digna e tem valor, nunca permita que isso aconteça”.

Quando eu estava no Ensino Confirmatório, sonhava em trabalhar com pessoas na igreja. Eu não sabia que mulheres podiam estudar teologia, mas pensava que isso seria muito importante para mim. Certa vez, no Ensino Confirmatório, recebemos a visita de uma pastora. Ela compartilhou suas experiências no estudo da teologia e falou também sobre o seu trabalho como pastora. Meus olhos brilharam! Depois do encontro, procurei essa mulher e conversei com ela, compartilhando meu sonho de também estudar teologia. Em 2014, ao receber a visita da querida Doris Kieslich, fiquei sabendo o nome dela: Claudete Beise Ullrich. Sou muito grata a ela, que abriu as portas da possibilidade de estudar teologia para mim, e disse bem claro: “Carla, em nossa igreja mulheres podem estudar teologia e ser pastoras”.

Durante a adolescência, tive muito contato com trabalhos comunitários. Fui a primeira orientadora de Culto Infantil do ponto de pregação do Bairro Modelo, em Ijuí, hoje um Núcleo Comunitário. Também ali, com meus irmãos, fundamos o primeiro grupo de Juventude Evangélica. Como confirmanda, participei do Grupo Bandeirantes do Verde, que fez a arborização e o cuidado das praças do Bairro Modelo. Era um grupo de ação voluntária que me permitia viver a fé fora do círculo da IECLB. No Colégio Evangélico Augusto Pestana, onde estudei por dois anos e meio, fui fundadora de um grupo de oração. Quando tinha 16 anos, minha família mudou-se para Santo Ângelo, e ali tive, com meus irmãos, uma grande participação na Comunidade, através do grupo de jovens, das encenações natalinas e de outras atividades. Quando o pastor local soube de minha intenção de ingressar no estudo de teologia, colocou-me no grupo de visitadoras.

Em 1988, ingressei no curso de teologia na EST, em São Leopoldo. Lembro-me com alegria das gerações de mulheres que estudaram comigo, ou que eu tive a oportunidade de conhecer. Foram pioneiras, junto comigo, em várias áreas. Recebemos de nossas antecessoras o Grupo de Mulheres, os encontros de mulheres estudantes de teologia e ministras, os primeiros trabalhos, leituras e discussões na área de Teologia Feminista. Lembro-me com muito carinho de um desses encontros de estudantes e ministras, marcante, com a presença da fantástica Rose Marie Muraro. Eu também fiz parte da geração que teve pela primeira vez a cadeira de Teologia Feminista, com a pastora Wanda Deifelt. Foram anos incríveis, de muitas celebrações, discussões, debates e, sobretudo, crescimento.

Tenho um filho, o Lucas, e uma filha, a Raquel. Meu filho e minha filha me ensinam muito sobre temas que aquecem meu coração: pluralidade, justiça de gênero e inclusão. Também penso muito no mundo que vamos deixar como herança para as próximas gerações... o que temos feito para preservar nossos recursos naturais? Buscar alternativas para a geração de energia e combustível? Preservar nossa preciosa água? Valorizar a produção local de alimentos e bens? Como herdeira da Reforma, sinto que tenho muito compromisso com esses temas. Se fui tímida até agora, então é tempo de investir com coragem nesses temas!

No trabalho comunitário, tenho tido muitas experiências. Tenho aprendido muito! Quero continuar a servir a Deus de uma maneira renovada. Penso que buscar essa IECLB que sonhamos é uma tarefa para muitas gerações de mulheres e homens nos ministérios e no trabalho voluntário. Amo minha igreja e quero vê-la cada vez mais plural e inclusiva. Vejo aonde chegaram nossas igrejas-irmãs na Suécia, na Finlândia, na ELCA (Igreja Evangélica Luterana da América) e sei que nossa caminhada ainda é longa; por isso, aconselho-me diariamente a não parar. Recebi de minhas avós Hermengarda Kant e Irma Grossmann, de minha mãe Marly e de tantas irmãs uma chama acesa que eu quero renovar e manter: amar a Deus nas pequeninas e nos pequeninos e plantar sementes de mudança, para que as próximas gerações deem um passo a mais. Que bom, temos muito para fazer!


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