Os discípulos de Emaús

Estudo Bíblico

01/10/2008

Estudo bíblico sobre Lucas 24.13-35

• Cantos

• Oração

• Leitura participativa do texto

• Leitura individual e silêncio

• Compartilhamos as primeiras impressões do texto . Que palavra ou imagem tocou-me mais profundamente? O que chamou mais atenção?

• Breve comentário sobre o texto

(Cada parágrafo deveria ser lido por uma pessoa diferente. Após a leitura, pode-se abrir espaço para um breve compartilhar).

V. 13: Com a referência .naquele mesmo dia., Lucas deixa claro que os acontecimentos narrados a seguir tiveram lugar ainda no domingo da páscoa. “Dois deles” - trata-se de dois dos discípulos de Jesus. Um deles chamado Cleopas, conforme nos informa o v. 18. O outro é desconhecido. Acerca da identidade destes dois discípulos muito se discutiu, sem resultado convincente. É provável que os dois tenham pertencido ao grupo dos setenta missionários enviados por Jesus, conforme o relato de Lucas 10. Segundo a notícia do texto, eles residiam em Emaús, lugarejo distante 11 km (1 estádio = 185 m) de Jerusalém. Não é mais possível precisar a localização exata desta aldeia.

Vv. 14-16: Os discípulos ainda estão exaltados com os acontecimentos dos últimos dias, incluindo os ocorridos naquela manhã. Tudo ainda está muito presente. Há muito que conversar e discutir. Estavam tão entretidos que nem sequer notaram a aproximação de um “peregrino” - o próprio ressuscitado. Diz o texto que “os seus olhos estavam como que impedidos de o reconhecer”. O que teria causado esta incapacidade de reconhecer aquele com quem tinham convivido intensamente nos últimos três anos? Será que o Cristo ressurreto era fisicamente diferente do Jesus de Nazaré? Pouco provável, uma vez que na narrativa que segue ao nosso texto ele aparece a todos os discípulos reunidos . que o reconhecem sem qualquer dificuldade! Será que Jesus age sobrenaturalmente, impedindo-os de o reconhecer? Talvez. Mais provável, porém, é que a tristeza e o luto causados pela perda do mestre - e pela destruição do sonho de participar do reinado do Messias! - tenham turvado suas vistas. Podemos ainda acrescentar que, em realidade, não contavam com a possibilidade da ressurreição já anunciada pelas mulheres (vv. 10-11). Fato é que o tomaram por um peregrino desconhecido que retornava dos festejos da páscoa em Jerusalém (v. 18). Era comum que peregrinos e viajantes se associassem a outros para terem mais segurança e entretenimento. Significativo é observar que os discípulos continuam preocupados e tristes, mesmo tendo ao seu lado o Cristo vivo.

V. 17: O “peregrino” pergunta pelo tema da conversa e pelo motivo da preocupação. Conta o texto que eles “pararam entristecidos”. A pergunta atualizou sua dor e os paralisou. Tomam consciência de tudo que perderam com a morte de Jesus. Com um tom de irritação Cleopas devolve a pergunta: “És o único peregrino em Jerusalém que não sabes de nada do que aconteceu?”

Vv. 18-19: Então, eles passam a narrar a história de Jesus. Chamam-no de ‘profeta” e distinguem suas obras de fé e poder. Ainda falam de Jesus com fascínio, convencidos plenamente que suas obras eram divinas. Consideram-no entre os grandes profetas da história de Israel.

V. 20: Como responsáveis pela morte deste eminente profeta acusam os líderes religiosos e políticos do povo judeu (Lucas 22.47-23.25). Deixam de mencionar que somente Roma e seu procurador (Pilatos) tinham poder para sancionar a pena capital.

V. 21: Neste versículo, os discípulos revelam suas expectativas em relação a Jesus.
Deixam claro que o consideravam o Messias esperado há séculos pelo povo judeu. Em sua visão, este Messias iria “remir a Israel”, tornando-se um libertador político que iria erguer o reino de Deus. Esta esperança já havia se dissipado, pois já haviam passado três dias desde sua morte.

Vv. 21-24: É possível perceber que os acontecimentos daquela manhã mais uma vez trouxeram esperança. O túmulo estava vazio, os panos ainda estavam lá. No entanto, não encontraram Jesus - o que novamente os lançou no desânimo. Julgaram que tudo não passava de boatos.

Vv. 25-27: Agora chega a vez do “peregrino” falar. Ele é duro com os discípulos: chama-os de “néscios”, ignorantes, “tardos de coração”, lentos na compreensão e no sentimento. Por isso, não conseguem captar e crer naquilo que os profetas já haviam predito: que o Messias haveria de sofrer e morrer, somente assim chegando à sua glória. Jesus explica o que já deveriam saber - que a morte e a ressurreição do Messias estava claramente anunciada no Antigo Testamento. Na interpretação de Jesus, o caminho do Messias une duas estações que humanamente se excluem: sofrimento e glória. O Messias é, ao mesmo tempo, o “servo sofredor” que se sacrifica pelo povo (Salmo 22; Salmo 69; Isaías 53; Daniel 9.26 etc.) e o rei ungido por Deus que governará eternamente (Salmo 2; Isaías 9.6ss.; Isaías 11.1ss.; Daniel 7.13ss. etc.). Os discípulos de Emaús não conseguiam interpretar corretamente o destino de Jesus justamente por causa da falsa expectativa que criaram em torno de um Messias como libertador político. A explanação bíblica do “peregrino” os auxiliou a corrigirem esta visão.

Vv. 28-29: Os discípulos chegam à sua aldeia. O peregrino que os acompanha está disposto a continuar a caminhada. Em virtude da escuridão e dos perigos da noite, os dois discípulos o convenceram a aceitar sua hospitalidade. Provavelmente desejavam usufruir um pouco mais da sabedoria e dos conhecimentos revelados pelo desconhecido.

V. 30: “Estando eles à mesa” - Esta frase prepara o auge de nossa história. Interessante é que o hóspede assume o papel de senhor da casa. Toma o pão, abençoa-o e o reparte. O paralelo com a última ceia é flagrante (cf. Lucas 22.19). Neste momento, os olhos dos discípulos vêem o Cristo ressurreto. E quando se levantam para abraçá-lo, ele desaparece novamente. Após sua ressurreição, Jesus não está mais preso ao tempo e ao espaço.

O acontecimento em Emaús revela o mistério da Santa Ceia: a possibilidade de contar com a presença do Cristo vivo. Na Ceia, o ressurreto está presente e mantém comunhão com os seus. A comunhão de vida experimentada pelos discípulos com o Jesus terreno continua - agora com o Cristo ressuscitado. Por isso, a Santa Ceia não é memória do Cristo morto, mas comunhão com o Cristo vivo. O sentimento que determina a celebração, portanto, não é o luto, mas a alegria. Em Atos 2.42, lê-se que na igreja cristã primitiva “partiam o pão [...] com alegria”. Ele continua sendo o hospedeiro, convidando quem ele quer, não excluindo ninguém.

É possível observar um crescendo na narrativa: Primeiro passam a ter uma nova visão do plano de Deus a partir de uma nova compreensão da Palavra de Deus; depois, celebram a comunhão com o Cristo vivo, completando a experiência da revelação divina. A história de Emaús deixa claro: Palavra e Sacramento nos oferecem acesso a Deus e à salvação. Mostra-nos também que não é suficiente buscar a Deus através da compreensão intelectual – é necessário encontrá-lo pessoalmente, nos caminhos do coração. A fé viva nasce do encontro pessoal com o Cristo vivo!

V. 31: Novamente a sós, relembram o coração aquecido pelas palavras daquele que tomaram por um peregrino qualquer. Quando o Espírito de Cristo explica as Escrituras, é possível compreendê-las com o coração. O que eles conheciam intelectualmente, agora faz sentido, tem valor para a vida, conduz à salvação.

Vv. 33-35: O coração aquecido pela Palavra e pela comunhão dispõe-se naturalmente ao testemunho. Eles retornam o longo caminho até Jerusalém, motivados pela maravilhosa experiência. Encontram os discípulos ainda reunidos. Pedro também teve a graça de encontrar-se com o ressurreto (1Co 15.5). O luto havia se transformado em entusiasmo, em nova esperança. Os dois, enfim, puderam contar sua história: Na Ceia, no “partir do pão”, o Cristo vivo está presente! Ainda outras vezes, o Cristo ressurreto celebrará a comunhão de mesa com os seus antes de ascender aos céus (cf. Mc 16.14; Lc 24.41ss.; Jo 21.5ss.). Desde Emaús, a igreja de Cristo vive deste alimento e desta comunhão!

Perguntas para o diálogo:

1) Os discípulos caminhavam tristes e preocupados. Não perceberam a presença do Cristo vivo. Já fizemos este tipo de experiência?

2) Onde hoje é possível reconhecer a presença do Cristo vivo? Onde é possível encontrá-lo?

3) Como hospedeiro, o Cristo ressurreto convida a quem ele quer. Temos, porém, a tendência de excluir pessoas . as crianças, por exemplo. Como tornar a Ceia do Senhor mais inclusiva?

4) Os primeiros cristãos celebravam a Santa Ceia com alegria por que sabiam que o Cristo vivo estava presente. O que é necessário para que a celebração da Santa Ceia em nossa comunidade se transforme em celebração de vida e alegria?

Encerramento: oração, Pai-Nosso, bênção e canto.
 


Autor(a): Paulo Afonso Butzke
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Crianças na Ceia do Senhor / Ano: 2008
Natureza do Texto: Educação
Perfil do Texto: Estudo Bíblico
ID: 14040
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