Em outubro de 2013, no dia 12, perdemos a matriarca de nossa família. Guisela Gorseltz Vetterlein, nossa oma materna partiu aos 82 anos. Diante da situação de sua morte, falava sobre a oma com minha filha. Numa conversa perguntei se ela estava triste com a partida da oma. Ela disse que não. Perguntei então por quê? Ela disse que não estava triste, porque a oma tinha ido para o céu e logo voltaria a viver. Crianças sempre nos surpreendem com suas respostas e nos ajudam a seguir pela vida!
Diante da perda da matriarca de nossa família e da conversa com minha filha, lembrei algumas características da oma. Ela sempre tinha um presentinho para os netos e netas, mesmo já crescidos/as. Ela lembrava como precisão as datas de casamento e aniversário de vários familiares; sabia fazer contas muito bem, apesar de ser analfabeta e saber escrever somente seu nome; e aprendeu a fazer vários artesanatos de forma autodidata. Oma gostava de conversar, cantar musiquinhas em alemão, de preparar e saborear delícias na cozinha e de ficar horas na área da casa com a família reunida, de preferência. Tinha um bom humor incomparável, ria de nossas palhaçadas e histórias. Sempre tinha um olhar bondoso e confortante em momentos difíceis da vida. Seu colo, que pude usufruir já sendo adulta, era inigualável, colo de acolhida, amor e aconchego. Sempre que eu visitava minha família, ia direto para a casa da oma!
Neste dia das mães quero destacar uma de suas características, e acredito que também seja uma marca de muitas mães: a misericórdia.
Misericórdia no hebraico é rahamims, que deriva de réhem, significa a matriz, o útero. Manifestar misericórdia tem ligação direta com os gestos femininos, do útero da mulher, que acolhe, aconchega e gera nova vida. Na matriz, a vida nova é recebida, mantida e fortalecida, oferecendo tudo o que o feto precisa para viver.
A bíblia nos lembra muitas vezes que Deus é como útero, que age com a capacidade de matriciar, de gerar nova vida, de nos fazer nascer de novo, de nos fortalecer diante de todos os momentos da vida, especialmente nos mais difíceis, de nos acolher com braços amorosos e nos aconchegar bem perto de si, a Matriz da Vida.
Diante da grande capacidade que a oma teve ao nos aconchegar em seu lar, em seu colo, com suas histórias de vida, com seus dons, com seu olhar bondoso e palavras de paz, penso que Deus a usou para matriciar nossas vidas e das pessoas que com ela conviveram. Em seu modo simples de vida, deixou-se moldar pela misericórdia de Deus. Ao ser a matriarca da família deixou para mim essa mensagem: de acolher com misericórdia uns aos outros, de afagar na dor e aconchegar no colo para que na vida pudéssemos também nós, cada qual a seu modo, matriciar o mundo. Feliz foi a oma que tantas vezes foi sustentada pelas misericórdias de Deus em seu viver e aprendeu a nos matriciar. Graças rendo a Deus pelas vezes que pude ser matriciada pelos gestos e palavras de minha oma. Felizes são as mães que não somente geram seus filhos e filhas, mas ao longo da vida vão matriciando, acolhendo e aconchegando em seu colo aqueles e aquelas que estão sob seus cuidados, em todos os momentos. Jesus mesmo afirmou isso quando disse: “Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros e das outras” (Mt 5.7).
Creio que, quando partimos desta vida, Deus nos acolhe em sua infinita misericórdia e continua nos aconchegando no Útero da Vida até que surja o tempo em que possamos viver de novo, por isso não precisamos perder a esperança diante das perdas e dificuldades que temos, mas podemos seguir adiante, confiantes em Deus que nos acolhe sempre e não nos abandona, assim como acredita e me consola minha filha de cinco anos, que também crê na ressurreição e na misericórdia infinita de Deus!