Avós e netos — um desafio
P. em. Johann Friedrich Genthner
Entre avós e netos há uma atração mútua natural. O que fascina avôs nos netos e os netos nos avôs? Com certeza é a idade e a infância. Ambos, os avôs e os netos vivem numa expectativa singular: o futuro caminho é desconhecido e causa curiosidade. Por isso ambos se entendem bem.
Hoje se fala bastante sobre como aproveitar a terceira idade e como valorizar a sua vida. Prefeituras, Comunidades cristãs e clubes oferecem programas, atividades e passeios aos idosos para cultivar amizades, relacionamentos com outras pessoas e evitar se isolar. Sabemos que muitas pessoas da terceira idade amam demais o seu lar, seu cantinho e seu jardim. A gente escuta o comentário: Para que sair e gastar dinheiro se tenho tudo aqui?.
A vida dos avôs está mudando igual à de seus filhos, netos, parentes e amigos. O trabalho exige sempre mais dedicação e os jovens pais estão sempre mais tempo fora da casa. A vida dos avôs ganhava tanto em anos, graças à medicina e o cuidado, quanto a espaço para desenvolver atividades de gosto, como por exemplo, caminhar, fazer ginástica, ir a festas, fazer visitas, praticar artesanato de madeira, arame, couro, argila e outros. Outros se dedicam a cantar no coral da Comunidade ou fazer música em grupo instrumental. Apareceu um desafio que um tempo atrás ninguém imaginava, mas hoje está aberto o caminho à escola, a Universidade ou a vários cursos. Eu assisti a uma P. em. Johann Friedrich Genthner palestra na qual o palestrante destacou o seguinte: Para passar bem a terceira idade e manter a cabeça em bom estado é necessário apreender uma língua que não conhece fazer exercícios diários como caminhada, alongamento, natação e apreender tocar um instrumento musical. É possível e necessário dar conteúdo a sua vida. Ou diga: a própria vida nos desafia a fazer isso.
Esse tema é atual, pois os avôs entravam em cena porque vivem mais tempo e tornam um pólo de apoio e de encontro. Viram num tipo de pronto socorro ou de porto seguro. Por outro lado os filhos estão com apuro pelo estudo, trabalho e compromissos assumidos. E normalmente as finanças são insuficientes para se manter. Os avôs são uma ajuda importantíssima. Hoje pode se disser: fique grato se tiver ainda seus pais vivos.
O nosso jeito de viver segue novas regras sociais. Os netos são sujeitos a se integrar e se adaptar. Estilos de vida se chocam e os interesses complicam o diálogo.
A questão de moradia. Nem todos os filhos e filhas com família têm condições de ter casa própria ou poder pagar aluguel. Muitos procuram espaço no terreno dos pais e vivem juntos. Pela estatística foi descoberto que muitos pais ou mães usam a sua aposentadoria para ajudar aos filhos e netos. É bom lembrar que muitos filhos cuja vida matrimonial acabou procuram apoio sob o teto dos pais. Reflete-se neste relacionamento o fiel retrato da vida social atual. Faz-se a pergunta: Os pais (avós) tem preparo para tal tarefa?.
Sob o aspecto da Comunidade crista, o envolvimento dos avôs com os netos é excelente, pois a questão de valores, contato com a Comunidade, espiritualidade, informações da história e tradição da família são assuntos de grande procura. A disponibilidade e a presença dos avôs é uma grande oferta à Comunidade cristã, pois a Comunidade cristã se preocupa com a vivência cristã no lar. O ritmo moderno de vida não oferece espaço para a oração, contar histórias da Bíblia e participar na vida comunitária. Os avôs, em sua devoção diária, levam a Deus os netos, filhos, parentes, amigos, a Comunidade e assuntos da Igreja. Assim os netos experimentam como lidar com dor, tristeza, perda, provas escolares, vestibular e escolhas, como por exemplo: a profissão, o companheiro, amigo e sua vida particular. Que papel maravilhoso os avôs poderiam assumir e tornar interprete da boa nova para a geração dos netos.
Um assunto muito concreto: lidar com a comida. Quanta comida é jogada fora por não gostar ou por querer algo melhor e diferente! Junto com os avôs os netos descobrem que sobra de comida poder ser aproveitada. E onde se aprende agradecer pela refeição sabe também valorizar a comida.
Na vida dos avôs há muita variação em sua saúde. Há momentos onde a força diminua quase a zero, onde o final da vida é visível. Certamente os netos vivem de primeira mão, como lidar com a questão de morrer. Este tema é hoje tabu, pois, pela propaganda, todos acham ter direito a uma vida sem fim. Verdade é que os avôs, os pais, os filhos e os parentes um dia irão morrer. Por tanto, nesta caminhada, os avôs poderiam ser uma referência para os netos. Por isso a Comunidade cristã precisa fortalecer e consolar os idosos em vista da eternidade que, a qualquer momento, se abre. Philipp Melanchthon orava com o salmo 71,9 assim: Não me rejeites agora que sou velho; não me abandones agora que estou fraco.
O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
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