A gente é gerado. Vive nove meses dentro da barriga da mãe e depois nasce. Cruza o túnel e depois vê luz; ouve barulho; precisa chorar; deve mamar; aprende a mascar. Num primeiro momento só vê gigantes ao seu lado, já num segundo percebe os iguais. Perde os dentes da frente; fica feio; esconde o sorriso; precisa se pentear; descobre solidariedade e aí vem o jardim. A vida se converte em briga de cotovelos. As influências se multiplicam. É preciso filtrar informações; entender o estado de espírito da professora; decifrar letras e números; gastar energias acumuladas; confiar em amigos; decidir por super-heróis. Num dado momento brota a vergonha dos pais; a percepção do sexo; os desejos internos e segue o baile. As pernas espicham; os pelos mancham a pele; os opostos se articulam. Agora é a vez de dar respostas; de satisfazer àqueles que investiram; de fazer escolhas: do curso; da namorada; da estrada. Festas, compromissos sociais – é a dança da vida. Tudo é dinâmico: formatura; primeiro emprego; chefes; coordenadores; casamento; apartamento. O ritmo é frenético e faz surgir uma conta no banco que supre o gás; o pão; o feijão. E lá vem o rebento. Ele terá em mãos o cetro capaz de fazer re-acontecer aquilo que uma vez já se viveu, mas daí a pele vai murchando; o rosto vai enrugando; os olhos vão enfoscando; os ouvidos vão duvidando e o vento segue uivando, enquanto os cabelos vão branqueando. Mesmo assim, se continua dando de si. E aí, um dia, de madrugada bate o telefone às quatro e trinta da manhã: Eu: - Alô!... Meu filho: – Pai! Tu acabas de ser avô.
P. Renato Luiz Becker
Par. São Mateus - Joinville - SC