16 de outubro – Dia Mundial da Alimentação
“Porque tive fome e me destes de comer”. Mateus 25.35
O Brasil voltou a ser ameaçado por um cenário de fome crônica. O anúncio ocorreu cinco anos depois da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) declarar que o Brasil não fazia mais parte do mapa mundial da fome. Segundo pesquisa recente divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada entre junho de 2017 e julho de 2018, a fome atingiu mais de 10 milhões de pessoas. A insegurança alimentar grave é ainda maior em famílias negras chefiadas por mulheres, na região nordeste. No meio rural, a fome ultrapassa os 7%. Esse cenário vai na contramão dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS – ONU), principalmente o ODS 2 que pretende acabar com todas as formas de fome e desnutrição, assegurando que todas as pessoas (especialmente as crianças) tenham acesso a alimentos suficientes e nutritivos durante todo o ano.
Porque tive fome e me destes de comer é anúncio de igualdade e amorosidade que se faz realidade através de políticas públicas que assegurem comida boa na mesa do povo, com justiça socioambiental e de gênero. Uma das ações de maior impacto foi o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a maior política de redução da fome no Brasil. Contudo, no ano de 2013, ela foi atacada pela operação Agro Fantasma, que criminalizou lideranças agricultoras por supostas fraudes e desvios. Mesmo com a absolvição das pessoas criminalizadas, o impacto no programa foi irreversível e os reflexos incidem na vida das pessoas mais vulneráveis.
Estamos diante de um Estado que não garante acesso universal à alimentação e não tem compromisso e compaixão com as dores e sofrimentos provocadas pela fome, que determinou a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), no início de 2019.
A crise econômica, agravada pela pandemia do Covid 19, tornou os números da fome ainda mais alarmantes. O aumento do desemprego atingiu 13,7 milhões de pessoas. As medidas restritivas à distribuição da merenda escolar afetaram o que muitas vezes era a única alimentação das crianças e adolescentes. Soma-se a isso o aumento no valor dos produtos da cesta básica, entre eles o feijão e o arroz, que são a base alimentar das famílias brasileiras.
Na mesma direção, amplia-se a expansão do agronegócio sustentado pelo forte discurso falacioso que se anuncia como o maior “produtor de alimentos”. Essa é uma das inverdades mais difundidas por essa grande indústria que, na verdade, produz commodities, destrói, incendeia e mata a sociobiodiversidade brasileira produzindo alimento envenenado sem qualidade. A isenção de impostos sobre os agrotóxicos contribui para o envenenamento dos alimentos, da população brasileira, da terra e das nascentes. Continuamos no topo mundial do uso de agrotóxicos na agricultura.
A agricultura agroecológica é a base para a segurança alimentar e para a soberania do país. São necessárias políticas públicas que reforcem e qualifiquem a produção de alimentos e a agroecologia. É urgente fortalecer o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para que crianças e suas famílias recebam alimentos, retomar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) como política social e de desenvolvimento transformador, para que famílias da agricultura familiar, assentadas e assentados da reforma agrária, comunidades kilombolas, comunidades indígenas, povos e comunidades tradicionais produzam alimentos e preservem os biomas.
Precisamos é de “comida boa na mesa”, comida de verdade, produzida pela agricultura familiar camponesa, de base agroecológica, sem violências, com justiça de gênero, com participação de juventudes, que promova o comércio justo e solidário, respeite a diversidade alimentar e cultural de cada região, que preserve o meio ambiente e que proporcione saúde e vida digna. Comida boa é comida limpa, com qualidade nutricional, sem agrotóxicos e manipulação transgênica.
COMIDA BOA NA MESA é AGROECOLOGIA.