Diaconia - Saúde e Alimentação



ID: 2783

Células-tronco

01/12/2011

Células-tronco

Uma entrevista com Dr. Victor Bauer Jr

Anuário: As células-tronco. De vez em quando encontramos nos meios de comunicação, algum debate sobre a matéria, por exemplo, se devem ser permitidas pesquisas com células-tronco embrionárias e sobre a aplicação de seus resultados na medicina. Poderia explicar para leigos, do que se trata, ou seja, o que são células-tronco?

Dr. Victor: As células-tronco são células presentes em todos os seres vivos e que possuem capacidade de regenerar, de consertar alterações que ocorrem nos organismos como um todo. O exemplo mais clássico que utilizo é quando você apresenta uma lesão em sua bochecha e a percebe. Se na mesma ocasião você sofrer um corte, por exemplo, em um dedo de sua mão, você poderá ter a seguinte constatação no decorrer de alguns dias: Que o corte em seu dedo demora mais tempo para cicatrizar do que a lesão em seu lábio ou bochecha, por exemplo.

Isto ocorre em consequência dos efeitos das células que têm por função efetuarem os reparos, a regeneração dos tecidos do organismo. O fato de ocorrer primeiramente a regeneração do lábio ou bochecha é mais lógico, concordam? Dedos temos muitos, e estes você pode imobilizar. Já a boca, se não houver uma recuperação mais rápida, poderá afetar a fala, a mastigação e comprometer a saúde como um todo.

Talvez você se pergunte: Como é que isto ocorre? A resposta é que os organismos vivos apresentam a característica de regenerar, de arrumar, o que está com dano; e isto é propriedade e incumbência destas células, chamadas de células-tronco.

Hoje é sabido que em todo nosso organismo existe maior ou menor número de células-tronco em diferentes órgãos, tais como coração, cérebro, pernas, visão. Quanto mais nobre o órgão, mais a natureza, por si só, tem o objetivo de arrumar o mais breve possível o dano que surgir, seja ele em decorrência de envelhecimento normal dos tecidos e órgãos, ou seja, em decorrência, por exemplo, de uma fratura decorrente de um acidente.

Creio que isto está entendido e compreendido. Igualmente deve-se levar em conta que quanto mais novo o ser vivo, mais empenho e reserva de células-tronco terá o seu organismo.

Como o avançar da idade, a reserva de células-tronco do organismo diminui e, o número de danos ao organismo é cada vez mais amplo, em decorrência, por exemplo, de uma pneumonia ou de um grave acidente. Por isto a humanidade vem buscando com recursos científicos resolver estes problemas de maneira mais rápida e resolutiva possível.

Isto gera a opção de ir à procura no corpo humano de locais em que exista maior número destas células-reparadoras. E um destes locais é a medula óssea, o mocotó presente na medula óssea, em especial na bacia.

Este tecido, além de outras propriedades, tem a função de manter uma produção e um estoque maior de células-tronco.

A exemplo do que ocorre na medula óssea, também foi comprovado que existem células-tronco em grande quantidade na placenta — cordão umbilical e igualmente nos embriões de todos os seres vi-vos. Tal fato se explica pela necessidade de crescimento deste novo ser vivo.

Agora fica claro por que uma pessoa jovem, quando fratura um braço, se recupera mais rápido que quando um idoso apresenta a mesma fratura. Correto?

Então, não está errado em sua totalidade em se procurar realizar pesquisa com células que apresentem este potencial de regeneração, uma vez que isto pode vir a atenuar o sofrimento de muitas pessoas com maior idade e inclusive ajudar as mais jovens quando apresentam um problema mais complexo.

Em verdade, o emprego de células-tronco pela medicina já existe há mais de 40 anos. Não tenha surpresa quanto a isto. Pois todos nós já ouvimos falar em transplante de medula óssea. Não é? Pois é. No mundo inteiro já foram tratadas mais de 10 milhões de pessoas, sendo muitas salvas com o transplante de medula heteróloga, ou seja, transplante de células da medula óssea de um doador saudável para um receptor doente, ou do transplante de sua própria medula óssea. É o caso, por exemplo, da aplicação no tratamento em diversos tipos de Leucemias.

Os estudos nesta área devem sempre seguir uma ordem progressiva: Iniciando com células-tronco de adultos, passando para células-tronco de cordão umbilical, e por fim células-tronco de embriões. Mas sempre se esgotando primeiro todas as possibilidades em cada opção citada, antes de dar o próximo passo. Mas com a evolução dos estudos, creio que dificilmente se chegará a enfocar especificamente a pesquisa em embriões humanos, uma vez que a medicina hoje já consegue através de células da pele de um adulto fazer com que as mesmas se comportem como as de um embrião. Daí se pode concluir que tudo poderá se resolver com perseverança e sapiência, respeitando os preceitos éticos e religiosos da vida e da dignidade humana.

Anuário: Por que este é um tema tão polêmico? Por que restrições à pesquisa, a ponto de ser vedada pelas autoridades? Como está a situação legal no Brasil?

Dr. Victor: As circunstâncias levantadas geram polêmica. O fato de alguns terem pressa, leva à euforia quanto à busca de soluções. Os resultados apresentados por vezes podem ser precipitados e sem o suficiente embasamento científico. Veja o caso nos Estados Unidos: Um presidente anterior realiza severas restrições e outro, subsequente, passa a ser mais flexível nas liberações de pesquisas.

No Brasil os estudos vêm acontecendo, com mais envolvimento com a comunidade científica, que, diga-se de passagem, é necessária e precisa realizar avanços.

Todos os estudos no Brasil seguem critérios, normativas pontuadas, e acordadas por entidades governamentais ou não, objetivando um bem comum, sem gerar-se falsas expectativas.

Anuário: Sabemos que o senhor, embora sendo Cirurgião Cardíaco, especializou-se e aplicou em sua atuação médica tratamento com células—tronco. Poderia contar-nos um pouco sobre o sucesso que teve e o futuro do tratamento com células tronco?

Dr. Victor: De fato, é um assunto que é atrativo e cativante. Em especial, na área de Cirurgia Cardíaca, área em que atuo. Pontuou-se no Brasil um estudo sobre os efeitos com terapia celular para o Coração. Este estudo foi subvencionado pelo Ministério da Saúde para alguns Centros de Referência e renome.

Tal fato fez com que vários pacientes nos procurassem. Mas nós não estamos inseridos nestes estudos aqui no Brasil, por não estarmos inseridos em Centros Universitários de Pesquisa. Nós tentamos nos inserir nesta pesquisa, pelo gosto pelo assunto, mas não tivemos êxito.

Diante disto, nos fizemos presentes no Congresso Mundial de Terapia Celular, em Berlim. Igualmente visitamos o Serviço na Universidade de Duesseldorf, onde foi realizado o primeiro procedimento com Células Tronco do mundo para coração. Naquela visita constatamos que os mesmos possuem enormes recursos e tecnologias e uma enorme experiência. Ali igualmente já passaram a atuar com a mesma técnica nos problemas de deficiência de circulação nas pernas e, comprovaram que há grandes chances de não mais se amputar pernas e pés, em especial nos pacientes com diabetes e/ou com problemas de colesterol, que podem desencadear a oclusão de artérias nos membros inferiores.

O Dr. Bodo Strauer, da Alemanha, idealizador da técnica de terapia com células-tronco para o coração, me citou e apresentou de um profissional na Argentina que trabalha e pesquisa nesta área.

Devido à grande liberdade e receptividade do mesmo, fui para a Argentina e participei dos estudos e testemunhei resultados bastante animadores na área de coração, de circulação das pernas e diabetes, dentre outras doenças.

Entendo que nenhum grupo científico tem a solução para tudo. Mas sem dúvida, este novo tipo de abordagem terapêutica poderá contribuir em muito. Cito um exemplo: Em um número de 200 pacientes que já teriam a indicação de realizar amputação de seu pé ou sua perna, somente 60 destes tiveram que se submeter à amputação. Já os demais 140 continuam sem precisar realizar realizá-la. O tempo de seguimento destes pacientes é que dirá se esta opção de terapia com células novas do próprio paciente passará a ser inserido como terapia definitiva e não apenas como alternativa em estudos. Falta pouco tempo para tudo isto ser colocado em prática. Temos outro exemplo: Pacientes com diabetes tipo II (do obeso) estão tendo implantadas células-tronco do próprio paciente no pâncreas. E já se tem estudos - e é pioneiro no mundo o grupo da Argentina - que demonstram que em torno de 83% dos pacientes deixa de se aplicar insulina. E isto, além de diminuir o desconforto do procedimento diário, diminui os custos e volta a oferecer ao paciente a normalidade. E também oferece a probabilidade de doenças relacionadas com o diabetes deixarem de progredir. Supõe-se que com este tratamento possamos estagnar a evolução do grau de comprometimento da visão, dos problemas renais, de coração, das carótidas e de deficiência de circulação para as pernas, dentre outros agravantes no paciente com diabetes.

O tempo dirá e guiará os caminhos lógicos a serem seguidos, com ética, respeito e pesquisa, vindos posteriormente a ser incorporados na medicina convencional e consagrando tais condutas de tratamento.

Quanto ao uso de células-tronco de outras fontes, a exemplo de Cordão Umbilical e de Embriões, creio que possam ser aventadas e dar-se continuidade em pesquisas. Mas ainda falta muito para ter-se o domínio e a convicção do aproveitamento pleno do que a natureza divina nos oferece com as células-tronco do próprio indivíduo. É o que eu teria para depor e agradecer a oportunidade.

Anuário: Obrigado por suas explicações!

O entrevistado é cardiologista, e atua no Hospital Nossa Senhora do Pilar em Curitiba/PR.
Entrevista realizada por P. em. Heinz Ehlert


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Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia - Saúde e alimentação
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
ID: 31843

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