Missão - acompanhamento e consolação



ID: 2876

Do Luto à Luta

09/03/2009

A dor da perda de um ente querido que amamos é, provavelmente, uma das mais difíceis de serem superadas. Nesse momento nos sentimos fracos e vulneráveis. Muitas pessoas se aproximam da família enlutada e nada dizem, pois se sentem impotentes diante da morte; outras, porém, tentam consolar a qualquer custo com frases vazias e rasas tipo: “foi Deus quem quis assim”, ou “não chore, isso passa com o tempo”.

Certa vez, uma jovem mãe havia perdido seu filhinho por causa de uma doença grave. Ela estava desolada diante do acontecido. Muitos, ao virem o desespero da mãe, tentavam acalmá-la dizendo: “você não pode agir desse jeito, por favor, pare de chorar”. De repente, essa mãe se levantou, fitou cada um nos olhos e disse: “Não me roubem o direito ao luto. Tenho que chorar a morte do meu filho sim!”.

Afinal como devemos reagir diante da morte?

Cada pessoa tem a sua própria trajetória na maneira como enfrenta o luto. Um desses acontecimentos relacionados à morte chama a atenção na bíblia: é a história de Noemi no livro de Rute no Primeiro Testamento. Neste texto é relatado como a morte invade insensivelmente a casa de Noemi ceifando a vida de seu marido e seus dois filhos casados (Rute 1.3-18). Três viúvas partilham a dor da perda de seus maridos. Essa era a situação de Noemi, Orfa e Rute. Passando por necessidade, precisam reagir e enfrentar a vida daqui pra frente. As noras dizem à sogra: “Nós voltaremos contigo para o teu povo” (Rt 1.10). O luto torna estas mulheres solidárias e prontas para encararem juntas as vidas numa situação de extremo sofrimento. Noemi não acha certo prender as noras. Elas eram novas e podiam regressar para suas famílias e recomeçar a vida num novo casamento. “Orfa se despediu de sua sogra e voltou para seu povo. Rute, porém, se apegou a ela”. (Rt 1.14). O passar do tempo exigiu decisões. No luto é assim. Não se pode acomodar. O amor, o carinho e a liberdade ajudaram as duas noras a decidirem, de modo consciente, a tomar caminhos diferentes: uma voltou para a casa paterna e outra foi com Noemi para Judá.

Após a insistência de Noemi para que Rute também voltasse para seus pais esta responde com convicção: “não insista comigo. Não vou voltar, nem vou deixar você. Aonde você for, eu também irei. Onde você viver eu também viverei. Seu povo será o meu povo, e seu Deus será o meu Deus. Onde você morrer, eu também morrerei e serei sepultada. Somente a morte poderá nos separar” (Rute 1. 16-17). A morte ao invés de desfazer um laço, fortaleceu ainda mais. Rute é sensível para com a situação de sua sogra que agora está só e não há ninguém por ela. A morte de seu marido e seus filhos a tornava vulnerável diante da sociedade. Rute não consolou Noemi com palavras rasas e vazias. Colocou-se a seu lado e deu-lhe a certeza de que não estava sozinha na dor. O exemplo de Rute e Noemi serve como exemplo ainda hoje para nós e nos ensina a sermos solidários e nos colocarmos ao lado das pessoas em sofrimento. Que o Deus da vida fortaleça cada vez mais o ministério do cuidado em nossas comunidades. Amém

P. Valdeci Foester
Pastor em Lajeado - RS


Autor(a): Valdeci Foester
Âmbito: IECLB / Sinodo: Vale do Taquari / Paróquia: Lajeado (RS)
Área: Missão / Nível: Missão - Acompanhamento e consolação
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8619

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