Há personalidades que merecem mais que um obituário. São um trecho da nossa história comum. As novas gerações merecem conhecer tais ícones mais de perto. O pastor Germano Burger é um deles.
Ele nasceu no dia 13 de outubro de 1932 como filho de pastor. Formado em Teologia pela Faculdade de Teologia no ano de 1957, Germano não foi o único dos filhos do pastor Burger a seguir a carreira do pai. Os seus irmãos Hans e Helmut também abraçaram o ministério pastoral por toda a vida.
O pastor Germano Burger fez história na IECLB desde seu concílio constituinte, como delegado ao Concílio Geral Extraordinário que aprovou a constituição da IECLB em 1968, na cidade de São Paulo. Também foi neste concílio que o pastor Germano foi instalado como um dos quatro primeiros pastores regionais da IECLB (foto), função que desempenhou por quase uma década (1968-1977).
Como homem que jamais se dobrou diante dos desafios, três dias após deixar de ser pastor regional em 1977, ele estava a postos em Campo Grande, para assumir um campo missionário nas novas áreas de colonização. Permaneceu por lá por três anos e foi neste período que o conheci, quando assumi minha primeira paróquia em Assis/SP, em julho de 1978, e pude sorver de sua imensa experiência pastoral como um jovem pastor em início de ministério.
Ele iniciou sua carreira ministerial na paróquia de Porto União e, como pastor de paróquia, também atuou, entre outras passagens por campos de atividade ministerial, em Carazinho (RS), Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ). Além de pastor regional da extinta terceira região eclesiástica da IECLB (RS), Burger foi o primeiro pastor sinodal do Sínodo Paranapanema. Em ambos ele foi o responsável pela estruturação do trabalho.
Entre 1974 e 1978, o pastor Germano Burger também foi um dos vice-presidentes da IECLB, período em que ajudou a definir as prioridades da igreja. Com o livro “Quem Assume Esta Tarefa?”, Burger reuniu os principais documentos da IECLB e traçou algumas das mais importantes diretivas para a definição de sua identidade. O livro ainda hoje lança importantes desafios para a IECLB.
O pastor também presidiu diversas comissões. Uma delas elaborou o guia de vida comunitária “Nossa Fé – Nossa Vida”. Outra, formulou a primeira reforma de estudo na antiga Faculdade de Teologia, em São Leopoldo.
Um de seus legados mais importantes foi a introdução e implantação da “Mordomia Cristã” nas comunidades. Para esta temática, atuou por dois anos na sede da IECLB (1966-1968). Quando assumiu como pastor regional em 1968, a RE III implantou um caixa comum de todas as suas paróquias, que centralizou toda a contabilidade na sede regional.
Outro legado de extrema importância foi seu empenho na busca de uma formação cristã contínua na IECLB, com o nome de Catecumenato Permanente. Tirar a igreja da rigidez pastoral em direção a uma maior participação de lideranças e envolver os membros a partir do sacerdócio geral, foi o desafio. Este é o embrião do que hoje se conhecer por Educação Cristã Contínua.
Autodidata e estudioso do direito eclesiástico, Germano Burger presidiu por muitos anos a Comissão Jurídico-Doutrinária da IECLB. “O desconhecimento da lei não é justificativa para o seu não-cumprimento”, era uma de suas frases preferidas, especialmente quando era confrontado com a ignorância de presbíteros e pastores sobre a legislação da igreja e do país.
Toda a atividade pastoral de Germano Burger em paróquias ou fora delas caracterizou-se por uma visão ampla da situação humana e da realidade da igreja a partir do evangelho. Ele tinha uma visão crítica aguçada acerca do presente e do futuro da IECLB. Polêmico e obstinado, Burger sempre defendeu seu pensamento com paixão e argumentos fortes. Nunca foi homem de desistir fácil de seus propósitos e sua liderança marcante deixou traços indeléveis na história da igreja brasileira.
Suas muitas lições devem ser resgatadas e preservadas, pois a IECLB deve muito ao seu ministério aguerrido e determinado. Tenho poucas imagens dessa trajetória. Encontrei duas na internet (é o primeiro à esquerda, na segunda foto). A primeira foto é um momento histórico, quando os primeiros quatro pastores regionais da IECLB foram instalados em São Paulo pelo pastor presidente Karl Gottschald (Vath, Stoer, Burger e Kunert, a partir da esquerda diante de Gottschald). O pastor Germano era o mais jovem dos quatro, tendo assumido a importante função aos 36 anos de idade.
Todo o seu ministério foi orientado no trabalho em equipe. A partir dos colegas da “cúpula” me sentia quase sempre no papel de “filho” incômodo e até mal-educado; e a partir da “base” me sentia como uma espécie de “pai” incômodo, mas solidário com os inconformados, escreve ele num de seus muitos textos. Em sua visão, o período em que atuou foi um exercício penoso de democratização da IECLB, quando fomos levados do pastorcentrismo ao Concílio do Catecumenato Permanente e em direção ao Ministério Compartilhado”.
Pastor Germano Burger encerrou sua carreira eclesiástica em dezembro de 2001, após 44 anos de dedicação ao ministério pastoral. Depois disso, enfrentou um calvário por conta do Mal de Alzheimer. Passou os últimos anos de sua vida no Ancionato Bethesda, em Pirabeiraba-Joinville (SC), sob os cuidados da esposa Margarete. O pastor Germano faleceu no último dia 2 de dezembro no Hospital de Pirabeiraba e foi sepultado no dia seguinte.
Clovis Horst Lindner