Ministério com Ordenação



ID: 2681

Prédica de Lucas 4.14-21

Culto de Desinstalação

31/01/2020

Responsável pela mensagem no Culto de Desinstalação, 31 de janeiro de 2020, Comunidade Evangélica de Picada Moinhos – Paróquia Evangélica de Boa Vista – Sínodo Sul-Rio-Grandense, o pastor Dietmar Teske proferiu a seguinte mensagem:

´Irmãs e irmãos em Cristo, de perto e de longe! Ao completar 40 anos de exercício da atividade ministerial na IECLB, trago como evangelho para a mensagem nesta noite de desinstalação, o mesmo texto usado, quando de minha instalação na ´Igreja de Jesus´, em frente à praça central de São Lourenço do Sul, no dia 27 de janeiro de 1980. Trata-se de Lucas 4, versículos 14 até 21. Destaco também que na mensagem de apresentação do Proclamar Libertação, auxílios homiléticos, os autores se basearam no evangelho de Lucas 4.18. Disso resultou o nome ´Proclamar Libertação´, que em 2020 chega no volume 44. A tarefa de ´proclamar libertação´, porém, não é tarefa exclusiva de ministros e ministras ordenados, mas de todos e todas chamados por Deus no Santo Batismo. Deus, conforme a leitura bíblica de 1ª. Coríntios 12, versículos 12 até 31ª, deu a cada pessoa dons e ninguém, portanto está dispensado. Todos/as os/as batizados/as são chamados a anunciar libertação com os dons que Deus conferiu e assim trazer uma boa notícia aos pobres, presos, cegos e oprimidos. E esta boa notícia deverá ser motivo de alegria. Por isso mesmo Deus celebra com alegria e o céu se abre, quando seu Filho, batizado por João Batista, sai das águas do Rio Jordão. Uma voz dizia: “Tu és o meu Filho querido que me dá muita alegria.”(Lc 3.22). Martim Lutero, o reformador, diz que o céu continua aberto e Deus continua se alegrando com cada pessoa de ontem, hoje e amanhã, que é batizada em nome do triúno Deus e, por sua vez, dá testemunho em palavra e em ação. A alegria de Deus, porém, não está destinada para depois desta vida terrena, mas aqui e agora é concreta e palpável. Por isso mesmo, Jesus, com os pés firmes no chão da vida, tem compromisso inabalável com os que lhe seguem e a quem chama de “Felizes são vocês, os pobres, pois o Reino de Deus é de vocês. Felizes são vocês os que agora têm fome, pois vão ter fartura. Felizes são vocês que agora choram, pois vão rir.”.(Lc 6.20s)

Jesus, ao declarar naquele sábado na sinagoga de Nazaré, lendo o profeta Isaías e afirmando: “Hoje se cumpriu o trecho das escrituras sagradas que vocês acabam de ouvir”(Lc 4.21), faz certamente o mais breve discurso sobre um trecho das Sagradas Escrituras. Os pobres do evangelho de Lucas não são os pobres de uma determinada classe social, mas aqueles que o sistema político e religioso exclui. É verdade que, ao declarar que ´Hoje se cumpriu...´ Jesus esteja apontando para si mesmo, mas ele não o faz prepotente com a atitude de quem se considera uma pessoa intocável. Sua atitude humilde permite que aqueles e aquelas que foram excluídos pelo sistema dos seres humanos retornem, agora convertidos e desafiados a viver um novo momento em suas vidas. Muitas pessoas não entenderam. Entre eles um dos ladrões, ele gritou: “Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é de fato o Messias que Deus escolheu.”(Lc 23.5). Mas outros tantos entenderam sua mensagem e o desafio que disso resulta para suas vidas. Os pobres do grande banquete (Lc 14.16ss) não pensaram duas vezes, ao serem convidados depois que os mais importantes declinaram do convite. Por isso alegres participaram da festa do Reino. Ao contar a parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37), Jesus desmascara os que se consideram bons aos seus próprios olhos e aponta para atitude salvadora do bom samaritano, que se torna próximo de quem mais precisa. Já na parábola do pai e de seus dois filhos (Lc 15.11-32), Jesus mostra o amor misericordioso de Deus, o Pai, quando o pai corre ao encontro do filho perdido sem perguntar se, aos olhos do mundo, este filho ainda merece tão grande compaixão. E, para quem duvida de que os ricos não tenham vez, Jesus procura Zaqueu e do encontro com o mesmo, Zaqueu retorna como uma pessoa arrependida com o enriquecimento ilícito e propõe reparar o mal que cometeu.

Por tudo o que falou e fez, Jesus pode ser considerado uma pessoa exitosa. Assim o foi aos olhos do Pai, mas não aos olhos do mundo. O apóstolo Paulo escreve “Jesus tornou-se obediente até a morte e morte de cruz.” (Fp 2.8) O projeto de Jesus é interrompido, porque não atendeu às expectativas de quem aqui no mundo exerce poder. Mesmo, quando pendurado na cruz, ainda poderia apelar para o Deus que o livraria, mas ele clama: “Pai, perdoa esta gente! Eles não sabem os que estão fazendo.” (Lc 23.34). Se Pôncio Pilatos e Roma, bem como os líderes religiosos e o rei ´fantoche´ de Jerusalém se considerariam vitoriosos, Deus, porém, ressuscitou Jesus. E ele caminharia vivo e ressurreto com os discípulos e os seus olhos se abriram e eles creram. Se, por um lado o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo nos quer ver reunidos e promete estar sempre conosco (Mt 18.20 e 28.20), por outro lado, não é possível ignorar, quando Jesus diz: “Mais felizes são aqueles que ouvem a mensagem de Deus e obedecem a ela.” (Lc 11.28) Quem se encontra nas pegadas de Jesus, pode até errar na tentativa de colocá-la em prática, mas não pode deixar de tentar.

No contexto pessoal, vejo com bons olhos a iniciativa da IECLB, ao viabilizar projetos, em que se procura ir ao encontro de pessoas que experimentam a fragilidade e a dor da enfermidade. A visitação a enfermos através de ministros/as e lideres leigos/as proporciona um ir ao encontro de quem sofre, seja da pessoa enferma ou de quem próximo e/ou responsável. Quantas pessoas encontram na pessoa que visita, que se coloca ao lado, escuta, ora e diz uma palavra de esperança, alguém que ajuda a superar situações adversas e não esmorecer. No contexto social e econômico, de ontem e de hoje, trago o fato narrado em seu livro sobre a Colônia São Lourenço por Edilberto Luiz Hammes, p. 59, onde traz a informação de quem 23 de dezembro de 1867 agricultores e suas famílias, em vez de festejarem o Natal, juntam-se e protestam diante da casa do fundador da colônia São Lourenço, cobrando promessas não cumpridas pelo colonizador. Há quem afirme que os colonos não passariam de baderneiros. Na verdade foi uma reação para reparar injustiças cometidas pelo colonizador, ao lucrar com a venda de terras e ferramentas para os agricultores recém-chegados à nova terra. Preocupados em não ser chamados injustamente de desordeiros e até de preguiçosos, muitos imigrantes alemães-pomeranos, humildes e trabalhadores, calaram e até consentiram que injustiças acontecessem, não sendo devidamente recompensados pelos produtos de suas lavouras.

Por isso, deveríamos saudar como benéfica, em termos de mais justiça social e econômica, quando em 1992, com apoio do CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, instituição ligada à IECLB, é fundada por pequenos agricultores a COOPAR - Cooperativa dos Pequenos Agricultores da Região Sul. Desde então, apesar de críticas, foi um instrumento de defesa e garantia de preços mais justos para os produtos dos pequenos agricultores familiares e, além, de industrializar aqui mesmo produtos oriundos do município, gerando empregos e agregando valor ao que é produzido nesta terra. Em nível de consciência ambiental, vejo como uma ação oriunda de um evangelho libertador, o cuidado da boa criação de Deus. Neste sentido foi uma perda irreparável a morte de Ana Maria Conrad Primavesi, falecida aos 99 anos, no último dia 5 de janeiro em São Paulo. Sua vida profissional, agrônoma formada na Áustria, que veio ao Brasil após a 2ª. Guerra Mundial, com seu marido e se estabeleceu no Estado de São Paulo. Ela mesma, a partir de estudos e lida com o solo desenvolveu uma visão bastante positiva do solo, tal qual a natureza o partilha conosco. Ela entende que o solo tem todos os ingredientes necessários para produzir alimentos saudáveis. Através de seus livros, oriundos de pesquisas quando professora na Universidade Federal de Santa Maria/RS, provou que o solo é um ser vivo. E, se dele cuidarmos, tal qual Deus o confiou ao ser humano, vamos colher alimentos saudáveis e ricos em nutrientes para a saúde humana. Apesar dos defensores implacáveis de defensivos e corretivos do solo, Ana Primavesi se tornou autoridade reconhecida e premiada mundialmente. Os exemplos citados, embora limitados a um determinado contexto, são testemunhas de quem, a partir do evangelho: “Hoje se cumpriu...” vê-se comprometido com uma atitude propositiva como o mundo que nos cerca e que espera a ação comprometida dos filhos e filhas de Deus.

Que humildes e alegres possamos também nós estar a serviço do Reino de Deus: indo e abraçando quem sofre, fomentando união que supera desigualdades e injustiças dos mais fracos e propor ações comprometidas com a boa criação de Deus, para que o mundo seja um ambiente de paz para todos e todas. Amém.

Divulgação: P. Dietmar Teske – Par. Ev. Boa Vista - Sínodo Sul-Rio-Grandense
 


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