Nestes 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência contra a Mulher, dos dias 26 novembro à 10 de dezembro, me fazem refletir mais uma vez as palavras que sempre me incomodaram. Não posso me aquietar perante as palavras que por séculos foram impostas por toda a cristandade. Ao ler as palavras de Paulo se constata que provavelmente ele não entendia profundamente todos os ensinamentos do Evangelho Jesus Cristo. E nós mulheres entendemos sua limitação, porque até hoje está cheio de pessoas assim por toda parte. Bem, se ele escreve para as mulheres ficarem quietas é porque elas falavam, questionavam, opinavam e faziam toda a diferença assim como hoje presenciamos nas igrejas por todos os continentes. Mas será que Paulo não ouvira falar que existiam discípulas e discípulos ao lado de Jesus!? E que as mulheres ficaram com Jesus nos momentos de dor e abandono na cruz e foram elas que receberam o primeiro anúncio da ressurreição? Paulo não percebeu que na casa de Lídia, onde foi fundada a primeira Igreja em Roma (ou seja, na Europa!), estava uma liderança comprometida integralmente ao serviço do Reino de Deus?! Há biblístas que defendem que estas palavras tortas remetidas a Paulo são acréscimos com o intuito de excluir as mulheres de cargos importantes nas igrejas e promover o seu silêncio. Tal estudo se encontra no documento “Política de Justiça de Gênero”, elaborado pela Federação Mundial de Igrejas (pg. 27). Sentimos na pele como essas palavras excludentes já massacraram, queimaram, humilharam mulheres cristãs no decorrer dos séculos, e no meio luterano também. No meio luterano também?!! Sim. Porque os homens vão celebrar em 2017 também os 500 Anos de ordenação de pastores e as mulheres vão celebrar 35 anos no Brasil e em outros pais apenas um pouco mais que isso. Algo aconteceu nesse caminho que gerou injustiça e silêncio... Até hoje muitos colegas ainda nos perguntam porquê precisamos nos reunir em encontros somente de Ministras. Gostaríamos de responder aos Paulos: “Queremos falar tudo que sufocamos e engolimos, queremos cantar todas as nossas canções e declamar todas as nossas poesias! Queremos viver a liberdade de sermos o que somos sem precisar provar nada!”. Outro dia uma mulher leiga me contou que em sua paróquia (da IECLB) o presbitério decidiu que os currículos de mulheres não seriam nem lidos para escolher quem iria se apresentar para a vaga pastoral. Sim, isso existe minha gente! E não apenas nas outras igrejas, na nossa também! E também nas nossas casas, a cada 5 minutos uma mulher sofre violência e nos cultos e estudos bíblicos pouco se fala sobre o “Lar nem tão doce lar” do dia a dia. Paulo, Paulo, o que você fez meu amigo? Você não teve uma mãe que te gerou e amamentou? Quando você precisou das mulheres para te ajudar na empreitada árdua de propagar o Evangelho, elas te assustavam por causa de sua tremenda e inabalável força?
Mulheres! Somos filhas abençoadas com dons inúmeros e Deus em seu Reino conta com a gente! Vamos testemunhar a vida, vamos gritar por nossos direitos, celebrar o amor e a esperança, chorar nossas dores, vibrar nossas entranhas por justiça e respeito!
Oração: Mãe bondosa que jamais abandona suas filhas e filhos( Isaías 66.13)! Faça de nós sacerdotes e sacerdotisas que anunciam e vivem a tua Palavra com comprometimento e verdade! Não suportamos mais tanta dor, lágrimas, desprezo, desigualdade. Queremos dignidade! Em nome de Jesus que nos ensina a amar amando. Amém.
