Mulheres conquistam espaço no ministério pastoral
Maristela Lívia Freiberg
¨Quando nasce uma pastora
Muita coisa se gestou
Com sacrifício e luta
Muita coisa se passou
Foi preciso resistência
Prá chegar onde chegou...¨
Louraini Christmann
A pastora Louraini Christmann ao escrever esta poesia aponta para o ministério pastoral assumido por mulheres. Nos últimos anos houve uma progressiva participação de mulheres nos mais variados campos da nossa sociedade. Na Igreja, as mulheres também começaram a ser reconhecidas quanto à sua atuação na vida eclesial, a frequentar faculdades de teologia e, consequentemente, foram admitidas no quadro das igrejas como obreiras pastoras. Isto influenciou na prática cotidiana das comunidades, como também na elaboração teológica e na organização dos diferentes serviços das Igrejas.
Recuperar a memória
O registro histórico da IECLB fala, até o presente, muito pouco ainda sobre a presença de mulheres, possibilitando a errônea ideia de que estas nunca participaram ativamente da vida eclesial. Contudo, sabemos que elas sempre estiveram presentes e desempenharam grande papel desde o surgimento das comunidade luteranas brasileiras. A experiência de mulheres como pastoras em comunidades da IECLB é uma realidade histórica desde 1976.
Refletir o processo de inclusão e presença de mulheres no ministério pastoral da IECLB significa fazer perguntas históricas, visualizar experiências vividas, partilhar sonhos, rascunhando assim algumas linhas desta história. Lidar com o passado, com a história é lidar com lembranças, heranças e memórias. Enquanto o teólogo e educador Rubem Alves alerta que ¨memórias não podem ser esquecidas¨, Umberto Eco afirma ¨para sobreviver é preciso contar histórias¨. A reapropriação da história das pastoras tem-se tornado cada vez mais importante por fazer parte da consciência e das prátcas cotidianas das mulheres.
Mulheres no pastorado
A participação das mulheres no ministério pastoral e o acesso à ordenação remonta ao processo de ingresso de mulheres no estudo de teologia. A Faculdade de Teologia da IECLB foi fundada em 1946 e foi em 1952 que se recebeu Eve Wysk, a primeira estudante mulher, no curso de teologia. Seguida desta primeira, outras duas matrículas femininas ocorreram em 1957 e 1962. Estas três estudantes não chegaram a concluir o curso. A primeira mulher a realizar o exame final teológico foi Elisabeth Dietschi, a qual estudou entre 1966 e 1970. Nos anos seguintes houve inscrições isoladas, porém gostaria de lembrar em especial Rita M. Panke que estudou entre 1971 e 1976, tornando-se a primeira pastora de comunidade da IECLB. Desde esta época tem havido um crescimento estatístico da participação de mulheres no estudo de teologia e no pastorado. Atualmente as pastoras representam 11% do total de obreiros e obreiras no ministério pastoral e o índice de ingresso na Faculdade de Teologia registra em torno de 40% de estudantes mulheres.
A pergunta necessária
Qual é a mudança que as pastoras estão gerando com a sua participação na IECLB? Muito se faz esta pergunta, mas vale lembrar que ainda não há uma resposta definitiva, e nem temos a intenção de tabular esta resposta. Primeiramente, é preciso dizer que as experiências são bastante diversas e não existe ainda um retrato histórico da presença das mulheres no ministério pastoral. Segundo, qualquer tentativa de definir um campo específico poderia gerar um estreitamento das possibilidades, estabelecendo um determinado padrão a ser seguido. Dentro deste raciocínio não deveríamos olhar para a mulher como alguém que precisa trazer uma contribuição totalmente nova para justificar sua presença. Participar do quadro de obreiros de sua Igreja é antes de mais nada um direito da pastora que quer exercitar seus dons e capacidades e de comunidades que desejam e reivindicam por uma mulher como líder, já que a própria comunidade é formada por homens e mulheres.
O fato de que as mulheres, que antes ocupavam uma situação marginal nas comunidades, conquistaram um papel ativo de liderança, propicia às demais pessoas que ainda vivem em uma situação marginal a possibilidade concreta de mudar a história e passar a partilhar um espaço ativo, quebrando com uma determinada estrutura estabelecida.
O que aconteceu nestes últimos 20 anos é o começo do futuro. Estas memórias são um processo de aprendizado das pastoras. Uma história fracionada em fatos, práticas, experiências, estórias e discursos das pastoras. A presença de pastoras tem dado um outro rosto à cara de nossas comunidades. Uma história que merece ser lembrada e não esquecida.
A autora é pastora da IECLB, e faz curso de mestrado em teologia no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, em São Leopoldo, RS
Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998