Buscai o bem e não o mal! Amós 5.14a
O texto do profeta Amós tem sido para mim uma companhia provocadora, inspiradora e encorajadora! O tom de ameaça que perpassa toda a sua mensagem inquieta. Buscar o bem e não o mal, buscar o direito e a justiça, em Amós, é expressão de uma vivência ministerial nada fácil, de uma espiritualidade que não abre mão da história, porque se fizer isto só fará multiplicar o pecado, a alienação! Buscar o bem, num contexto em que o mal mostra o seu rosto em tantas formas de violência como temos experimentado nestes últimos tempos em nosso país, em que o desrespeito aos direitos, como denunciados por Amós, parece rotina (Amós 5.10-13), chamam à resistência, a reconstruir esperança. Caminho fácil? De forma alguma! Buscar o bem, num contexto em que o mal desumaniza, é fundamental enquanto testemunho da graça de Deus, que confere dignidade, identidade, valor. Buscar o bem faz caminhar.
É neste caminhar que, mais uma vez, celebramos o dia do Ministro, da Ministra. Desejo que o dia de hoje seja significativo, momento de perceber a mão amorosa e cuidadora de Deus na história de nossas vidas, momento de ouvir sua palavra que potencializa a paixão pela vida, a paixão pelo ministério a nós confiado.
É nesta perspectiva que quero conversar com vocês, Ministros e Ministras da IECLB, acerca de nossa caminhada conjunta!
Num aniversário ganhei um presente de alguém que estava preocupado comigo! Trata-se do livro de Manfred F. R. Kets de Vries, “O efeito porco-espinho: Os segredos de se construir equipes de alto desempenho”. A minha primeira reação foi: “Bah, lá vem mais um daqueles livros com receitas para empresas e nós não somos uma empresa, somos uma Igreja”! Ainda assim, fui levado pela curiosidade! Comecei a ler e não parei até chegar ao seu final! Por quê? Porque ele fala de relações humanas! Tema recorrente em minhas conversas e encontros com Ministros e Ministras da IECLB!
Quero compartilhar com você algumas partes que mexeram comigo e me fizeram pensar muito acerca de como eu próprio me vejo no exercício do ministério pastoral na IECLB! Começo com parte da conclusão:
“Certa vez, um monge partiu em uma longa peregrinação para tentar encontrar ‘a divindade’. Depois de devotar muitos anos de sua vida a tal busca, ele finalmente deparou com o rio que, segundo a lenda, o separava das terras onde vivia o iluminado. Então o monge entrou em um pequeno barco para fazer a travessia. Conforme o barqueiro remava, o passageiro observava atentamente o local e, depois de algum tempo, ele reparou em algo que parecia flutuar na direção deles. À medida que se aproximava, ele percebeu que o objeto flutuante era, na verdade, o corpo de um homem. Este, aliás, passou tão perto da embarcação que o monge quase pôde tocá-lo. De fato, para sua enorme surpresa ele reconheceu o rosto do homem – tratava-se dele mesmo! O monge perdeu o controle e começou a chorar ao ver a si mesmo inerte e sem vida, sendo levado pelas correntes. Aquele momento foi o início de sua própria iluminação. Ele percebeu que havia dentro dele uma morte que precisava ser combatida.” (p. 299-300)
O que o mundo corporativo está aprendendo, que pode nos inspirar diante dos desafios atuais que vivemos no exercício de nosso ministério? Que “o trabalho em grupo é atualmente uma competência essencial em nossa sociedade de conhecimento, assim como já se revelava uma competência primordial na sociedade paleolítica”. (p. 300)
O que está em jogo nesta visão? Prazer e realização no trabalho, eficiência, ambiente de trabalho criativo, dinâmico, onde o capital humano é valorizado! Cultura de confiança e reciprocidade! Contexto em que o bem-estar físico e psicológico está contemplado, para que possamos exercer com paixão o nosso trabalho!
O que isto tem a ver com os porcos-espinhos da fábula do filósofo alemão Schopenhauer do século XIX? Nesta fábula é narrada
“uma história sobre os dilemas enfrentados pelos porcos-espinhos durante o inverno. Sempre que a temperatura caía muito, os animais tentavam se aproximar uns dos outros e, assim, compartilhar o calor corporal. Porém, logo que ficavam mais perto uns dos outros, eles passavam a se machucar e também a ferir seus pares com seus próprios espinhos. Por causa disso, eles resolviam se afastar novamente para se sentirem mais confortáveis. Todavia, o frio extremo mais uma vez os impelia a tentar se aproximar, e, na sequência, o mesmo desconforto já experimentado voltava a incomodá-los. Finalmente, depois de muitas tentativas frustradas, os porcos-espinhos acabavam percebendo que a melhor opção era manter uma distância segura de seus ‘companheiros’ – nem tanto longe nem tanto perto.” (p. XV-XVI).
Depois de muitos encontros, tenho me perguntado o seguinte: de quanta intimidade, proximidade, nós Ministros e Ministras realmente precisamos para sobreviver nesse mundo, no exercício de nosso ministério? Será o dilema dos porcos-espinhos similar ao que nós enfrentamos? Será que estamos destinados a agir como os ouriços da fábula – em eterna luta para equilibrar as relações dolorosas e o isolamento desprovido de amor? Será que sempre teremos de lutar contra o medo de nos envolvermos uns com os outros e, ao mesmo tempo, de nos sentirmos solitários? (p. XVI)
Na sequência, o autor relata uma estória muito interessante. Vejamos!
Certo dia, um enorme leão, um macaco e uma raposa decidiram caçar juntos. Eles imaginaram que, se assim o fizessem, conseguiriam ser mais bem-sucedidos do que se trabalhassem isoladamente - e estavam certos. No final do dia o time havia amealhado uma grande quantidade de alimentos. “Certo”, disse o macaco, “vamos compartilhar tudo igualmente”. Então o pequeno animal dividiu o todo em três partes iguais. Quando o leão viu o que o macaco fizera, ele rugiu: “Mas o que é isso?” Em seguida o grande felino saltou sobre o macaco, matou-o e o devorou. Daí ele se voltou para a raposa e disse: “Agora é a sua vez de dividir a comida”. Então, a raposa, que possuía mais inteligência emocional que o macaco, fez duas pilhas – uma gigantesca, a outra bem pequena. “Hum”, rugiu o leão, puxando para si a grande montanha de carne. “Quem a ensinou a dividir as coisas tão bem?” perguntou o leão. “O macaco”, replicou a raposa! (p. 12-13)
A esta estória segue um questionário: sua organização é afetada por “assassinos de times”? Ou seja, há muitos conflitos, prevalecem os desentendimentos, a participação e comprometimento entre vocês é desigual, prevalece a falta de visão e a indiferença em relação aos objetivos da organização, você se basta, você gosta de terceirizar responsabilidades? (p.14)
O autor do livro sublinha que o talento individual é capaz de vencer alguns jogos, mas a inteligência e o trabalho em equipe são responsáveis por ganhar campeonatos. Ele retoma uma frase conhecida dos três mosqueteiros: “Um por todos e todos por um!” E continua: é por meio da cooperação, não do conflito, que alcançamos nossos maiores sucessos. Se estivermos preparados para apoiar uns aos outros, a maior parte de nossos problemas já estará solucionada. (p.3) Os mosqueteiros não formavam apenas uma espécie de irmandade – juntos, eles serviam a uma grande causa! (p. 11)
O que aprendi com esta leitura? Que preciso cuidar para não deixar a morte que há dentro de mim conduzir-me por um caminho solitário (mesmo estando numa Comunidade e tendo muitos amigos no facebook), individualista, egoísta, narcisista! Esta é uma grande tentação em nossos dias! Aprendi que trabalhar com colegas de ministério, Pastores e Pastoras, Catequistas, Diáconos e Diáconas, Diaconisas, Missionários e Missionárias, enquanto time, é um exercício difícil, mas extremamente rico e necessário em termos de crescimento humano e vivência comunitária. Precisamos treinar o diálogo, o compartilhar, o ouvir quem pensa diferente, argumentar, recuar, ponderar, silenciar. Aprendi que sempre há algo para aprender e que é necessário, sim, aprender ainda mais, renovar-se, reciclar-se, buscar ajuda, pedir ajuda, se deixar ajudar. Que é preciso assumir riscos! O primeiro risco é o de ser honesto consigo mesmo! Que apoiar o/a colega, que exercitar a confiança, que expor fragilidades e incertezas, de forma alguma me fragiliza, mas me fortalece e aprofunda os vínculos e a cumplicidade no exercício do ministério. Que, no final, todos e todas vamos ganhar, todos e todas e não apenas um ou uma! A experiência de viver da graça de Deus torna a vida mais leve, até porque os desafios que enfrentamos, por si só, já são pesados! Fazer o bem faz bem! A começar para nós Ministros e Ministras!
É nesta perspectiva que quero desejar a cada um e a cada uma de vocês um abençoado dia do Ministro e da Ministra, na certeza de que “é Deus que está entre nós em esperança solidária” (HPD 432).
Fraterno Abraço,
P. Nestor Paulo Friedrich
Pastor Presidente