Ministério com Ordenação



ID: 2681

A história do ministério diaconal na IECLB

02/08/2007

 

A história do ministério diaconal na IECLB

Gisela Beulke

Introdução

Os imigrantes que mais tarde formariam a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), ''alemães, suíços, holandeses, dinamarqueses e outros, quando vieram ao Brasil a partir de 1822, trouxeram suas diferentes tradições e sua vida religiosa''1 . Considerando as condições adversas encontradas na nova terra, um aspecto comum da sua vivência deve ter sido a solidariedade. O apoio mútuo entre os vizinhos era também a forma de concretizar sua fé no cotidiano. Essa diaconia era espontânea, e sua aprendizagem também acontecia espontaneamente. Para as parteiras, por exemplo, não havia cursos que elas pudessem freqüentar. Seus conhecimentos eram passados de pessoa para pessoa e de uma geração à outra. Não sabemos precisar o tempo em que a diaconia no Brasil passou para um nível mais profissional. Essa história ainda carece de um estudo científico mais aprofundado. Temos, no entanto, algumas informações sobre o desenvolvimento da formação diaconal da época mais recente que queremos transmitir neste artigo. Elas estão baseadas na pesquisa de documentos escritos e na vivência da autora2 .

1 - Aspectos históricos do diaconato feminino

1.1 - Uma forma adequada para o século XIX

Os imigrantes alemães, desde a sua chegada ao Brasil, sentiram falta de lideranças eclesiásticas e, por isso, pediram aos órgãos competentes na Alemanha que enviassem pastores. Igualmente perceberam a necessidade de assistência na área da saúde e educação de crianças. Ao saberem que na Alemanha havia diaconisas com experiência profissional nessas duas áreas, o interesse de ter essas obreiras trabalhando nas comunidades brasileiras foi muito grande. No entanto, só foi no início do século XX que isso se tornaria possível.

Em 1836, surgira uma forma de diaconato feminino em Kaiserswerth na Alemanha, que se tornaria padrão no mundo evangélico por muitas décadas. Theodor Fliedner, que se intitulara ''o renovador do ministério apostólico das diaconisas'', abriu para as mulheres a possibilidade de exercerem uma profissão e, ao mesmo tempo, uma chance de ocuparem um ministério eclesiástico. Elas foram chamadas de diaconisas, mas, por formarem irmandades, também se tornaram conhecidas como ''irmãs''. A forma era adequada para o contexto social e eclesiástico da época, razão por que o número de diaconisas crescia rapidamente na Alemanha. Houve uma época em que o número de diaconisas era maior que o dos pastores. Os motivos eram óbvios: permitia-se, finalmente, à mulher abraçar uma profissão fora de sua casa e um espaço de liderança na Igreja. Além disso, o contexto social da época requeria pessoas capacitadas para o trabalho diaconal.

As diaconisas eram mulheres com dupla qualificação: tinham uma boa formação profissional e, por participarem de uma comunhão que cultivava a espiritualidade cristã, estavam aptas a exercer um ministério eclesiástico. Esse, no entanto, não tinha lugar oficial na estrutura das Igrejas Territoriais da Alemanha.

Algumas irmandades cresceram tanto que foi necessário fundar novas Casas Matrizes. No entanto, apesar do crescimento rápido, nunca havia diaconisas em número suficiente. Por isso, quando comunidades brasileiras chamaram diaconisas para trabalhar no Brasil, uma nova Casa Matriz de Diaconisas teve que ser aberta com o objetivo específico de formar diaconisas para o exterior. Ela foi fundada em Münster, em 1909, e teve como grupo de apoio a ''Ordem Auxiliadora de Senhoras para o Exterior''. Três anos mais tarde, essa casa de formação foi transferida para Wittenberg3 . Nessa irmandade ingressaram mulheres evangélicas alemãs, mas também mulheres brasileiras que haviam viajado à Alemanha para fazer um curso profissionalizante nas áreas da enfermagem, obstetrícia, educação infantil, ou educação para o lar.

1.2 - Diaconisas no Brasil

Já em 1913, as primeiras diaconisas haviam completado a sua formação e, após sua consagração (atualmente ordenação) na Igreja do Castelo de Wittenberg, viajaram ao Brasil e ao Chile. Infelizmente, o número inicial de diaconisas enviadas ao exterior ficou reduzido, porque a Primeira Guerra Mundial (de 1914 a 1918) impediu temporariamente a sua vinda. Pelo mesmo motivo, o trabalho no Chile não teve continuidade4 . Mais tarde, também outras irmandades alemãs enviaram diaconisas ao Brasil. O trabalho pioneiro que aqui realizaram na área da saúde, da educação infantil e com adolescentes foi de grande importância.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Irmandade de Wittenberg havia diminuído muito em número. Não podendo mais manter o hospital, as Irmãs entregaram a responsabilidade a uma outra irmandade, unindo-se à Irmandade de Kaisersweth. Aqui se formou um novo grupo de apoio ao trabalho no Brasil, que hoje tem o nome de ''Parceria Diaconal com o Brasil''.

O plano original da Ordem Auxiliadora de Senhoras para o Exterior, bem como das lideranças das comunidades evangélicas no Brasil, havia sido a atuação das diaconisas nas comunidades. Além dos serviços que prestariam à comunidade, elas passariam seus conhecimentos profissionais para outras mulheres, contribuindo assim para o fortalecimento da diaconia espontânea.

No entanto, os hospitais e as maternidades que surgiram na época começaram a requerer e absorver a maioria das diaconisas disponíveis. Uma pequena estatística comprova essa evolução: das 13 diaconisas enviadas pela Casa Matriz de Diaconisas de Wittenberg para o Brasil em 1914, 7 trabalhavam em comunidades evangélicas. Em 1937, o número de diaconisas havia crescido para 90, mas somente 5 atuavam em comunidade (uma na cidade do Rio de Janeiro, as outras no Estado de Santa Catarina, ou seja, em Blumenau, Joinville, Brusque e Timbó)5 .

Com a proibição do uso da língua alemã, na época do Estado Novo, as diaconisas perderam todos os campos de educação infantil e juvenil, passando a concentrar suas forças nos hospitais. Mas a semente estava lançada: jardins de infância tiveram continuidade e serviram de base para o surgimento de escolas, como, por exemplo, o Colégio Bom Jesus em Joinville e o Ginásio da Paz em Porto Alegre.

Mesmo assim, foi dada uma contribuição importante à formação diaconal pelos hospitais em que atuavam diaconisas. Um exemplo é o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que foi a sede das diaconisas alemãs, oriundas de Wittenberg e Kaiserswerth. Logo no primeiro ano do seu funcionamento, em 1927, cria-se junto a esse hospital um Curso de Enfermagem, não só para atender às necessidades do próprio hospital, mas também para servir à sociedade em geral, formando profissionais na área da saúde6 . Mais tarde, o curso e os estágios também foram oferecidos para quem se sabia vocacionado para o ministério diaconal na IECLB.

2 - A formação para o diaconato no Rio Grande do Sul

2.1 - A importância da Casa Matriz de Diaconisas em São Leopoldo

Na década de trinta, do século XX, cresce no Brasil o desejo de se ter uma casa de formação diaconal brasileira. No congresso da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas do Sínodo Riograndense, ocorrido em Santa Cruz do Sul, em 1938, decidiu-se fundar a Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS. A fundação aconteceu em 17 de maio de 1939. O início da formação diaconal nessa Casa foi extremamente difícil, porque coincidiu com o período da Segunda Guerra Mundial.

A partir da fundação da Casa Matriz de Diaconisas, todo o preparo diaconal feminino passa a acontecer no Brasil. A Casa Matriz de Diaconisas oferece a formação bíblico-teológica e diaconal; após, as jovens irmãs fazem um curso que as habilita profissionalmente na área das ciências humanas. A maioria das diaconisas faz o curso de enfermagem no Hospital Moinhos de Vento. Algumas seguem os estudos, freqüentando o curso superior de Enfermagem. Outras se preparam para atuar na área da educação, em especial na educação infantil, ou na área da nutrição.

A responsabilidade pela consagração ao ministério diaconal cabia, teoricamente, à direção da IECLB. O ofício também era realizado publicamente, num culto da comunidade, mas o oficiante era o pastor da irmandade, e quem decidia sobre a habilitação da irmã para a consagração era, em primeira instância, a direção da irmandade.

De 1939 até 1973, a formação diaconal feminina acontecia na Casa Matriz de Diaconisas e destinava-se especificamente às jovens que se sabiam vocacionadas para o ministério diaconal. Na época, só havia um caminho para esse ministério: fazer parte da comunhão das irmãs. Sempre foi consenso que a prática da diaconia não poderia ficar restrita ao trabalho das diaconisas. Por isso, durante todo esse período, a Casa Matriz ofereceu um curso prático de um ano para jovens, na intenção de despertar para uma compreensão melhor da diaconia. Chamou o curso de ''Ano Diaconal''. Muitas das centenas de jovens que conviveram com as irmãs na Casa Matriz receberam incentivos significativos para sua vida pessoal e comunitária.

No entanto, seria necessário criar mais alternativas para que a Casa Matriz, como centro de formação diaconal, pudesse cumprir seu papel. Em 1964, Lindolfo Weingärtner escreveu um artigo intitulado: ''A estrutura diacônica da comunidade''. Nele escreve sobre a necessidade de a irmandade se abrir, mudar e procurar contagiar as comunidades, ajudando-as a assumirem sua tarefa diaconal. Isso incluiria formação diaconal para membros da comunidade7 . Rolf Droste, numa palestra proferida em 1970, previa que, no futuro, obreiras e obreiros do ministério diaconal ajudariam a preparar e mobilizar as comunidades para a diaconia8 .

2.2 - A criação do Seminário Bíblico-Diaconal

Reconheceu-se, no entanto, que a formação deveria ser mais ampla e dirigir-se também a jovens vocacionadas para o ministério que não se identificavam com o estilo de vida das irmãs. Havia um descompasso entre o pequeno número de jovens que ingressavam na irmandade e os muitos pedidos por irmãs, provindos das comunidades que sentiam falta de lideranças femininas para determinados serviços. Por isso, criou-se, em 1972, um grupo de estudo para refletir sobre o futuro da formação diaconal. O grupo chegou à conclusão de que não se pode mais preparar para o diaconato apenas mulheres que desejam integrar a irmandade. Faz-se necessário ampliar e diversificar a formação.

Surge então, em 1974, o Seminário Bíblico-Diaconal, junto à Casa Matriz de Diaconisas. Esse passa a formar mulheres para o diaconato, sendo o curso, inicialmente, de três anos. Formam-se assistentes comunitárias. Ele tem o reconhecimento da IECLB como curso que habilita ao Ministério Diaconal. Muitos docentes da Escola Superior de Teologia, bem como do Colégio Sinodal, passam a integrar o corpo docente do Seminário. Essa formação, além da fundamentação bíblico-teológica e diaconal, tem três enfoques: o trabalho em comunidades eclesiais, o trabalho com idosos e o trabalho com crianças em idade pré-escolar (educação infantil)9 . Também os estágios e a prática diaconal acontecem nessas três áreas. Alguns são realizados durante o curso, um outro acontece logo após a conclusão da formação teórica em residência. Esse último assemelha-se ao atual Período Prático de Habilitação ao Ministério (PPHM) da IECLB.

2.3 - Várias mudanças de currículo

A preocupação com o reconhecimento da formação pela Secretaria de Educação e a necessidade de certificação reconhecida no país levaram a coordenação do Seminário a procurar novos caminhos. A partir de 1980, é criado o curso de Auxiliar em Desenvolvimento de Comunidade, em parceria com o Colégio Sinodal. Esse curso profissionalizante é oficialmente reconhecido pelos órgãos públicos. Para estudantes do Seminário BíblicoDiaconal que ainda não concluíram o ensino médio, o curso passa a ter quatro anos de duração. Para quem tem o ensino médio, o curso continua sendo de três anos. As disciplinas bíblico-teológicas e diaconais são dadas no Seminário e as específicas do ensino médio e do Auxiliar em Desenvolvimento de Comunidade, no Colégio Sinodal. O encarecimento da formação traz preocupações tanto para as alunas, quanto para a direção da Casa Matriz de Diaconisas e do Seminário Bíblico-Diaconal.

Em 1991, são feitas novas mudanças no currículo e o centro de formação recebe o nome de Escola Seminário Bíblico-Diaconal. Os cursos são Supletivos de Qualificação Profissional, reconhecidos oficialmente em três áreas: auxiliar em creche, auxiliar em desenvolvimento de comunidade e assistente gerontológico. Integrados à formação bíblico-teológico-diaconal, preparam pessoas para o ministério diaconal. A formação passa a ter apenas dois anos de duração e também são aceitos alunos do sexo masculino.

Ao mesmo tempo em que se diminui o período de formação, constata-se que a formação teológico-diaconal é precária, motivo por que, em 1995, a Escola Supletivo Seminário Bíblico-Diaconal oferece um curso de Extensão Diaconal, em parceria com a IECLB, na Escola Superior de Teologia, a fim de possibilitar um aprofundamento teológico-diaconal.

3 - Aspectos históricos do diaconato masculino

3.1 - O início da formação diaconal no Espírito Santo

Como no sul do país, também no estado do Espírito Santo surgiram diversas colônias de imigrantes europeus no século XIX. O primeiro grupo de imigrantes alemães se estabeleceu em Santa Isabel, em 184710. Esses imigrantes também manifestaram, junto aos órgãos competentes na Alemanha, o desejo de ter uma assessoria mais significativa por parte de obreiros eclesiásticos. Johann Hinrich Wichern abrira em 1833, na cidade de Hamburg, Alemanha, uma casa para meninos de rua11. Seus colaboradores, identificados com a causa, também recebiam um preparo teórico. Wichern os chamou de irmãos e diáconos. Na época, surgiram várias outras instituições diaconais, às quais se associava uma formação para diáconos. Uma delas foi o Johannesstift em Berlim, fundado por Wichern, em 1958. Dessa e de outras instituições vieram diáconos ao Brasil. Sobre o trabalho de alguns deles escreveu o pastor Artur Schmidt em sua pesquisa sobre a diaconia no Espírito Santo. Infelizmente, todos os diáconos alemães assumiram funções pastorais, em prejuízo do trabalho diaconal no Brasil.

Em 1951, o pastor Artur Gustav Schmidt12 veio ao Brasil para assumir um pastorado no Espírito Santo. Ele conhecia instituições diaconais na Alemanha. Também visitara a Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo. Schmidt viu a necessidade de promover a diaconia no Brasil. Por isso, fundou, em 1956, uma Escola Bíblica [Bibelschule]13 em Serra Pelada, município de Afonso Cláudio, com a finalidade de formar colaboradores diaconais para as comunidades [Gemeindehelfer]. Ofereceu essa formação para rapazes. Contudo, logo também mulheres se candidataram para esse estudo.

Desde o princípio, a intenção de Schmidt foi formar diáconos. Contudo, decidiu iniciar com uma formação básica. Mas já após quatro anos, ele comunica às comunidades que a instituição em Serra Pelada mudou o nome para Casa Evangélico-Luterana de Irmãos no Brasil, ou seja: ''Evangelisch-Lutherisches Brüderhaus in Brasilien''14. Não se tratava apenas de uma mudança de nome, mas também de conteúdo programático: além da formação básica, haveria uma formação específica para o diaconato.

3.2 - A ADL como importante centro de formação diaconal

Desde 1979, a casa de formação em Serra Pelada é conhecida como ADL (Associação Diacônica Luterana). Ela preparou homens e mulheres para o diaconato na IECLB, desde 1956 até fins de 1998. Além de práticas comunitárias durante o período de estudo, a formação também incluía períodos de estágio em comunidades e instituições diaconais e sociais, valorizando sempre a música.

Essa casa de formação diaconal foi e é muito importante para a IECLB, em especial para o estado do Espírito Santo e suas comunidades luteranas. Sem os ex-alunos da ADL, a IECLB seria mais pobre e, possivelmente, o Espírito Santo teria sido privado de lideranças qualificadas com valores éticos e profissionais. A partir de 1999, quando a formação para o diaconato é assumida pela Escola Superior de Teologia, a ADL não deixa de ser um centro de formação diaconal importante na IECLB. Ela encontrou sua missão no preparo de lideranças comunitárias com enfoque diaconal, priorizando a música e o cultivo cuidadoso e responsável da terra.

Obreiros e obreiras diaconais formados na Associação Diacônica Luterana realizaram trabalhos pioneiros muito importantes. Inicialmente, alguns ex-alunos da ex-Escola Bíblica (ADL) assumiram tarefas pastorais, após se formarem. Muitas/os ex-alunas/os realizaram e realizam trabalhos comunitários importantes, colocando significativas marcas diaconais em comunidades e instituições da IECLB. A ADL também foi sempre um centro catalizador de vocações para a EST (Escola Superior de Teologia).

4 - As comunhões diaconais

O apoio mútuo entre obreiros e obreiras diaconais foi sempre uma característica do diaconato. A irmandade tem como tradição a vida comunitária, onde o fortalecimento mútuo na fé e no serviço sempre foi fundamental. O iniciador da formação dos diáconos no Espírito Santo fez questão de chamar a instituição em Serra Pelada de Casa de Irmãos [Brüderhaus], para deixar claro que o ministério precisa do apoio de irmãos15. Quando as primeiras alunas do Seminário Bíblico-Diaconal se formaram em São Leopoldo, não tiveram dúvida sobre a importância de também formarem uma comunhão, a fim de vivenciarem a solidariedade mútua nas questões pessoais e profissionais. A fundação da segunda comunhão diaconal brasileira aconteceu no dia 31 de outubro de 1976, na ADL, quando ex-alunas do Seminário Bíblico-Diaconal se uniram com ex-alunos e ex-alunas da ADL, na Comunhão de Obreiros e Obreiras Diaconais. Desde então, existem na IECLB duas comunhões: a comunhão das diaconisas, que formam a Irmandade Evangélica Luterana, e a comunhão dos diáconos e das diáconas, formando hoje a Comunhão Diaconal, mais conhecida por COD.

Mesmo formando grupos com identificação própria, as comunhões abraçaram juntas diversas causas diaconais. As décadas de setenta e oitenta estão marcadas pela busca conjunta de maior eficiência e valorização da diaconia. Muitos encontros tiveram como objetivo o fortalecimento da unidade e a formação continuada de seus membros. Uma temática constante foi a organização da diaconia na IECLB e o resgate do lugar do ministério diaconal na Igreja.

Fazer parte de uma das duas comunhões era, até o ano de 2002, condição para quem desejava assumir o ministério diaconal. Com a elaboração de um único estatuto para os diversos ministérios, não foi mais possível manter essa ligação estreita entre comunhão e ministério.

5 - O processo de integração do diaconato na estrutura da IECLB

5.1 - O Conselho da Obra Diaconal

No ano de 1973, nasce o Conselho da Obra Diaconal, como primeiro ensaio de organização da diaconia na IECLB. O Conselho tem como tarefa assessorar iniciativas diaconais em instituições e comunidades, bem como acompanhar o conteúdo programático das duas instituições de formação diaconal. Ele também se preocupa com o surgimento de uma segunda comunhão diaconal, ao lado da irmandade.

Constata-se que a Igreja ainda não sabia bem como lidar com as/os profissionais de diaconia. Contudo buscava-se uma maior integração na estrutura da Igreja. Isso reflete o conteúdo de algumas atas do Conselho da Obra Diaconal. Na ata do dia 20 de setembro de 1974, consta que se planeja o Curso de Habilitação ao Diaconato e a consagração de diáconos e diáconas. Na ata da reunião de 22 e 23 de abril de 1976, lê-se que, por ocasião dos 20 anos de existência da ADL, ''poderá realizar-se a ordenação dos seguintes diáconos'' [...]16. Seguem-se os nomes de três homens e três mulheres.

A ata da reunião do conselho de 4 e 5 de junho do mesmo ano deixa entrever a busca por consenso no uso do termo adequado para o ato litúrgico em que os diáconos e as diáconas assumiriam o ministério diaconal na IECLB. Constata-se que o termo ''consagração'', usado pela irmandade, não seria aceito sem reservas, nem o termo ''ordenação''. Por isso, decidese chamá-lo de ''bênção ao ministério diaconal''.

5.2 - O Departamento de Diaconia

Uma aspiração das duas comunhões diaconais foi ter um espaço na Secretaria Geral da IECLB, como possibilidade de coordenar a partir desse lugar os assuntos específicos da diaconia. Essa aspiração foi atendida com a criação do Departamento de Diaconia, em 1988. Para a coordenação do mesmo a direção da Igreja convida a diaconisa Hildegart Hertel. No desempenho de suas múltiplas funções ela tem como uma de suas prioridades investir na formação de lideranças comunitárias, estimulando o diaconato de todos os crentes. Nesse desempenho tem a ajuda de outras obreiras diaconais. Um exemplo é o trabalho realizado por obreiras nos projeto ''Diaconia: conscientização e divulgação'', de 1933 a 1999, e nos cursos de ''Multiplicadores de diaconia'' oferecidos com o objetivo de habilitar lideranças comunitárias para ações diaconais.

Paralelamente ao empenho de formar lideranças comunitárias, o Departamento de Diaconia investe no apoio às comunhões diaconais na busca por reconhecimento do seu ministério na IECLB. Sob a coordenação do Departamento, acontecem encontros periódicos dos Conselhos das duas comunhões, mas também ''Encontros de Obreiros e Obreiras Diaconais'', com o objetivo de integrar e fortalecer iniciativas conjuntas. São tratados assuntos como: o estudo do ''Memorando sobre o ministério pastoral na IECLB'', a continuidade da formação diaconal, o preparo para a bênção ao ministério, a divulgação da diaconia, uma carteirinha de identificação, entre outros.

No primeiro Encontro de Obreiros Diaconais, realizado em Gramado em setembro de 1989, onde participam membros das duas comunhões diaconais, estando a coordenação ao encargo do Departamento de Diaconia, também se reflete sobre o fato de que o ministério diaconal, bem como o catequético, não estarem devidamente integrados na estrutura da IECLB. Um exemplo é a falta de representação no Concílio Geral, onde, segundo o Regimento Interno da IECLB, os delegados são pastores ou leigos. Nos concílios distritais e regionais já havia representação assegurada para o ministério diaconal e catequético. Sente-se falta de um regulamento para o ministério diaconal. Considerando que um ''Regulamento do Cargo de Catequista'' foi aprovado no mesmo ano, decide-se formar uma equipe para elaboração desse documento para futuro encaminhamento ao Conselho Diretor.

A partir do Departamento de Diaconia surgiu o setor de trabalho com pessoas portadoras de deficiência que beneficia a IECLB e a sociedade em geral. Em 2006, o Departamento de Diaconia deu lugar à ''Coordenação de Diaconia'', com escritório junto à Secretaria Geral da IECLB. Existe um Conselho Nacional de Diaconia, bem como Conselhos Sinodais na maioria dos Sínodos da IECLB.

5.3 - Os documentos normativos

A elaboração de um ''Regulamento do Ministério Diaconal'' ocupou as duas comunhões durante muito tempo. O primeiro projeto foi elaborado por uma pequena equipe de obreiras diaconais das duas comunhões, com base no Regulamento do Ministério Pastoral de 1980. O projeto foi amplamente discutido no Encontro de Obreiros de 1990. Encaminhado à Secretaria Geral em junho do mesmo ano, foi revisado em agosto e depois encaminhado ao Conselho Diretor. Foi aprovado no Concílio de setembro. Considerando que o assunto também era do interesse dos membros do ministério catequético, procurou-se manter os mesmos informados sobre eventuais avanços.

O assunto ‘’ministérios’’ estava na pauta da direção da Igreja. Em 1990, o então presidente da Igreja elaborou uma reflexão sobre a compreensão da prática da ordenação na IECLB, texto que foi publicado como anexo no Boletim Informativo do Conselho Diretor sob o título Ministério e Ordenação na IECLB17. Com o mesmo Boletim Informativo foi enviado o ‘’Regulamento do Ministério Diaconal’’.

Uma reflexão sobre o ministério eclesiástico levou a direção da Igreja a concluir que, ao lado dos três regulamentos específicos, deveria haver um documento comum aos três, a ser chamado de ‘’Estatuto do Ministério Eclesiástico’’. Foi formada uma comissão, composta por dois membros de cada ministério e um assessor jurídico, com a incumbência de elaborar um anteprojeto desse estatuto. O Conselho Diretor divulgou o texto e solicitou que fosse estudada a sua dimensão teológica. As obreiras diaconais aceitaram o desafio e elaboraram um ‘’Posicionamento teológico’’, argumentando sobre a importância do ministério diaconal ao lado dos outros ministérios18.

Após várias revisões, o anteprojeto foi divulgado sob o nome de ‘’Estatuto do Exercício Público do Ministério Eclesiástico’’19. A ele deveriam ser adequados os regulamentos dos três ministérios específicos. A mesma comissão recebeu a tarefa de revisar os regulamentos.

As reflexões não terminaram com a aprovação dos quatro documentos. Moções em concílios e assembléias testificam que ainda há insatisfação. Em dezembro de 1992, o pastor presidente convida para um seminário sobre ‘’Ministérios na IECLB ‘’a realizar-se em março de 1993. Na sua carta escreve: ‘’Já há muito tempo vem se acentuando a necessidade de repensarmos a estrutura do ministério na IECLB. Está por demais centrado no pastorado, asfixiando os espaços de outros ministérios. É o que tem sido reafirmado tanto na consulta sobre missão, neste ano, quanto no último Concílio Geral. Urge assim se poderia dizer diversificar o ministério’’20. O ‘’resultado’’ desse seminário foi um documento no qual se basearam as futuras reflexões e decisões referentes aos ministérios: o ‘’Ministério Compartilhado’’21. Aprovado no Concílio de 1994, foi publicado ainda no mesmo ano.

No Concílio Geral de 1998 foi aprovado como quarto regulamento o do Ministério Missionário, e mais uma vez foram revisados os outros documentos. No entanto, já se ouviam vozes que sugeriam a criação de um único documento do exercício público do ministério eclesiástico. A nova comissão, encarregada de realizar esse trabalho, recebeu o nome de ‘’Comissão de Revisão e Sistematização dos Regulamentos’’. O caminho para a equiparação dos ministérios num único documento foi longo e árduo. Essa equiparação realizou-se no XXIII Concílio, em outubro de 2002, com a aprovação do ‘’Estatuto do Ministério com Ordenação’’ que está em vigor até hoje. Portanto, é a partir de 2002 que o ministério diaconal tem um espaço oficial na estrutura da IECLB.

6 - A formação diaconal sob a responsabilidade da IECLB

6.1 - A Igreja como responsável

Numa carta de agosto de 1996, assinada pela Diretora da Casa Matriz de Diaconisas e pela Diretora da Escola Supletivo Seminário Bíblico-Diaconal, a irmandade expressa sua satisfação pelos passos importantes que foram dados em direção à integração da diaconia na estrutura da Igreja. Mas continua: ''Temos, porém, a convicção de que outros passos ainda precisam ser dados, entre os quais este: integrar a formação diaconal no plano geral da formação de obreiros da IECLB. Isto significa que a Casa Matriz de Diaconisas irá entregar a responsabilidade pela formação diaconal à IECLB''22.

Já em 1991, ao se tratar do Curso de Extensão Diaconal, uma carta dirigida à direção da IECLB dizia: ''Solicitamos que a responsabilidade por esta formação seja assumida pela IECLB, na sua estrutura ampla, significando que a responsabilidade deixará de ser de apenas um pequeno grupo de pessoas que se identificam com a Casa Matriz de Diaconisas ou/e a ADL''. É lembrado que essa responsabilidade terá implicações financeiras. Mas, assim diz o texto da carta, ''não é o lado financeiro que nos leva a pedir pela maior integração da formação diaconal na IECLB. Nosso principal motivo é a convicção de que a diaconia não é assunto particular de algumas pessoas, de preferência mulheres, mas de toda a Igreja''23.

A Igreja assume sua responsabilidade, e a formação diaconal passa da Casa Matriz de Diaconisas à Escola Superior de Teologia.

6.2 - A integração da formação diaconal no curso de Teologia da EST

Enquanto Kjell Nordstokke, da Noruega, foi docente na EST, nos anos de 1994 e 1995, ele trouxe para dentro da instituição a reflexão sobre a dimensão diaconal, a importância da teologia da Diaconia24 e o valor que essa tem para as comunidades, como testemunho cristão. Enfatizou a importância do ministério diaconal, a necessidade de boa profissionalização das/os obreiras/os desse ministério e motivou pessoas para a reflexão teórica e para a escrita de artigos sobre diaconia. Apesar desse impulso, a diaconia não chegou a ser integrada na grade curricular como disciplina obrigatória para todos os estudantes quando o currículo da Faculdade de Teologia foi reformulado.

Os diálogos sobre como integrar a formação diaconal no curso de Teologia iniciaram em 1993. Existia a Faculdade de Teologia e o Instituto de Educação Cristã. Pensou-se num núcleo teológico comum e, posteriormente, os ministérios diaconal, catequético e pastoral teriam suas disciplinas específicas.

Em fins de 1998, a Escola Seminário Bíblico-Diaconal e a Associação Diacônica Luterana deixam de ser centros de formação de obreiros/as para o Ministério Diaconal, com ordenação, na IECLB, e a formação diaconal passa a acontecer na Escola Superior de Teologia, em nível superior. O Seminário Bíblico-Diaconal deixa de existir e a Associação Diacônica Luterana volta a preparar lideranças comunitárias com enfoque diaconal, como fazia originalmente.

Todo o preparo para os diferentes ministérios está sob a responsabilidade da IECLB e essa incumbe a EST de assumir essa tarefa. Cria-se o o Instituto de Formação Diaconal e a instituição passa a formar, ao lado de pastores e catequistas, também pessoas para o ministério diaconal.

A turma de 1999 inicia o ano com o Núcleo Teológico Comum. Estudantes que se preparam para o Ministério Diaconal, Catequético e Pastoral estudam na mesma sala de aula. Em 1999, o curso de Teologia da EST é autorizado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e, em 09 de abril de 2002, através da Portaria n. 1.056, é reconhecido. Novas mudanças curriculares tornam-se necessárias. Em 2002, têm início o Bacharelado em Teologia com três ênfases: Educação Cristã, Diaconia e Pastorado, incorporando a formação já existente na EST. Doravante, 70% das disciplinas continuam sendo comuns aos diversos ministérios e 30 % delas preparam para o específico de cada ministério.

Os/as estudantes que concluem a formação na EST recebem o diploma de Bacharel em Teologia, com uma das ênfases: Diaconia, Educação Cristã, Pastorado.

6.3 - O Período Prático de Habilitação ao Ministério

Em julho de 2003, formou-se a primeira teóloga com ênfase em Diaconia25 pela Escola Superior de Teologia. Sua formação completou-se com um ano de período prático no Sínodo Vale do Taquari e Sínodo Centro-Campanha-Sul, sendo a sua ênfase básica o trabalho com pessoas com deficiência.

Desde 2003, a formação após o Bacharelado em Teologia é de responsabilidade da direção da IECLB. É ela que acompanha os/as candidatos/as ao ministério com ordenação, assessorando o aprofundamento bíblico-teológico e designando ao Período Prático de Habilitação ao Ministério (PPHM). Também envia, após avaliação do PPHM, ao primeiro campo de trabalho e responde ao pedido por ordenação. A equiparação exigiu também a uniformização das normas referentes a esse período de preparo dos/as obreiros/as da IECLB.

6.4 - A questão financeira

Enquanto a Associação Diacônica Luterana foi responsável pela formação diaconal no Espírito Santo (de 1956 a 1998), cuidava também do seu financiamento. Além da contribuição dos/as alunos/as, recebia uma pequena ajuda financeira do orçamento anual da IECLB e era apoiada por um círculo de amigos do Brasil e do exterior.

Da mesma forma, a formação diaconal em São Leopoldo esteve sob a responsabilidade da Casa Matriz de Diaconisas desde o início, em 1939, até fins de 1998. Além da oferta anual dos cultos no Dia das Mães, destinada à Casa Matriz de Diaconisas, e um apoio financeiro do grupo de amigos da Alemanha, os custos dessa formação tiveram que ser cobertos pelas/os estudantes e pela irmandade. A última cobria as despesas excedentes, investindo do dinheiro que as irmãs recebiam pelo seu trabalho em comunidades e instituições.

Enquanto isso, as pessoas que se preparavam para o Ministério Pastoral, durante décadas, recebiam toda a sua formação gratuitamente pela IECLB. Isso favoreceu o ministério pastoral em detrimento do ministério diaconal. Esse último encontrava-se num círculo vicioso: poucas/os alunas/os no curso custos elevados poucas/os alunas/os.

Desde a transferência da formação diaconal para a EST, os gastos para os estudos são iguais para os três ministérios: pastoral, diaconal e catequético.

7 - O espaço atual do ministério diaconal na IECLB

7.1 - A veste litúrgica como visualização do ministério

A diversificação dos ministérios também se tornou visível para os membros das comunidades quando se adotou uma veste litúrgica para os momentos de celebração e uma camisa ou blusa clerical para os serviços que pedem a identificação com o ministério.

O impulso decisivo para a criação da veste foi dado quando diáconas, que atuavam numa comunidade do Rio Grande do Sul, assumiram também a realização de cultos e outros ofícios, como bênção matrimonial e batismo. Os membros dessa comunidade solicitaram que uma veste especial fosse usada nessas ocasiões. Depois que o assunto apareceu por diversas vezes nas Assembléias Gerais da Comunhão Diaconal (COD), formou-se uma comissão que passou a estudar o assunto. Descobriu-se que diáconos e diáconas usavam uma veste litúrgica na Igreja Cristã Primitiva.

Inicialmente, a questão não parecia ter a mesma importância para a irmandade, uma vez que, até o início da década de noventa, as diaconisas usavam um ''hábito'' que as identificara como obreiras da IECLB. Mais tarde, porém, também acompanharam as reflexões e aprovaram a inovação.

A primeira identificação tinha sido um distintivo em forma de pingente de bronze com o símbolo da diaconia, tendo no outro lado a inscrição do nome da/o obreira/o e a data de sua ordenação. A primeira entrega do distintivo a diáconos, diáconas e diaconisas aconteceu numa celebração na Casa Matriz de Diaconisas, oficiada pelo pastor presidente da IECLB, em 1996.

Uma proposta de veste litúrgica foi enviada à direção da Igreja em fevereiro de 2000, que autorizou seu uso, primeiro em ''caráter experimental'', depois em caráter definitivo, no Concílio Geral de 200226.

A veste litúrgica, bem como a participação ativa do/a representante do ministério diaconal no culto dominical, visualiza que há uma ligação estreita entre a diaconia no dia-a-dia da comunidade e a diaconia do culto a Deus.

7.2 - A falta de campos ministeriais

Leis brasileiras atuais impossibilitam que verbas públicas sejam canalizadas para trabalhos diaconais de Igrejas. A fim de garantir sua continuidade, ações e instituições, originalmente diaconais, são transformadas em Organizações Não Governamentais, ONGs. A partir disso, há comunidades que não mais reconhecem nem abraçam a instituição ou trabalho diaconal que nascera em seu meio como expressão de sua fé cristã. Com isso, diminui também o número de campos religiosos ou ministeriais para obreiros/as diaconais. Esses/as precisam atuar num campo ministerial para manter seu vínculo com a IECLB. O que fazer para sair do impasse?

Caminhos novos precisam ser procurados e encontrados. Apontamos duas eventuais possibilidades:

1° As comunidades assumem seu papel profético27, inclusive em instituições públicas, criando ''campos religiosos''. Ao aceitarem esse desafio, poderiam contratar obreiros/as diaconais, devidamente preparados/as para ajudá-las nessa tarefa.

2° A direção da Igreja encontra uma maneira de reconhecer como obreiros/as diaconais também as pessoas que não estão trabalhando num campo declarado ''religioso'', mas em instituições públicas ou privadas, como hospitais, lares, escolas, centros infantis ou centros sociais, entre outros.

Considerações finais

A diaconia sempre ultrapassou os muros das comunidades e instituições eclesiais, atuou em periferias, em situações de fronteira. Contudo, em décadas passadas isso não era um foco de problema. Diaconisas e diáconos trabalhavam em hospitais municipais, em instituições diversas e outros trabalhos sociais/diaconais e continuavam sendo reconhecidas/os como obreiras/os, dando o seu testemunho cristão lá onde atuavam. Hoje isso mudou, e é preciso tornar a encontrar caminhos que reconheçam que ações diaconais são caminhos imprescindíveis para a missão da Igreja no mundo.

É importante que se favoreça e fomente a formação de pessoas para o Ministério Diaconal e se favoreça e prepare líderes comunitários para a atuação diaconal em todos os níveis. A Coordenação de Diaconia continua investindo esforços, promovendo cursos de extensão para ajudar a preparar líderes para a atuação diaconal do voluntariado.

Algumas diaconisas e diáconas/os, percebendo a necessidade de aprofundarem os estudos teóricos na área da diaconia, cursaram ou estão cursando o mestrado e o doutorado. A primeira a concluir o mestrado é a diaconisa Ruthild Brakemeier (1998) e o doutorado, a diácona Sissi Georg (2003).

As mudanças na formação diaconal e a escassez de literatura na língua nacional fazem com que obreiros/as do Ministério Diaconal e Pastoral se motivem a aprofundar os estudos em aspectos da diaconia e na teologia da diaconia. Isso e outros fatores ajudaram a motivar escritores brasileiros a escreverem sobre diaconia, de modo a surgir, em 2001, a série Diaconia na América Latina. Projetamos para 2007 a edição de um novo livro que tratará da diaconia, da solidariedade de povos indígenas, escrito por autores latino-americanos, não brasileiros.

Consideramos como sinal positivo que, nas últimas décadas, cresceu o número de pessoas que reconhecem a necessidade de resgatar o ministério diaconal, bem como de fomentar a diaconia comunitária re-enraizando essa e as instituições diaconais nas comunidades locais, para que venham a ser centros irradiadores e motivadores da diaconia. Contudo, ainda há muito a ser feito para resgatar este ''ministério esquecido''28, como escreve Hoch.

A irmandade mudou, bem como a IECLB, os centros de formação diaconal e a sociedade. Por isso, também é necessário encontrar novos caminhos para a diaconia e o ministério diaconal.

Missão e diaconia precisam atuar de forma integrada para que o Evangelho de Jesus Cristo continue a levar esperança, vida e salvação para muitos. Obreiros/as dos diversos ministérios, junto com as comunidades eclesiásticas, precisam reconhecer a importância da solidariedade e do amor vivenciado, num mundo em que o exemplo tem um grande potencial de transformação.

Notas

1 BEULKE, Gisela. Diaconia e comunicação: mulheres da Comunidade Evangélica de Joinville. 1994. Monografia (Especialização). São Paulo, 1994. p. 20.

2 Como a autora deste artigo é membro da Irmandade Evangélica Luterana e, durante muitos anos, atuou como responsável pela formação diaconal na Casa Matriz de Diaconisas, bem como, a partir de 2000, como responsável por essa formação na Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, o presente relato não está baseado apenas em documentos, mas também em memórias. A autora também trabalhou durante seis anos (de 1987 a 1992) na Associação Diacônica Luterana, em Serra Pelada, ES

3 BRAKEMEIER, Ruthild. O surgimento de um modelo de diaconato feminino, sua implantação no Brasil e perspectiva para o futuro. 1998. 323 f. Dissertação (Mestrado) Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 1998. p. 130ss.

4 BRAKEMEIER, 1998, p. 130ss.

5 BRAKEMEIER, 1998.

6 TORRESINI, Elizabeth W. Rochadel. Hospital Moinhos de Vento: 75 anos de compromisso com a vida. Porto Alegre: Hospital Moinhos de Vento, 2002. p. 47.

7 WEINGÄRTNER, Lindolfo. A estrutura diacônica da comunidade. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 4, n. 1, p. 23-32, 1964.

8 DROSTE, Rolf. Diaconia. In: KANNENBERG, Hilmar (Ed.). Presença luterana 1970. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Metrópole, 1970. p. 67-81.

9 Na década de setenta já existia também um grupo que se ocupava com a formação para o trabalho com pessoas com deficiência. Do grupo de estudo faziam parte representantes da Casa Matriz de Diaconisas, da APAE de São Leopoldo e da Fundação Evangélica, de Novo Hamburgo. Pensava-se que a irmandade poderia fornecer o material humano, a APAE os conhecimentos técnicos e científicos e a Fundação Evangélica assumiria o preparo formal, anexando essa formação ao curso Normal que preparava para o magistério. A irmandade chegou a alugar uma casa em São Leopoldo, com o intuito de ali acolher e ajudar pessoas com deficiência e seus familiares. Contudo, a idéia não chegou a se concretizar.

10 RÖLKE, Helmar Reinhard. Descobrindo raízes: aspectos geográficos, históricos e culturais da Pomerânia. Vitória: UFES, 1996. p. 88 ss.

11 Foi a casa chamada de Rauhes Haus, com a finalidade de ser uma casa de salvação [Rettungshaus] para crianças abandonadas. SCHICK, Erich. Johann Hinrich Wichern. Basel: Verlag von Heinrich Majer, 1947. p. 67.

12 SCHMIDT, Artur Gustav. Die Anfänge der Diakonie in Espírito Santo. Augsburg: FDL Verlag Augsburg, 1984. p. 319. Nos dados biográficos de Schmidt, percebe-se que ele foi marcado pela diaconia desde a sua infância. Como jovem estudou durante três anos na instituição diaconal Diakonenanstalt Rummelsberg, na Alemanha, e também trabalhou na área da diaconia durante alguns anos. Depois estudou no Seminário de Missão e Diáspora, em Neuendettelsau.

13 SCHMIDT, 1984.

14 SCHMIDT, Artur Gustav. Diakonie im Kontext der Kirche. Augsburg: FDL Verlag Augsburg, 1992. p. 188.

15 O Informativo da ADL, editado a partir de 1960, chamava-se Brasilianisches Brüderblatt [Folha dos Irmãos Brasileiros]. Mais tarde, quando o conteúdo passou a ser editado em português, seu nome mudou para Mensageiro Diacônico. In: SCHMIDT, Ervino. Jornal Evangélico, ago. 1988. Edição especial.

16 CASA MATRIZ DE DIACONISAS. São Leopoldo. Pasta do Conselho da Obra Diaconal de 1973 a 1984.

17 BOLETIM INFORMATIVO DO CONSELHO DIRETOR DA IECLB. Porto Alegre, n. 123, 11 jul. 1991. O Concílio Geral da IECLB de 1992 decidiu que o termo ordenação poderia ser usado, em caráter experimental, também nos atos de bênção ao ministério diaconal e catequético. A primeira diácona ordenada foi Márcia Paixão, no dia 30.11.1993, e a primeira ordenação com a mesma liturgia foi a do casal Valdir e Ione Pedde ele para o ministério pastoral e ela para o ministério diaconal em dezembro de 1993. Segundo o BOLETIM INFORMATIVO DO CONSELHO DIRETOR DA IECLB. Porto Alegre, n. 163, 13 out. 1998, também as/os obreiras/os que anteriormente haviam recebido a bênção ao ministério diaconal podem considerar-se ordenadas/os.

18 Posicionamento teológico para fundamentar a importância do ministério diaconal, ao lado do pastoral e catequético. CASA MATRIZ DE DIACONISAS. São Leopoldo. Pasta dos documentos sobre Equiparação dos Ministérios.

19 BOLETIM INFORMATIVO DO CONSELHO DIRETOR DA IECLB. Porto Alegre, n. 130, 12 nov. 1992.

20 BRAKEMEIER, Gottfried. [Carta da Presidência da IECLB]. Carta n. 18842/92. Porto Alegre, 18 dez. 1992.

21 BOLETIM INFORMATIVO DO CONSELHO DIRETOR DA IECLB. Porto Alegre, 25 nov. 1994. Anexo n. 1.

22 BRAKEMEIER, Ruthild; MATTNER, Arleti. [Carta à Direção da IECLB]. São Leopoldo, ago. 1996. Pasta Correspondência IECLB, Casa Matriz de Diaconisas, São Leopoldo.

23 BRAKEMEIER, Ruthild; CREUTZBERG, Alfred M. [Carta à direção da IECLB]. São Leopoldo, 7 nov. 1991. Pasta Correspondência IECLB, Casa Matriz de Diaconisas, São Leopoldo.

24 HOCH, Lothar Carlos. A Diaconia na IECLB: o despertar da Igreja para um ministério esquecido. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 45, n. 1, p. 21-31, 2005.

25 Arlete Adriana Prochnow foi a primeira estudante a concluir a sua formação na EST, com ênfase em Diaconia.

26 GEORG, Sissi. Contribuições a partir de suas experiências

27 Cf. COMBLIN, José. Diaconia na cidade. In: ANDRADE, Sérgio; SINNER, Rudolf von (Org.). Diaconia no contexto nordestino: desafios reflexões práxis. São Leopoldo: Sinodal

Referências

COMBLIN, José. Diaconia na cidade. In: ANDRADE, Sérgio; SINNER, Rudolf von (Org.). Diaconia no contexto nordestino: desafios reflexões práxis. São Leopoldo: Sinodal, 2003.

BEULKE, Gisela. Diaconia e comunicação: mulheres da Comunidade Evangélica de Joinville. 1994. Monografia (Especialização). São Paulo, 1994.

BRAKEMEIER, Ruthild. O surgimento de um modelo de diaconato feminino, sua implantação no Brasil e perspectiva para o futuro. 1998. 323 f. Dissertação (Mestrado) Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 1998.

DROSTE, Rolf. Diaconia. In: KANNENBERG, Hilmar (Ed.). Presença luterana 1970. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Metrópole, 1970.

HOCH, Lothar Carlos. A Diaconia na IECLB: o despertar da Igreja para um ministério esquecido. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 45, n. 1, p. 21-31, 2005.

RÖLKE, Helmar Reinhard. Descobrindo raízes: aspectos geográficos, históricos e culturais da Pomerânia. Vitória: UFES, 1996.

SCHICK, Erich. Johann Hinrich Wichern: Ein Herold des Helfens. Basel: Verlag von Heinrich Majer, 1947.

SCHMIDT, Artur Gustav. Die Anfänge der Diakonie in Espírito Santo. Augsburg: FDL Verlag Augsburg, 1984.

______. Diakonie im Kontext der Kirche. Augsburg: FDL Verlag Augsburg, 1992.

TORRESINI, Elizabeth W. Rochadel. Hospital Moinhos de Vento: 75 anos de compromisso com a vida. Porto Alegre: Hospital Moinhos de Vento, 2002.

WEINGÄRTNER, Lindolfo. A estrutura diacônica da comunidade. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 4, n. 1, p. 23-32, 1964.

Colaboração especial:

BRAKEMEIER, Ruthild; GEORG, Sissi; VOLKMANN, Martin.
 


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