Lucas 9. 51 E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém 52 e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. 53 Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém. ( 2 Sm 17.11) 54 Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? 55 Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. 56 Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia. 57 Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores. 58 Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. (...) 62 [E acrescentou]: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.
Somos convincentes?
Esta é de uma tirinha de Peanuts. Charlie Brown treina com seu arco e flecha. Atira contra a parede e ali onde a flecha crava, desenha o alvo. Desta forma acerta as doze flechas na mosca. Alguém observa o feito e sugere fazer o contrário. Primeiro desenhar o alvo na parede e depois disparar a flecha. Assim o a brincadeira se aproximaria do que é real.
Não fazemos o mesmo? As pessoas vivem e quando alcançam uma meta, fazem um círculo ao redor e dizem que isso é a felicidade.
Em algum momento alguém passa e diz que a vida acontece ao contrário. Deus coloca um alvo para a nossa vida. O alvo do Criador para a vida de cada pessoa é que tenhamos comunhão com Ele, obediência a Ele, traduzindo isso em amor e serviço ao próximo. Deus nos convida a vivermos uma vida não eu-orientada e sim orientada para o alvo, que é Cristo Jesus.
“...esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3.13b-14 NVI
Nossa linguagem
Há três formas básicas de comunicação pessoal: a linguagem corporal, a tom de voz usado e as palavras propriamente ditas. Cada uma delas tem peso específico: 58%, 35% e 7%, respectivamente.
A comunicação saudável e a pessoa saudável são aquelas que permitem o equilíbrio entre todas as formas. O equilíbrio demonstra integridade.
Lembram da máscara Anonymous, que surgiu como um faceboard para quem não quer se identificar e foi usada em inúmeros protestos sociais? Ficou famosa no Brasil a partir de 2003. Depois vieram o black-bloc’s como um paredão de gente vestida de preto e que têm como alvo provocar a anarquia. Agora temos as páginas sociais onde pessoas viram bicho, coisa que muitas vezes não costumam ser na vida real, na maioria difundindo inocentemente fake news.
Pessoas estão fazendo o jogo de esconder o rosto. Traições e incompreensões acontecem a todo momento. Não é possível fazer o tet-a-tet, o cara a cara, o olhar no olhar. Ao mesmo tempo em que protege identidades na necessidade do protesto anônimo, escondem as reais intensões de uma pessoa ou de um movimento.
O semblante de Jesus
Como preguei recentemente, ao falar da transfiguração de Jesus (Lucas 9.28ss), disse que ele “sabia que aquela gente, ao mesmo tempo em que estava afetivamente envolvida com o Cristo, continuava desconfiada de Sua atitude. Um Messias falando em morrer a pior morte conhecida na época, a pena capital da intervenção romana?” Em meio àquele brilho do semblante totalmente à mostra surgem dois dos maiores líderes para o povo, Moisés e Elias. O semblante de Jesus revela poder e majestade através da história.
Não é um acaso que Moisés é trazido à cena quando o semblante de Jesus se transforma. Quando recebe as tábuas da lei – constituição de um novo povo com novas regras e novos alvos – desce do Monte Sinai e o povo vê o rosto de Moisés resplandecendo. Isso de tal forma que tiveram medo de chegar perto dele (Êxodo 34.29s). Foi com esta sensação de temor e respeito que tomaram conhecimento da vontade de Deus.
Esta comunicação de “cara limpa”, face a face, é um fundamento do procedimento cristão. Isso porque a Palavra de Deus há de repercutir na sociedade de forma positiva somente quando quem a transmite conhece seu próprio rosto (Tiago 1.22-23). Esta comunicação de “cara limpa” não é outra que a que transmite o amor inconfundível – construtor de pontes – que revela quem sou eu e quem é a outra pessoa (1 Co 13.12). Não se reconhecer é meio caminho andado para desastres pessoais e sociais.
Contundente é a forma como o apóstolo Paulo se refere à atitude de uma igreja que não está sendo condizente com uma atitude cristã. A igreja em Corínto – cidade aberta para o mundo como a nossa – estava negando o amor e não reconhecia o amor daqueles que haviam sido enviados para pregar o Evangelho do amor. Em resposta o apóstolo literalmente “joga na cara” da igreja sua falsidade. Ou, tira a máscara da igreja, revela seu caráter verdadeiro. Quer ver o sinal de honestidade e compromisso. O termo é prósopon – πρόσωπον – (2 Coríntios 8.24) e seu uso no particípio não permite uma clara interpretação de seu sentido. Porém, como a comunidade de Corínto tinha uma tendência para a arrogância, tirar a máscara, revelar caráter ou personalidade é exercício necessário para que o rosto de Cristo resplandeça em meio a tanto orgulho nobre de ser a igreja verdadeira.
Voltando ao nosso texto primário, observamos que Jesus segue determinado para que se cumpra a história da salvação. Ele inicia sua viagem da Galileia para Jerusalém. Jesus se conecta de forma determinada com uma nova fase em seu ministério.
Os discípulos observaram essa mudança de ênfase no semblante de Cristo. O relato de Lucas aponta para algumas intercorrências nesta viagem final, como a negativa dos samaritanos em recebê-los, mas nada estava abalando a determinação do Salvador. Veja como foi:
Aponta resolutamente para o amor salvífico.
Enquanto que os discípulos ainda procuravam resguardar a honra do Mestre, foram recordados de que “... o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (v.56). E seguir para a cruz é a concretização dessa salvação.
Absorve a hostilidade de quem não entende o seu amor.
Acabar com o inimigo, aquele que se coloca contra sua determinação, também não está descrito no aspecto físico – na linguagem corporal – de Jesus. Seu gestual é de acolher. Pode também repelir em situações limítrofes, usando o chicote (João 2.15), porque “o zelo da tua casa me consumirá”. No entanto, em meio a sua ira, Jesus assegura o projeto de Reino de justiça e paz.
Repreende seus discípulos pela reação errada.
Mesmo que o tenham seguido por tanto tempo, os discípulos ainda não haviam compreendido o espírito que age no Mestre Jesus (v.55). Eles – e nós – devemos saber que o espírito que age em Jesus não é o mesmo que agiu em Elias. O profeta falava da condenação das pessoas que não refletiam a vontade de Deus em suas ações. Jesus age sempre em favor da salvação. Ajudar, salvar e resgatar da morte. Castigar e eliminar quem é contrário não faz parte do espírito do Evangelho de Cristo. Isso deve se refletir em nosso gestual, tom de voz e palavras.
Seguir Jesus não pode ser consequência de emoção.
De forma emocional, os que seguem a Jesus, deslumbrados com o Mestre, dizem: “Seguir-te-ei para onde quer que fores” (v.57). Quantas pessoas já passaram por estas dependências, quantas se tornaram até membros pela profissão de fé nesta Igreja e, logo, logo desapareceram? Jesus não precisa de seguidores emocionalmente motivados. Ele quer pessoas que reflitam antes quão duro e desgastante é servir na Igreja. Quanto tempo e dedicação são necessários para que alguns poucos frutos sejam colhidos?
Nada deve desviar do foco da salvação: Jesus.
A despeito de tantas outras facilidades e atrações que desviam nosso foco do rosto de Cristo, Ele chama para a realidade. Seu semblante e aspecto revelam que Jesus está determinado a ir para a cruz – a salvação – e chama consigo seus seguidores e suas seguidoras. Aqui e agora é o momento de agir! Não é talvez e nem depois ou outra hora. Colocou a mão no arado? Então siga, e não olhe mais para trás. Jesus demonstra a urgência deste tempo. Não há como esperar. Não tem como deixar outra pessoa fazer. Ele fala – com semblante determinado e aspecto decidido – que é agora que precisamos ir.
Querida comunidade. Qual é o nosso alvo? Para que lado estamos atirando as nossas flechas? Sabemos o que queremos? Essa é uma pergunta missionária! De que forma estamos ajudando na sustentação da nossa vocação no centro desta cidade arrogantemente pobre?
Pensemos...
Sejamos determinados...
Amém!
Foto: site propósito maior