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O mito da Unidade

Efésios4.1-7

05/08/2018

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Efésios 4.1-7
 “Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo.”
‭‭Efésios‬ ‭4.1-7‬ ‭NVI‬‬‬‬‬‬

O mito da unidade.

Introdução

Paulo escreve da prisão seu documento teológico mais elevado. Uma carta que é dirigida à Igreja de Jesus Cristo na próspera Ásia Menor, especificamente à grande e importante cidade de Éfeso, entre os anos 58 e 60 d.C. Hoje este território corresponde aproximadamente ao da Turquia. Lá está o mesmo circulo de igrejas que recebem as Sete Cartas do Apocalipse. Pelas pequenas mudanças de estilo da carta, dá para perceber que Paulo não escreveu de próprio punho, mas Marcião já incluiu a carta no primeiro cânon cristão atribuindo sua autoria ao apóstolo de Cristo.

A carta aos efésios é conhecida como “a carta da unidade”. À medida que motivava as pessoas integrantes da igreja a perceber que a unidade é consequência da fé, ajudava esta mesma comunidade a ampliar seus horizontes. Quanto mais unidos, tanto mais forças para atuarem em amor e fraternidade para com todas as pessoas.

Unidade existe?

Nas palavras de Paulo, a unidade entre cristãos é fato consumado. Não são ignoradas as polarizações, as divergências, as diferentes tendências de posicionamento, mas o apóstolo aponta para a ação do Espírito Santo. A ação do Espírito Santo é catalizadora. Esta ação catalizadora, nas palavras de Paulo, promove o “vínculo da paz”. A palavra grega significa “laço”. O Espírito Santo envolve e laça as pessoas crentes de tal forma que passam a viver uma unidade orgânica verdadeira.

Não se usa aqui um tempo verbal futuro. Esta unidade vinculada é real. Ela existe. E é ela que se mostra a partir de frutos e não de discursos. Consequências e não palavras vazias. A vinculação, por ser orgânica, evidentemente exige ação e decisão de cada integrante do corpo de Cristo. Exige um posicionamento claro e inequívoco. “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço” neste sentido (v.2,3a).

É consolador e gratificante saber que Deus já criou e mantém a unidade através de sua ação espiritual. Que unidade existe, é dom de Deus. A unidade não é mais algo impossível de alcançar. É real.

Como começa e acontece a unidade?

Tomamos por base as palavras de Martin Luther quando se referiu a este texto. Diz que todas as pessoas sobre a face da terra que creem em Cristo compõem a congregação cristã. Por ser ação do Espírito Santo, os primeiros cristãos sabiamente perceberam que há uma relação íntima entre unidade e fé, aos escreverem o terceiro artigo do Credo Apostólico. “Creio no Espírito Santo, na comunhão dos santos...” Esta declaração – que muitas vezes repetimos sem dar a devida atenção – aponta para a essência, para a vida e natureza da comunidade cristã. Quando Paulo declara que há “um só batismo”, une o sacramento do batismo – o início de tudo – à ação do Espírito Santo. Ambos formam a convicção da unidade corporal e espiritual das pessoas batizadas e alcançadas pela ação d Espírito de Deus. 

A unidade começa e acontece nos corações em fé unidos que experimentam a paz do bom Senhor. Unidade começa onde há disposição em mudar. Vejo muita gente com corações dispostos e empenhados a serem resistentes a essa unidade. Sempre lembrando que unidade não é uniformidade. Mas como filhas e filhos que já foram agraciados pela ação do Espírito Santo, podemos dar passos concretos para renovar união, para suplicar que o amor de Jesus entre nós forme uma corrente sólida e vigorosa de serviço comum.

O alcance da unidade
Mesmo que estejamos separados por milhares de quilômetros – como é o caso da Ma Chak Yu, de Hong Kong, que hoje visita nosso grupo de jovens e o nosso culto – ou mesmo que nossas ideias e opiniões sejam tão divergentes que muitas vezes nos separem por muros de concreto, o Espírito Santo nos chama e congrega; ele nos faz crer, esperar, amar e viver com o outro porque o ponto comum não precisa ser nossas ideias, e sim o que Cristo já fez por nós.

“Essa unidade é, por si só, suficiente para criar uma cristandade. Sem ela nenhuma unidade, seja a da cidade, tempo, pessoas, obra ou de qualquer outra coisa, cria uma cristandade.” (ML, OS 2,208)

Uma só fé, um só batismo, uma só esperança. Manifestações de fé podem ser diversas, mas ela é uma só e sempre direcionada a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Existe um só batismo, mesmo que os ritos e formas sejam diferentes. Através de um só batismo somos enxertados na videira, que é Jesus. E, a partir deste momento, somos pessoas chamadas para viver unidas à videira, que é Jesus. Assim somos alcançados pela Unidade. Uma só esperança nos move, ou seja, que o reino de Deus já esteja sendo concretizado entre nós. A realização da esperança de paz e justiça, portanto, arde no coração de todas as pessoas crentes, muitas vezes de forma tão diversa que duvidamos da unidade.

Unidade consoladora

Sim, é consolador e gratificante poder saber que Deus cria e mantém a unidade. Saber que ela é um presente de Deus. Por isso poderíamos mudar a nossa pergunta inicial “unidade existe?” como se colocássemos todo este tema em dúvida. Podemos nos sentir consolados e, então, perguntar: “O que devemos fazer para que a unidade não seja prejudicada entre nós?”

Não temos a missão de criar unidade. Devemos viver a Unidade. Simplesmente viver, porque ela já existe. Unidade é obra de Deus em Cristo Jesus e nos é outorgada pela ação do Espírito Santo. Este é o batismo no Espírito Santo. Somos pessoas consoladas a tal ponto que temos forças para superar e afastar tudo o que possa prejudicar a unidade. Nossa missão evangelizadora é, acima de tudo, tornar visível nossa unidade com Cristo, em Cristo e para Cristo. Quem dá esta missão , segundo o texto, é Deus “que é sobre todos, por meio de todos e em todos”. 

Conclusão

Para levarmos alguns desafios para casa, quem sabe algumas perguntas fossem importantes.

De que forma nos sentimos unidos às pessoas que foram batizadas em nome do Pai, Filho e Espírito Santo? 

De que maneira nos sentimos unidas ou unidos às pessoas que partilham a mesma esperança, mesmo que com diferentes entonações?

Vamos, ao final desta pregação, confessar a mesma fé. Depois teremos o privilégio de celebrar em torno da mesma mesa a Ceia do Senhor. Como nos sentimos?

Humildade e mansidão são frutos do Espírito Santo. Paciência e amor fazem parte da melhor forma de apresentação da ação do Espírito Santo, quando é comparado ao amor de Cristo.

Que nos incomode sempre onde e quando a unidade, fruto do Espírito Santo, estiver sendo ameaçada. Isto é sinal de pecado e não de bênção, A falta de unidade é pecado contra Deus. Que os dons do Espírito Santo nos ajudem a ter a percepção da unidade mesmo na diversidade. Sejamos preservados pelo vínculo da paz.

Sempre.

Amém.
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 48247

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