Quando a IECLB preparou o tema de 2017 Jubilai, embalada nas celebrações dos 500 anos da Reforma Luterana ao redor do planeta, propôs que “agora são outros 500”. Nos instigou a pensarmos para a frente e escrever a história que ainda têm as páginas em branco.
Exatamente esta foi minha experiência nesta tarde chuvosa no Rio de Janeiro. Absolutamente não tinha ideia do valor e da qualidade das obras relacionadas à Reforma Luterana que são encontradas em nossa Biblioteca Nacional. Um passado praticamente desconhecido (e escondido!) em nosso País e que, revelado, poderá ajudar a dar novos rumos em nossa sociedade.
Gentilmente guiados por Ana Virgínia Pinheiro, curadora da exposição Lutero 500 Anos da Reforma e pela assistente de curadoria Daniele Simas, fomos surpreendidos pelas joias literárias trazidas ao Brasil pela coroa portuguesa, respectivamente, na biblioteca da rainha D.Maria I e na biblioteca do Príncipe regente Dom João. Entre elas encontramos bíblias originais de Lutero, obras completas do reformador, a Bíblia de Guttenberg, conhecida como Vulgata Latina, e a raríssima Bíblia de Mogúncia (1462). Não faltam obras originais da Contra-reforma (Concílio de Trento) e suas repercussões no Brasil Império. Entre elas, uma gramática do Padre Anchieta para ensinar a falar do Evangelho na língua nativa. Tudo como uma reação à Reforma Luterana que passou a ensinar a ler a Bíblia, inclusive criando as escolas. Os Jesuítas, ordem religiosa à qual Anchieta pertencia, fez da educação seu grande desafio em solo brasileiro.
Outra raridade é a publicação original da Crônica de Nuremberg (1493), obra que ilustra de uma forma ainda muito moderna (panorâmicas em vista de pássaro) também os lugares onde Martin Lutero viria a passar sua infância. Isso sem falar da Biblia Latina (séc. XIII-XIV) toda manuscrita em velino, couro finíssimo extraído de bezerros ainda não nascidos.
Escreve a Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Helena Severo: Com esta mostra, a Biblioteca Nacional junta-se às iniciativas que vêm acontecendo ao longo deste ano nos mais diversos lugares do mundo, especialmente na Alemanha, onde Lutero nasceu e pregou suas ideias reformistas. E é justo que assim seja, levando-se em conta que dificilmente, nós ocidentais, poderemos entender quem somos sem antes conhecermos as mudanças operadas pela Reforma.
Muitas outras surpresas estão reservadas a todas as pessoas que ainda fizerem a visita a esta exposição na Biblioteca Nacional. Ela foi prorrogada até o dia 20 de março. É realmente surpreendente que na Terra Brasílis tenhamos tão preciosas joias que agora vem à luz. O acervo, em parte ainda em recuperação por especialistas, está à disposição de pesquisadores. Visitas de grupos podem ser agendadas com guias especializados durante o tempo da mostra.