1 João 5. 9 Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior. E este é o testemunho de Deus, que ele dá a respeito do seu Filho. 10 Aquele que crê no Filho de Deus tem, nele, esse testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus faz de Deus um mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá a respeito do seu Filho. 11 E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. 12 Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. 13 Estas coisas escrevi a vocês que creem no nome do Filho de Deus para que saibam que têm a vida eterna.
CONFIANÇA ABSOLUTA
Querida comunidade.
Mãe. Dia das mães!
Que espécie de confiança depositamos na pessoa que nos gerou e nos deu a vida?
Aquele ex-diretor de uma estatal em São Paulo, foi solto da cadeia de Tremembé por um magistrado que não gosta de ver gente influente presa. Para onde foi o ex-presidiário? Para o interior de Minas Gerais onde mora sua mãe. Lá esperou ser acolhido por ela.
Aquela moça que ajudou a matar seus pais e aquela senhora que ajudou a matar sua enteada, ambas foram beneficiadas pela lei brasileira e puderam deixar o presídio neste final de semana. A razão para tal benesse? Festejar o Dia das Mães.
Já a paranaense, de 24 anos, que deu à luz ao seu filho enquanto estava em coma após acidente gravíssimo, comemora seu primeiro Dia das Mães com o filho dizendo: “Sobrevivi por ele”.
Roteiros gastronômicos especiais são montados em nossa cidade para que se possa comer bem e curtir os filhos pequenos. Razão para tal? O Dia das Mães.
Ou, como imagina a pastora Anelise em um possível diálogo: “Mãe! Como posso ter certeza de que tu és minha mãe?” Que tipo de respostas são possíveis diante de tal questionamento?
O texto bíblico da pregação deste 7º domingo da Páscoa foi escrito por João e, em seu horizonte, estava a discussão com hereges – pessoas que insistiam em ensinamentos contrários aos da Igreja – e entre estes estavam os gnósticos. Tinham uma séria diferença de entendimento que se resumia em ‘matéria versus espírito’. Dizem, o pecado reside na carne, portanto Cristo não pode ter se tornado verdadeiramente carne. Apenas aparentemente carne. Que o deus do Antigo Testamento criou a matéria, portanto é mau. Ainda que o deus do Novo Testamento não é o mesmo do Antigo, e por aí vai. Hoje as seitas gnósticas estão representadas pela própria Gnose, Neo-testamentistas, Espíritas e Dualistas (como cristãos luteranos dizemos que somos simultaneamente justos e pecadores).
Somos nascidos de quem?
[Antes de entrarmos na observação do texto propriamente dito, gostaria de retomar algo do domingo passado. Quando no texto de Isaías 58 vimos que Deus se apresenta como o EIS-ME AQUI, colocou algumas condicionantes para que Suas promessas se cumprissem entre aquele povo. Condicionantes, talvez não, mas as consequências do “se...então...” deveriam fazer parte da nossa análise. Esta também é a tônica na estrutura do texto hoje observado. Leia em http://luteranos.com.br/conteudo/base-da-reconstrucao.]
Na história da humanidade a dúvida sempre impulsionou pessoas a descobrir novidades e firmar convicções. Com a fé cristã acontece o mesmo. Quando o texto da carta atribuída a João surgiu, também reproduziu dúvidas. Quem foi Jesus? Um mestre, um comilão ou bebedor de vinho, um oportunista, um milagreiro, um ‘expulsador’ de demônios? Um homem com QI e criatividade acima da média? Afinal, “de Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1.46).
É cada vez maior o número de pessoas que não consegue crer em Jesus Cristo. Ou, creem em um Cristo descaracterizado, um Cristo não evangélico, amoldado às necessidades pessoais, aos interesses de grupos e mesmo – pasmem – aos interesses de correntes políticas e filosóficas.
Mas, tal como uma mãe cuidadosa e zelosa, Deus realizou o milagre da vida entre nós. E este é o Seu maior testemunho (v.9). Deus nos deu um filho, nascido da mãe Maria, que proporcionou graciosamente o milagre da salvação. Todas as pessoas que passaram a crer, a confessar Seu nome são filhas e filhos dEle. “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e quem ama aquele que o gerou ama também o que dele é nascido.” É com estas palavras que começa o capítulo 5 de 1 João.
“Mãe! Como posso ter certeza de que tu és minha mãe?” Como podemos ter certeza de que Deus é o nosso Pai?
Fazendo Sua vontade.
Somente a partir de uma relação de confiança com a mãe, e com o pai, que uma criança pode crescer de forma equilibrada. É a partir de uma fiel relação de confiança na base familiar que adolescentes e jovens podem se projetar para uma vida com segurança.
Esta relação de confiança, de acordo com as palavras do texto bíblico, se traduz em ‘testemunho’. Qual era o testemunho de Jesus? Novamente olhando para o início do capítulo, é declarado que discípulos de Jesus amam a Deus à medida que obedecem Seus mandamentos (v.3). Ao fazer a vontade do Pai, que é como uma mãe com seu comprometimento de amor, o Filho Jesus se tornou vitorioso, mesmo nas situações limítrofes de sua existência, os momentos mais difíceis. Nem mesmo a cruz se mostrou como derrota. Foi ali que o pecado e todos os poderes da morte foram vencidos.
Isto dá crédito a Deus! Filhas e filhos fazendo Sua vontade santa são garantia de vida vitoriosa e digna. Sim, em meio a todas as mazelas e descaminhos que nos imputam dúvidas a respeito de Deus, confiar em Deus, fazendo a Sua vontade, é perceber o Deus EIS-ME AQUI diante dos nossos olhos. É pela fé que que o Deus vivo e verdadeiro nos convida a sermos suas testemunhas em todos os âmbitos da nossa existência.
“E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu Filho” (v.11)
Fora do alcance dos poderes da morte.
O Pr. Guilherme relata sobre o reformador Lutero: “...certa vez teve um sonho, no qual foi visitado e duramente atormentado pelo diabo que, cumprindo o papel de acusador, lhe dizia: ‘Tu não estás salvo nem és de Deus porque já pecaste muito’. Este pesadelo se repetiu por um bom tempo. Porém aí, ainda em sonho, lembrou-se da arma poderosíssima que estava ao seu alcance, o sangue de Jesus. Retrucou o diabo dizendo: ‘Toda a acusação feita é verdadeira e tem fundamento, mas peço que vá cobrar isso do Senhor Jesus, que me comprou com o seu sangue. Todos os meus pecados foram perdoados na cruz’. Daquele momento em diante nunca mais foi atormentado com esse tipo de pesadelo.”
Uma confiança quase infantil libertou este homem atormentado das garras do medo. “Quem tem o Filho tem a vida...”, afirma a primeira parte do v.12. Ou seja, viver e agir de acordo com os princípios do Cristo ressurreto é viver e agir na liberdade da vida digna. É uma vida fora do alcance dos poderes promotores da morte, uma vida vivida na liberdade de servir, amar, testemunhar do amor de Deus para todas as pessoas que estiverem ao nosso alcance.
A mãe zelosa adequa a educação com “sins” e “nãos”. O texto, de igual forma, continua dizendo: “...quem não tem o Filho de Deus não tem a vida...”. Esta segunda parte do v.12 delimita o alcance da vida plena: crer ou não crer. A mãe zelosa evita que sua filha fique perto do fogão onde cozinha a panelada de feijão. Um acidente sério pode acontecer ali. Mas a criança provavelmente só entenderá o que é “quente” quando queimar a ponta do seu dedinho. A experiência dolorosa infelizmente faz parte do aprendizado. Melhor é não se queimar nas experiências de vida, porém pode ser a única forma de entendermos o que significa ficar fora do alcance dos poderes da morte.
Confiança verdadeira.
O texto termina dizendo que tudo isso foi escrito para que, 2.000 anos depois, possamos continuar confiando nos enunciados salvíficos e libertadores de Cristo. É aqui que se revelará o que passa no íntimo do nosso coração. Confiar em Deus, que age amorosamente como uma mãe dedicada, é olhar com esperança e determinação para o futuro.
Confiança implica em luta. Confiança é participar da guerra diária pela sobrevivência e dignidade. Balas perdidas e falta de oportunidade não se resolvem apenas com confiança. Mas a confiança partilhada, traduzida em ações de promoção da vida, esta sim faz diferença na sociedade.
Quem sabe seja esta confiança comunitária que traz a Luz ao nosso convívio. Ela é uma das imigrantes que busca oportunidade no Brasil, junto com sua filha. Mãe imigrante que deposita confiança em Deus e nesta comunidade. Que ela cresça, cada vez mais.
Querida comunidade,
não somos nem arrogantes e nem simplistas em dizer: confiar em Deus é tudo! O amparo materno do Deus único cria confiança inabalável. “Aquele que não dá crédito a Deus faz de Deus um mentiroso”, nos lembra o v.10. Portanto, vamos pedir insistentemente que tenhamos sempre a chance de permanecer na Verdade. Que, ao permanecer na Verdade, nasça em nós novamente o prazer de viver. Que com este prazer de viver renasça a confiança, em Deus e mutuamente. Que desta confiança brote a coragem de afirmar aquilo que é inabalável: “...vocês que creem no nome do Filho de Deus ... saibam que têm a vida eterna”. (v.13)
Amém.
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referências:
Abendroth, Anelise. PL 42. Ed.Sinodal, 2017, p. 175
Kaiser, Guilherme. Orando em Família 2000. Ed.Encontro, 1999, P.65