– Isaías 58.9 Então vocês pedirão ajuda, e o Senhor responderá; gritarão por socorro, e ele dirá: ‘Eis-me aqui.’” “Se tirarem do meio de vocês todo tipo de servidão, o dedo que ameaça e a linguagem ofensiva; 10 se abrirem o seu coração aos famintos e socorrerem os aflitos, então a luz de vocês nascerá nas trevas, e a escuridão em que vocês se encontram será como a luz do meio-dia. 11 O Senhor os guiará continuamente, lhes dará de comer até em lugares áridos e fortalecerá os seus ossos. Vocês serão como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca secam. 12 Vocês reconstruirão as antigas ruínas, levantarão os fundamentos de muitas gerações e serão chamados de ‘Reparadores de brechas’ e ‘Restauradores de veredas’, para que o país se torne habitável.” 13 “Se vigiarem os seus pés, para não profanarem o sábado; se deixarem de cuidar dos seus próprios interesses no meu santo dia; se chamarem ao sábado de ‘meu prazer’ e ‘santo dia do Senhor, digno de honra’; se guardarem o sábado, não seguindo os seus próprios caminhos, não pretendendo fazer a sua própria vontade, nem falando palavras vãs, 14 então vocês terão no Senhor a sua fonte de alegria. Eu os farei cavalgar sobre os altos da terra e os sustentarei com a herança de Jacó, seu pai. Porque a boca do Senhor o disse.” (NAA)
Base da reconstrução
Introdução
O povo está chateado com Deus. Jejua, jejua, jejua, e nada. Tal como hoje: oram, rezam, fazem preces, cantam bonito, fazem o sinal da cruz, vão às missas, vem aos cultos e as melhoras não sorriem para o lado deste povo que, assim acredita, precisa ter seu clamor atendido a qualquer custo. Algo está errado. Deus não atendia os clamores e pedidos, tanto assim que se veem tentados a seguir outros caminhos.
Há 2.500 anos atrás, o povo de Deus sofria nas mãos do Império Babilônico. A Palestina estava arrasada. Mas surge o poderoso império da Pérsia/Irã. Ciro, rei da Pérsia/Irã marcha, em 539 a.C., com seu exército imortal – para cada soldado morto outro ocupava seu lugar – sobre a Babilônia. Finda o segundo Império Babilônico (626 a 539 a.C.), regido por Nabucodonosor que havia escravizado o reino de Judá (1 Crônicas 6.15). Agora os hebreus podem voltar à Palestina. A estes exilados o rei Ciro havia permitido que cultivassem sua religião, de forma que, logo após a libertação, o povo hebreu se colocou na tarefa de reconstruir seu templo. Isso acontece em 551 a.C.
O texto que hoje tomamos para fundamentar a pregação foi escrito entre estas duas datas, depois da queda do Império Babilônico e antes da reconstrução do templo. O que ele nos ensina?
A resposta de Deus
Como nem tudo se resolve em um estalar de dedos e como o clamor deste povo sofrido comove Deus, Ele prontamente responde: EIS-ME AQUI. Isso soa como música nos ouvidos deste povo cansado. Ter um Deus que responde EIS-ME AQUI, afinal, não é para qualquer um.
E logo o texto profético emenda: “Se tirarem do meio de vocês todo tipo de servidão, o dedo que ameaça e a linguagem ofensiva; se abrirem o seu coração aos famintos e socorrerem os aflitos...” Evangelho e lei em uma só frase.
Se – conjunção que designa “no caso de, dando-se a circunstância de”. Deus está próximo, atento, e impõe condições. O que quer?
a) Quer atitude de seu povo. Que seja retirada de entre seu povo toda e qualquer forma de opressão, iniquidade social, exploração do próximo. O amor ao próximo não mais existia e, por isso, esse tipo de respeito básico estava turvado.
b) Quer uma mudança de gesto. O dedo ameaçador é gesto de escárnio e menosprezo que se mostra onde um pensa ser mais que o outro, onde um deseja que o outro se dane. O moderno maniqueísmo se caracteriza na incapacidade de vere algo de bom na opinião do outro, mesmo que lhe seja contrária. Esta tem sido um elemento danoso à nossa sociedade que não consegue mais dialogar.
c) Quer que a linguagem ofensiva, os xingamentos, sejam abolidos. Ofender pelas palavras – mesmo que a pessoa se julgue totalmente correta em sua posição – não ajuda a construir coisa alguma. Aparentemente a própria heresia dualista se mostra na necessidade de ofender. Nossa sociedade está contaminada com esta anomalia de tratamento.
São basicamente três procedimentos que irão condicionar a ação favorável, não só de Deus, mas do povo que ama Deus. Estas observações resultarão em atitudes positivas, de acordo com o que vemos no texto do profeta.
d) A alma – a essência fundante das pessoas que seguem ao EIS-ME AQUI de Deus – têm olhos e coração para as pessoas famintas. Deus atende aos famintos, “inclusive às pessoas más. Mas pedimos [na oração do Pai Nosso] que ele nos faça reconhecer isso e receber com gratidão o pão nosso de cada dia. [Isso significa:] tudo que se refere ao sustento e às necessidades da vida: comida, bebida, roupa, calçado, casa, lar, meio de vida, dinheiro e bens, marido e esposa íntegros, filhos íntegros, empregados íntegros, patrões íntegros e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra, amigos leais, bons vizinhos e coisas semelhantes”. (Catecismo Menor). São atitudes concretas que vêm ao encontro dos famintos.
e) A alma aflita – das pessoas que seguem ao EIS-ME AQUI de Deus – igualmente encontrará sossego e conforto. É a morte, a briga em família, a separação de um casal, as brigas do casal, a insegurança, a violência, a incerteza do amanhã... A alma aflita será fartada, será saciada, terá mais que o suficiente ao ter uma comunidade de fé, ao ter ouvidos que a ouça e entenda.
A promessa de Deus
O “se...então...” é repetido inúmeras vezes em textos bíblicos. Mais do que condicionante, mostra a “lógica” divina de que ações têm consequências, sempre. O apóstolo Paulo o sistematizou no seu clássico “...aquilo que a pessoa semear, isso também colherá” (Gálatas 6.7)
Então, o que estará acontecendo à medida que pessoas ouvem e seguem o EIS-ME AQUI de Deus?
a) A tua luz nascerá nas trevas. “a escuridão em que vocês se encontram será como a luz do meio-dia” (v.10);
b) Serão continuamente guiados por Deus. (v.11);
c) Repetindo a questão da fome, estas pessoas estarão satisfeitas mesmo onde não parece existir a chance de sustento, como lugares áridos (v.11);
d) Serão frutíferos. Conforme o Salmo 1.3: “É como árvore plantada junto a uma corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto (...) e tudo o que ele faz será bem-sucedido”;
e) As ruínas passarão pela reconstrução com a participação ativa e responsável de cada qual. Isso será de tão alto impacto que serão chamados ‘Reparadores de brechas’ e ‘Restauradores de veredas’. (v.12) Esta será sua fama!
Ao fazer estas promessas, o profeta parece lembrar de mais um detalhe que, se não observado, poderia pôr a perder todas estas coisas boas anunciadas por Deus:
Colocar em prática o 3º mandamento: observar e santificar o dia do descanso. O respeito a este dia, fazendo dele o Dia Santo, significa dedicar-se à adoração a Deus. Como explica o reformador, “devemos temer e amar a Deus e, por isso, não desprezar a pregação e a sua palavra; mas devemos ter respeito por ela, ouvi-la e estudá-la com gosto.” Colocar Deus no centro! Colocar a obra reconciliadora de Jesus no altar da vida. Esta é a grande atividade deste dia, e sobre ela devemos fundamentar os nossos pés para que não enveredem maus caminhos.
Conclusão
Prezada comunidade:
Como dissemos no início do Culto, desejamos que você encontre hoje, neste lugar, a alegria e a esperança em seu coração. Que você leve bênçãos para toda a sua vida. O profeta encerra sua fala dizendo que Deus é fonte da alegria.
Mas tem mais a ser dito. O prédio que ruiu serviu de tela para um artista satanista, o mesmo que está com obras expostas em Porto Alegre e patrocinadas por um instituto alemão. Expõe o Cristo decapitado. Na mesma manhã que esta obra foi pichada com as palavras “ele ressuscitou”, o prédio em São Paulo ruiu. Ficou em pé a cruz sobre o altar da Igreja Luterana e ficou em pé a torre, como mãos postas em oração apontando para o céu, para Deus. A torre abriga o órgão que certamente voltará a conduzir fieis no louvor alegre e contagiante ao Criador.
Alegria ressurge das cinzas, das doenças, da própria morte. A tragédia manifesta de forma dramática a ferida que corrói o país inteiro: falta de habitação, a falta de respeito, a falta de princípios éticos, a falta de vontade dos governantes, a falta de vergonha, enfim, a falta de valores. O templo luterano foi engolido nesta tragédia e nada poderia ser mais simbólico, nada poderia ser mais evangélico. Se não existe igreja sem povo, e este povo é povo pobre e desorientado, desprovido de chances. Por isso somos desafiados a não ser a Igreja “barca dos escolhidos rumo ao paraíso” e sim ser a igreja que naufraga com a miséria para que todas as pessoas sejam capazes de ouvir o EIS-ME AQUI, e ressurgir.
A alegria no Senhor do EIS-ME AQUI é a nossa força (Neemais 8.10) e a verdadeira alegria no Senhor consistente na base da reconstrução.
Amém!
(com apontamentos de Kurt Rieck)
Veja o que foi publicado sobre Tragédia no centro de São Paulo