Paróquia Evangélica Luterana no Rio de Janeiro - Martin Luther

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A outra forma de falar do Evangelho - Gálatas 6.11-18

Introduzindo o assunto

17/10/2021

Gálatas 6.11-18

11 Vejam com que letras grandes estou lhes escrevendo de próprio punho! 12 Os que desejam causar boa impressão exteriormente, tentando obrigá-los a se circuncidarem, agem desse modo apenas para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13 Nem mesmo os que são circuncidados cumprem a lei; querem, no entanto, que vocês sejam circuncidados a fim de se gloriarem no corpo de vocês. 14 Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. 15 De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação. 16 Paz e misericórdia estejam sobre todos os que andam conforme essa regra, e também sobre o Israel de Deus.
17 Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus.
18 Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém.


A outra forma de falar do Evangelho
O apóstolo Paulo está encerrando sua carta aos gálatas, os moradores da região da Galácia. Nela escreveu, mais uma vez de forma clara, para as pessoas convertidas ao cristianismo que há doutrinas que novamente as querem tirar do caminho da fé e da graça tornando-as novamente escravas das leis judaizantes.


Introduzindo o assunto.

ML escreveu em sua introdução ao Comentário da Espístola aos Gálatas em 1535 que “…Cristo é motivo de riso entre seus cristãos (pois assim querem ser chamados), Caim continua matando Abel, interminavelmente, e a abominação de satanás, agora, reina de modo absoluto.” (OS 10,22-26)

Por isso, assim entendo, é necessário um outro modo de falar do Evangelho: falar da cruz. O Evangelho está associado à imagem das boas notícias, dos aspectos positivos da Palavra viva e eficaz. Evangelho, para a maioria das pessoas batizadas, está associado a descompromisso. O Evangelho é quase amenidade. Quase! Por isso Paulo usa uma outra forma para falar a respeito da salvação: a cruz. Os textos bíblicos que ouvimos nas leituras na parte litúrgica deste Culto — Isaías 53.4-12, o sofrimento do servo do Senhor e Hebreus 5.1-10, Jesus é o sumo sacerdote definitivo para toda a humanidade — remetem a esta nova interpretação. A cruz é claramente o sinal máximo do Evangelho, a boa nova da salvação, porque a cruz afasta o diabo de perto do povo cristão verdadeiramente comprometido com o Evangelho.

1. Escrito em letras grandes.

É muito provável que no fim de sua vida, Paulo evidenciasse sérios problemas de visão além de outras doenças em seu corpo. Ao que parece, num esforço extra, de dentro da prisão, escreve ele mesmo as últimas linhas da carta.

A motivação para tal esforço é muito clara: “…dia a dia, satanás, aquele deus dos homens facciosos, suscita novas seitas”, escreveu ML. E este alerta precisa ser dado em letras grandes. A obrigação da circuncisão fazia os novos cristãos correr em direção errada, apenas para dar provas públicas de cumprimentos de certos rituais impostos pelos líderes religiosos, e assim acabavam criando novas seitas.

Seitas, grupos de pessoas que se orgulham de estarem cumprindo preceitos religiosos são, portanto, alvo da exortação apostólica. Muitas pessoas dentro das Igrejas, por medo da morte e do inferno, acabam se tornando cumpridoras de regras sem, no entanto, converterem seu coração a Jesus Cristo. Casam de acordo com as normas da igreja, batizam e mandam batizar, cumprem com as regras do Ensino Confirmatório e tem ainda um enterro digno conduzido por ministra ou ministro e acham que com isso se resolve um ciclo de vida aprovado por Deus. Por que, então, não receber o céu como herança? Mas seu coração ainda é de satanás.

Fervorosas cumpridoras de leis se tornam pessoas orgulhosas e perigosas. Acabam não compreendendo o verdadeiro sentido da graça que a cruz de Cristo resgada.

2. E, “quanto a mim”?

Paulo já em outras oportunidades chamou para si a responsabilidade de ser seguido em seus passos. Não que isso configure orgulho ou exaltação própria. Até ele se queixa: “Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7.19). Ao contrário. é uma tomada de posição, como lemos: “…que a nossa velha natureza foi crucificada com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos mais escravos do pecado” (Romanos 6.6).

“Quanto a mim” é uma tomada de posição diferente da realidade que me circunda. O brilho e a glória deste mundo se tornam valores relativos diante da tarefa maior que recebemos a partir da nossa vida com Jesus — essa posição para a qual fomos convocadas e convocados a partir de nosso batismo.
O que existe de admirável no ser humano, então? Nada! Mas, ao mesmo tempo, tudo! Diante da cruz de Cristo nada nos resta de glamour. No entanto é diante da cruz de Cristo que todos nossos valores recebem uma nova proporção de importância e significância. E esta nova significância não é encontrada no cumprimento de rituais religiosos. É encontrada na vida entregue como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cf. Romanos 12.1).

Pessoas cristãs, comprometidas com o Evangelho da Cruz, são convocadas a fazer a diferença. O v.15 do texto lido, diz: “O que importa é ser uma nova criação”. Este é o bom e necessário “fio vermelho” na nossa existência. Ou, poderíamos comparar ao barbante de prumo. Se reconhecer como “nova criação” é a fantástica ruptura com a mesmice do passado pesado e opressor — por causa da opressão do pecado — e a fantástica vida nova na luz e no testemunho concreto de que, com Jesus, coisas novas acontecem. De verdade!

3. Uma existência de paz e entendimento.

Quem não quer isso? Paz e entendimento não é um anseio altruísta de uma humanidade que não sabe mais o rumo que está tomando — especialmente no seio da igreja cristã onde inúmeros movimentos judaizantes despontam e multidões vão atrás por não entenderem a graça da cruz —. Paz e entendimento é a linha mestra da ação cristã, é o fio vermelho a partir do escândalo da cruz que dá o rumo certo para a ação cristã.

O apóstolo está cansado e debilitado. Atribui boa parte de sua fraqueza à teimosia de seus ouvintes que, reiteradamente, e em nome do Evangelho, negavam a obra de Cristo na cruz. Sobrecarregavam seus ouvintes com leis e regras e não davam a liberdade de promover mudanças duradouras na sociedade de então.

Por que, sempre de novo, Paulo precisava se defender, escrever cartas de orientações às comunidades, com insistência voltar aos assuntos iniciais quando estes já deveriam fazer parte de uma maturidade cristã? Por que ouvintes do Evangelho de Cristo sempre de novo faziam questão de se tornarrem escravos de leis sem sentido para a dignidade de vida?

4. A graça que impulsiona e compromete.

Ao centralizarmos os argumentos da graça e da misericórdia de Deus no acontecimento da cruz de Cristo, estamos novamente colocando o foco da nossa vida no lugar certo.

É evidente que nós temos dificuldades de viver em liberdade. Tendemos a querer agradar a Deus através do cumprimento de leis e, quando percebemos que não somos capazes, nos desestabilizamos: o que me resta para que obtenha a salvação? A lei revela nosso fracasso; fracassos nos tornam cada vez mais desumanos; como desumanos reproduzimos valores de agressividade; como agressivos, não mais ouvimos e nem vemos a pessoa ao nosso lado.
Mas a graça da cruz muda tudo. Parabéns, professores, que com amor e misericórdia exercem sua nobre função de ensinar conteúdos e valores. Parabéns papais, que impulsionam suas crianças a andar nos caminhos da paz e do entendimento a partir do exemplo de Jesus. O que impulsiona também nos compromete e, de maneira inversa, o que nos compromete nos dá novos impulsos para servir ao Senhor.

Concluíndo. Prezada comunidade de fé e vida, nunca deixemos de nos balizar pela liberdade que a cruz de Cristo granjeou. Que alegria contagiante poder viver o perdão a partir da Cruz de Cristo. Este é o verdadeiro Evangelho. E mais: deixemos nos desafiar a viver da graça de Cristo nesta sociedade. Deixemos de lado o legalismo e vivamos nos deixando contagiar e contagiando outros com a alegria do Evangelho. Cristo não mais será motivo de riso e deboche se nosso testemunho for concreto e alegre para a transformação de vidas e da sociedade.

Que o Espírito Santo libertador e alegre contagie nossa vida, a vida desta Igreja. Faça de nós fortes em comunhão e ação.

Amém!
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Gálatas / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 11 / Versículo Final: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65857

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