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Salmo 15 (e leitura paralela Hebreus 4.14-16)

Prédica em Sl 15 autoria P. Me. Alexander Busch

01/02/2023

Estimados irmãos e irmãs em Cristo, estimada comunidade,

Para quem participa nos cultos na comunidade evangélica em Maripá, este é o primeiro culto do ano 2023. Depois de um período em que nós, Pastora Adriana e Pastor Alex estivemos ausentes, estamos hoje reunidos em comunidade neste local pela primeira vez neste ano de 2023. Por isso, as palavras do Salmo 15 são muito apropriadas para esta ocasião. A oração do Salmo 15 é um convite para entrar na presença de Deus. Através desta oração, Deus chama o povo para entrar no seu templo e ser acolhido na sua casa. As palavras do salmo 15 querem conduzir o povo para estar na presença de Deus.

Mas de forma alguma o povo, incluindo nós, podemos entrar no templo e estar na presença de Deus de uma forma casual, de uma maneira precipitada, sem reflexão e sem compromisso. O verso 1 do salmo nos traz este alerta, esta advertência, ao levantar a pergunta, “Ó Senhor Deus, quem tem o direito de morar no teu Templo? Quem pode viver no teu monte santo?”. O monte santo se refere ao monte onde o templo de Jerusalém foi construído. Mas, mesmo que este não seja o templo de Jerusalém, ainda assim entrar no templo de Deus em Maripá e estar na presença de Deus é algo que fazemos com reflexão e compromisso. Isto é assim porque Deus não é um nome qualquer ou um objeto para ser manipulado de acordo com os nossos gostos e vontades. Deus é Deus santo, puro e perfeito. Quando comparado com este mundo e seus habitantes, Deus é totalmente outro, diferente da sua criação. Por exemplo, na história de Moisés, quando Moisés encontrou um arbusto em chamas que não se queimava, e Deus chamou Moisés para se aproximar e entrar na sua presença, Deus lhe disse, “tire as suas sandálias pois o lugar onde você está é um lugar santo” (Ex 3.5). Ou ainda, temos a história do profeta Isaías que foi levado à presença de Deus, e na sua presença reconheceu que seus lábios eram impuros e que ele morava em meio a um povo que também tinha lábios impuros. Ou ainda, podemos destacar a maneira como o templo de Jerusalém foi construído. O templo tinha várias paredes separando os diferentes espaços. E o lugar mais exclusivo era uma sala chamado santo dos santos, local da presença de Deus, onde uma vez ao ano, o grande sacerdote tinha permissão para entrar na presença de Deus e pedir em favor do povo.

Além de destacarmos a santidade de Deus, tem um outro detalhe enfatizado no verso 1. No português não conseguimos perceber isto muito bem, mas na língua hebraica, que é o idioma original do AT, o salmista usa as mesmas palavras que eram usadas para falar de acolhida, de oferecer hospitalidade a pessoas de longe, de prestar cuidado a pessoas estrangeiras. Ou seja, o salmista enfatiza a hospitalidade de Deus e que nós, povo, somos acolhidos debaixo de seu cuidado. Nenhum de nós têm direito de entrar no templo de Deus. Somos hóspedes de Deus. Deus, por sua graça e bondade, nos acolhe em sua casa.

Portanto, querida comunidade, quando o salmista pergunta, “ó SENHOR, quem tem o direito de morar no teu templo e viver na tua presença?”, sua intenção é nos mostrar que estar diante de Deus é um privilégio e uma responsabilidade. Deus é santo. Mas ainda assim, Deus abre as portas de seu templo para nos acolher. Deus é totalmente outro. Mas ainda assim, Deus nos concede hospedagem e abrigo. Estamos na presença de Deus. Somos hóspedes na sua casa.

E agora movemos adiante com as palavras do Salmo 15. Pois assim como receber acolhida numa casa, exige de nós se adaptar aos costumes da casa, assim como estar hospedado com alguma família, exige de nós se adaptar aos costumes da família, estar na casa de Deus e na família de Deus tem implicações e consequências. É sobre isto que a oração do salmista quer falar a partir do verso 2 até o verso 5. O salmo descreve com palavras a vida das pessoas que recebem a hospitalidade de Deus e que fazem parte de sua comunidade.

O que podemos prontamente perceber é que a convivência com Deus e a convivência com as pessoas estão entrelaçadas. A pessoa que é acolhida e cuidada por Deus, estende a sua hospitalidade e cuidado a outras pessoas. O salmo 15 nos coloca isto de uma forma positiva e negativa. Positiva ao dizer: viver uma vida correta, fazer o que é certo, ser sincero e verdadeiro no que diz (v.2). Positiva ao dizer: desprezar aqueles que o SENHOR rejeita e tratar com respeito as pessoas que confiam no Senhor (v.4). Aqui cabe um comentário sobre esta palavra desprezar, caso contrário corremos o risco de pagar o mal com o mal, contestando o ensino de Jesus. Uma forma de entender este verso 4 é reconhecer que vivemos num mundo onde muitas pessoas, inclusive pessoas que se dizem cristãs, se deixam corromper pela maldade contra o próximo. Então, é preciso estar atento, prestar atenção, não se deixar levar pela onda com a desculpa que todo mundo faz assim também.

Penso que, neste sentido, os exemplos negativos citados pelo salmo 15 nos trazem alguma luz. Pois, o salmo diz: não falar mal das outras pessoas, não prejudicar os seus amigos, não espalhar boatos a respeito de seus vizinhos (v.3). Em outras palavras, cuidar da nossa língua para que nossas palavras não sejam palavras impuras que machucam outras pessoas ou, nestes tempos de WhatsApp, cuidar para que os nossos dedos não espalhem fake News, palavras mentirosas a respeito de outras pessoas. Por isso é sempre bom, antes de passar adiante com os dedos, perguntar e verificar se uma notícia é falsa ou não.

O salmo ainda diz, de uma forma negativa: não emprestar com juros e não aceitar suborno para ser testemunha contra pessoas inocentes (v.5). Aqui também cabe um comentário sobre emprestar com juros, porque de acordo com a lei do AT (Ex 22.25-27; Lv 25.35-38), o objetivo ao emprestar dinheiro é ajudar uma pessoa em necessidade e não explorar a pessoa em suas dificuldades. O foco do empréstimo era ajudar e não explorar. Talvez nos dias de hoje não temos como emprestar sem cobrar algum tipo de juro, mas esta palavra do salmo 15 é certamente uma crítica aos juros abusivos praticados pelos bancos no Brasil, um dos índices mais altos do mundo que, muitas vezes, ganham grande lucro em cima de pessoas idosas, para citar um exemplo. Em todo caso, o que o salmo 15 nos adverte contra o lucro desonesto, que se aproveita das pessoas ou mente no tribunal em troca de dinheiro (cf. Dt 16.19-20).

Por fim, chegamos à palavra final desta oração do Salmo 15, “A pessoa que age assim estará sempre segura” (v.5b). Uma conclusão bastante apropriada para as pessoas que querem entrar no templo de Deus e serem acolhidas debaixo de sua hospitalidade e cuidado. Pois neste mundo com tantos desafios e dificuldades, neste mundo com tantas tentações e maldades, temos a promessa de encontrar segurança em Deus. Deus nos acolhe e nos ajuda a caminhar conforme sua palavra e vontade. Deus nos oferece hospedagem e cuida para que nossos caminhos sejam íntegros, verdadeiros e justos. Como comunidade cristã reconhecemos que o nosso caminhar será de acordo com a vontade de Deus se caminhamos junto com Jesus Cristo. Ele é quem nos dá sabedoria para descobrir a vontade de Deus. Jesus é quem nos concede força diante das tentações. Jesus é quem nos concede perdão e restauração quando caímos ou nos afastamos da presença de Deus. Jesus é, como o grande sacerdote de tempos antigos, aquele quem entra na presença de Deus e pede em nosso favor, a fim de sempre de novo sermos povo acolhido, estendendo a hospitalidade e cuidado de Deus a outras pessoas. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações / Organismo: Capela Luterana
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 15
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 69558

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