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Oramos pelo advento de Deus - Ó Deus, vem a nós para nos salvar. Isaías 64.1-9

Autoria P. Me. Alexander Busch Is 64.1-9 - 1º.Domingo no Advento

06/12/2020

 

Estimada comunidade, meus irmãos e irmãs em Cristo Jesus,

O tempo de Advento é ocasião para proclamar esperança. O texto bíblico que hoje nos confronta é palavra de esperança. É palavra de esperança anunciada num tempo e chão distantes do nosso. É também palavra de oração que o profeta Isaías, mensageiro de Deus, traz diante de Deus – destacando que a oração e esperança estão intimamente ligadas. Quem ora a Deus, espera em Deus. Orar com esperança, entretanto, é reconhecer que existem motivos para a desesperança, para o lamento. E de fato, a oração de Isaías que ouvimos no capítulo 64 é um recorte da oração que inclui o capítulo anterior, o capítulo 63 de Isaías. Lendo os dois capítulos em conjunto temos uma visão mais ampla da situação de desespero e sofrimento que o povo está percorrendo. O chão era cheio de obstáculos e o tempo era de angústia e sofrimento. Compreendendo o contexto, assimilamos melhor a esperança. 

Eis que era tempo de retornar do exílio – tempo de reconstruir as casas, recuperar o templo, restaurar o país. O longo exílio na terra estrangeira da Babilônia havia terminado. Os sobreviventes do exílio regressavam à terra natal para reencontrar e juntar forças com os sobreviventes que haviam permanecido na terra natal. Mas a reconstrução era árdua, difícil. Além de trabalho de refazer vilarejos e cidades, o povo sofria com a pressão e zombaria de povos vizinhos. É dentro deste contexto que Isaías ora a Deus em nome do povo, expressando seus sentimentos de dúvida e desconfiança, tais como, “Onde está o Senhor, que salvou do mar o seu povo, que salvou o seu rebanho e Moisés, que era o seu pastor?” (63.11); “Onde está o Senhor ... que dividiu o mar na frente do seu povo e o fez passar pelas águas profundas” (63.13); “Onde está o teu poder e o teu cuidado por nós? (63.15). O povo perguntava de forma nova e intensa pela presença de Deus em meio às suas muitas penúrias e dificuldades.

Por isso, o clamor diante de Deus. O profeta pedindo para que o Senhor Deus rasgasse o céu e descesse na terra para manifestar seu poder e fazer tremer de medo os inimigos (Is 64.1). São ecos do passado como do Deus que ouviu o gemido de seu povo na escravidão do Egito e conduziu seu povo para a terra da liberdade. Agora neste novo tempo de angústia e chão cheio de obstáculos, o profeta ora pelo advento de Deus – Ó Deus, vem a nós para nos salvar.

Como em outras orações na Bíblia, como em outros momentos da história bíblica, percebemos que a sua mensagem não é uma maquiagem da realidade humana, para esconder a dor, o sofrimento, o desespero que se abatem sobre as pessoas. Muito pelo contrário, a mensagem bíblica reconhece e torna visível os caminhos que você e eu, nós, pessoas humanas, muitas vezes temos de percorrer. E não somente isso. A mensagem bíblica, especialmente a palavra de lamento que ouvimos hoje de Isaías, nos dá a liberdade para apresentar diante de Deus as nossas queixas, as nossas frustrações, a nossa raiva, o nosso clamor por esperança.

A oração de Isaías, porém não termina num tom de lamento. Ele prossegue com palavras de esperança, confessando os pecados do povo, e se identificando ele mesmo com os pecados do povo, “Todos nós nos tornamos impuros, todas as nossas boas ações são como trapos sujos. Somos como folhas secas; e os nossos pecados, como uma ventania, nos carregam para longe” (64.6). É palavra de esperança porque Isaías e o povo reconhecem que a salvação não depende deles mesmos. A salvação precisa vir de fora. Também aqui na confissão de pecados, o profeta está orando pelo advento de Deus – Ó Deus, vem a nós, pessoas pecadoras, para nos salvar. Sobre o Advento de Deus, o pastor Luterano Dietrich Bonhoeffer certa vez comentou, “a gente aguarda, tem esperança, faz isso ou aquilo – no fundo, coisas secundárias -, a porta está trancada e só pode ser aberta pelo lado de fora. (Resistência e Submissão, carta a Eberhard Bethge, 21.Nov.1943, pág. 184). Em outras palavras, a esperança não está firmada em nós mesmos, mas está firmada no Deus que vem de fora e nos abre a porta.

E então, temos esta afirmação de fé, de convicção, de esperança, “Mas, tu, ó Senhor Deus, és o nosso Pai; nós somos o barro, tu és o oleiro, todos nós fomos feitos por ti” (Is 64.9). A oração do profeta invoca Deus como pai, ‘tu és o nosso pai’. E Deus é chamado de Pai num sentido amplo: Pai como aquele que dá origem à vida, o Progenitor, Pai como aquele que acompanha e cuida de seus filhos e filha, Pai que cuida de suas crianças para conduzir seus passos rumo a um futuro seguro e bendito. À imagem do pai que cuida, o profeta ainda acrescenta a imagem do oleiro. O oleiro que com suas mãos firmes molda o barro, dando lhe uma nova forma e um novo futuro. Do barro nasça talvez uma jarra para colocar água. Em todo caso, o profeta Isaías apela para Deus como Pai, como oleiro, como Deus da reconciliação e comunhão que tem poder para restaurar, cuidar e guiar o povo para um novo futuro.

O novo futuro chegou anos mais tarde para o profeta e o povo. Seus descendentes reconstruíram as casas, recuperaram o templo, restauraram o país. A promessa se cumpriu, ainda que de forma parcial. Digo parcial porque em nosso tempo nós temos uma visão mais ampla do futuro que Deus está preparando para seu povo. Em nosso tempo, anunciamos que Deus rasgou os céus e desceu na terra para manifestar o seu poder na humilde criança nascida em Belém. Nela, Cristo Jesus, as promessas de Deus se abrem diante de nós para nos conduzir num novo futuro. Nesta criança, Jesus o Messias, temos a promessa de sermos acolhidos/as na sua comunidade através do batismo. Nesta criança, Jesus o Salvador, temos a promessa de sermos conduzidos por sua presença, mesmo quando o chão é cheio de obstáculos e é tempo de angústia. Deus rasgou os céus e desceu na terra para cumprir nesta criança sua promessa de ouvir nossas orações, de fortalecer nossa esperança, de nos conduzir para um futuro seguro e bendito, neste mundo e no mundo porvir. Junto com o profeta Isaías nós oramos pelo advento de Deus – Ó Deus, vem a nós para nos salvar. Amém.
  


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 64 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 60441

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