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ID: 341

O Canto da Comunidade, legado da Reforma da Igreja Salmo 46

Autoria P. Me. Alexander Busch (adaptada da prédica da colega Pa. Elisângela Borchardt Röwer) Sl 46

31/10/2020

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo,

Neste dia em que celebramos o dia da Reforma da Igreja, quero dar especial atenção a algo que também foi recuperado por Lutero no culto, mas nem todas as pessoas sabem que faz parte do legado da reforma: o canto em comunidade. O canto comunitário é um presente de Deus que alegra e enriquece o culto. Como é bom quando também temos o privilégio de termos em nossa comunidade pessoas com dons musicais, que acompanham os hinos com seus instrumentos.

Na época de Lutero, a comunidade não cantava durante a celebração da missa. Somente um grupo seleto cantava, o coro da igreja e os padres. A comunidade reunida se limitava a ouvir a música. Quando Lutero, que era padre e professor de AT na Universidade de Wittenberg, assumiu a tarefa de reformar a Igreja a partir de Palavra de Cristo Jesus, a missa passou por algumas mudanças. Entre estas mudanças na missa, o retorno do canto em comunidade. Lutero percebeu que tanto no AT como no NT, o canto em comunidade era aprovado por Deus. No Antigo Testamento temos o exemplo do canto de Miriam conduzindo o povo no louvor a Deus depois da fuga da escravidão no Egito (Ex 15) ou ainda a coleção de hinos e orações conhecida como livro de Salmos. No Novo Testamento, entre muitos exemplos, temos Jesus e os discípulos cantando depois de celebrar a ceia da Páscoa (Mt 26.30) e a palavra de Paulo à comunidade, “Animem uns aos outros com salmos, hinos e canções espirituais. Cantem, de todo o coração, hinos e salmos ao Senhor” (Ef 5.19).

Lutero, como bom leitor da bíblia, nela encontrou a orientação para promover o canto em comunidade. E para incentivar o canto na comunidade, o próprio Lutero escreveu hinos e apoio que outras pessoas também assim o fizessem. Lutero certamente tinha como colaborar na composição de hinos porque a música lhe acompanhava desde menino. Na escola Lutero aprendeu a cantar e, porque cantava bem, foi incluído no coro da igreja. Mais tarde, quando estudante, costumava ganhar alguns trocados num grupo de canto que participava de cerimônias de casamento e sepultamento. Finalmente, quando Lutero ingressou no mosteiro, ele aprendeu o canto gregoriano e decorou os 150 salmos do livro de Salmos através do canto – os salmos eram geralmente rezados em forma de canto. Dessa forma, a música esteve muito presente na vida de Lutero e Lutero usou a música para anunciar a boa notícia do evangelho de Cristo Jesus.

Aliás, a música teve um papel muito importante em no desenvolvimento da reforma da igreja. Com o restabelecimento do canto em comunidade, o povo cantava não somente nas missas, que mais tarde foram chamadas de cultos. As pessoas cantavam nas ruas e praças, cantarolavam as melodias e letra que aprendiam na igreja. Até mesmo nos locais onde insistiam em vender as assim chamadas cartas de indulgência em que o perdão de Deus era comprado pelas pessoas, algumas vozes de protesto se faziam ouvir quando cantavam hinos de Lutero anunciando Jesus e sua salvação pela graça. Ou seja, a música, o canto estavam à serviço do evangelho de Cristo Jesus. Lutero compôs vários hinos, alguns era adaptação de melodias conhecidas, outros eram de autoria original. O hino mais conhecido de Lutero é Deus é Castelo Forte, inspirado pelas palavras do Salmo 46.

O Salmo 46 é uma oração de confiança. Provavelmente cantado no grande templo de Jerusalém, nesta oração o povo expressa sua confiança em Deus, nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. O Salmo usa imagens bem fortes para contrastar a tormenta ao redor, as muitas águas que rugem e espumejam, estremecendo e abalando o alicerce das montanhas. O salmo nos apresenta, por um lado, a insegurança e a instabilidade do caos, e, por outro lado, a segurança e firmamento seguro que Deus oferece. Assim como para o povo de Israel, assim também no tempo da Reforma da Igreja, tempo de grande instabilidade e mudanças políticas e sociais, Deus foi refúgio e fortaleza, um castelo forte, como disse Lutero. Visto que a reforma abalava o ganho financeiro da igreja – a venda de indulgências - que beneficiava especialmente as pessoas do alto escalão na hierarquia da igreja, Lutero e as pessoas que questionavam esta prática à luz do evangelho, foram perseguidas e até mesmo mortas. Deus, porém, continua sendo Deus, mesmo quando as águas agitadas derrubam as montanhas.

O Salmo 46 é também oração de esperança. Os arcos e as lanças de guerra têm os seus dias contados. Deus há de findar as guerras, silenciar os conflitos humanos, aquietar os corações ansiosos. Para a comunidade cristã, que crê e confessa Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador, esta esperança já nos é revelada: Cristo é a nossa Paz. Nele encontramos um refúgio seguro em tempos de aflição. Nele encontramos a palavra do perdão e da reconciliação que queremos anunciar em gestos, em palavras, na oração, no canto em comunidade.

Querida comunidade, Lutero valorizou a música como presente de Deus para anunciar esta boa notícia. Se hoje os hinos cantados pela comunidade enriquecem o culto e fortalecem a fé, muito se deve ao legado da Reforma da Igreja, lembrando sempre que nunca foi intenção de Lutero dividir a igreja de sua época, mas sim reformar a igreja partir da Palavra de Cristo Jesus. A própria Igreja Católica da época reconheceu o poder dos hinos cantados nas comunidades. As lideranças contra a reforma diziam, “Lutero nos causou maior mal com seus hinos do que com seus sermões.” Um cardeal daquele tempo escreveu, “o interesse pela mensagem de Lutero aumentou de modo extraordinário por causa dos hinos cantados por pessoas de toda classe social; não somente nas escolas e igreja, mas nos lares, oficinas, mercados, ruas e campos”.

E também não podia ser diferente: as pessoas que antes iam e voltavam caladas da igreja, agora podiam participar cantando hinos de louvor, cantos de esperança, palavras de confiança. Fica para nós o desafio de manter este legado: de valorizar o canto na comunidade e certamente valorizar e investir nas pessoas que colocam seus dons de música à serviço da comunidade e do evangelho. E paralelamente dizemos, resgatar e valorizar o canto na pequena comunidade que é a família. Antigamente as famílias tinham em casa bíblia e hinário. O canto em conjunto era instrumento para ensinar a Palavra e fortalecer a fé. E se hoje achamos que a voz engasga na hora de cantar, temos a tecnologia da internet a nosso favor: músicas com letras edificantes que podem ser ouvidas e cantadas, proclamando a boa notícia do evangelho de Cristo Jesus, exaltado entre as nações, nosso refúgio. Amém.

Prédica adaptada da prédica da colega Pastora Elisângela Borchardt Röwer disponível em
https://www.luteranos.com.br/conteudo/sl-46-1-7-dia-da-reforma-31-10-2013

 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Música
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 46 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 59811

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