Estimada comunidade,
Eis que se aproxima o dia de celebrar o nascimento de nosso Salvador, Deus-Emanuel, Deus conosco. Faz parte deste tempo de espera, tempo de advento, trazer à memória pessoas que Deus chamou para servir e participar na missão de Deus neste mundo. Especificamente para que o Salvador se tornasse gente, Deus escolheu Maria para fazer parte de sua missão.

Isso aconteceu quando um anjo foi enviado para anunciar à Maria que ela seria a mãe do Filho de Deus. Imaginem como ela se sentiu! Sua primeira reação foi de susto, um anjo vindo em sua direção, dizendo “Que a paz esteja com você, Maria. Você é muito abençoada. O Senhor está com você!”. Sim, ela fica perplexa, sem saber o que fazer, sem entender o que aquilo significava. O que queria este anjo com uma pessoa simples do povo de Israel. O que motivou o anjo do Senhor a visitar uma mulher camponesa, moradora de um vilarejo sem importância, Nazaré da Galileia. Qual a intenção de Deus em enviar seu mensageiro, o anjo, para a jovem Maria?

Seu espanto é tamanho que ela nem sequer consegue falar, responder, indagar o anjo sobre o que ele deseja, o que ele quer . . . O anjo, percebendo o estado de pânico e medo em que Maria se encontra, lhe diz: “Não tenha medo, Maria. Deus está com você!”. Na história bíblica estas palavras “Não tenha medo” geralmente significam que algo muito importante está por vir. Muitas vezes estas palavras aparecem em histórias em que Deus está chamando uma pessoa para realizar uma missão. “Não tenha medo. Eu estou contigo” são as palavras que Moisés ouviu junto à sarça ardente, quando Deus chamou Moisés para retornar para a terra do Egito e anunciar ao poderoso Faraó que ele deveria libertar da escravidão o povo de Deus. “Não tenha medo” são as palavras que Josué ouviu antes de liderar o povo saindo do deserto rumo à terra prometida. E o profeta Jeremias, ainda quando jovem, ouviu de Deus, “Não tenha medo, Eu estou contigo” – a promessa para lhe amparar na difícil tarefa de profeta entre pessoas que não queriam ouvir a mensagem do Senhor. E agora Maria é quem ouve as palavras “Não tenha medo. Eu estou contigo”. Quem conhece as histórias bíblicas sabe que estas palavras estão unidas ao chamado de Deus para realizar uma missão. Maria o sabe muito bem. Por isso, Maria tem medo. Deus está chamando Maria para uma tarefa que inclui riscos e perigos.

O anjo continua dizendo, “Você vai ficar grávida e dará à luz um filho que será chamado de Jesus. Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele será um grande homem, será rei e seu reinado não terá fim”. Maria compreendeu as palavras do anjo. Pois Maria sabia da esperança que animava o povo de Deus. Maria confia nas palavras do anjo, este mensageiro do Senhor. Ela sabia que o Salvador viria. Mas o que ela não sabia e não podia imaginar é que ela estaria incluída nesta missão, ao ser chamada para ser mãe do menino Jesus. Por isso ela quer entender melhor como isso vai acontecer. Agora a reação de Maria ao comunicado do anjo não é de afirmação nem de negação. É sim uma reação de questionamento. Maria quer entender como há se advir isto que o anjo lhe diz. Ela pergunta, “Como pode isso acontecer se não tenho relação com homem algum... não entendo!”. Então o anjo lhe responde que o Espírito de Deus estará com ela, por isso tudo dará certo. Não é bem uma resposta explicando como isto há de se suceder. Mas é uma resposta suficiente para Maria lembrar que Deus tem poder para transformar um deserto estéril em campo fértil. Em muitos momentos nas histórias bíblicas assim Deus o faz, como quando o povo retornou do exílio na Babilônia para reconstruir seu país – o profeta Ezequiel usa a imagem do vale de ossos secos que retornou à vida para descrever esta ação de Deus. E mais recentemente – e isto o anjo destaca para Maria - Isabel, sua prima, mulher de idade bastante avançada, está grávida e vai dar luz a uma criança. Maria bem o sabe. Maria sabe que sua prima idosa e estéril aguarda uma criança, cujo nascimento foi anunciado pelo mensageiro de Deus, um anjo do Senhor.

Quando Maria compreende de que se trata da missão de Deus que tudo pode, tudo alcança e tudo consegue, ela prontamente se dispõe ao serviço, dizendo, “Eis- me aqui Senhor, sou tua serva, que se cumpra em mim segundo a tua palavra.” Que palavras! Que resposta! Deus fala, Maria responde. Deus chama para participar da missão, Maria coloca sua vida à disposição para servir. Para mim, a fé e obediência de Maria me lembram a fé e obediência de uma criança pequena. Em muitos momentos, quando o pai ou a mãe falam, a pequena criança age conforme a expectativa de seus pais, porque a criança confia na sua mãe e no seu pai. A criança tem fé – uma confiança simples e submissa aos pais. Com esta observação, de modo algum estou negando que em muitos outros momentos a criança pequena não vai testar limites, não vai se colocar em situações de risco como subir para o alto de uma poltrona, se arriscando a uma queda. Testar limites faz parte do aprendizado da criança. Mas ainda assim, mesmo esperneando quando o pai ou a mãe ‘resgatam’ a criança de uma situação de perigo, existe uma profunda conexão de confiança. A criança sabe e sabe muito bem que seu pai e sua mãe querem o seu bem. A criança reconhece pais que amam e se preocupam em cuidar bem de sua criança. A fé de Maria ao chamado de Deus me lembra este tipo de confiança. Maria não é uma criança pequena, mas certamente uma jovem adolescente entre 12 e 15 anos de idade – no seu tempo esta era geralmente a idade que uma jovem noiva seria prometida em casamento. Ao completar 15 anos, a jovem adolescente se unia a um homem em casamento.

Talvez a idade precoce de Maria explique sua fé simples e direta. Talvez a juventude de Maria seja o motivo para sua prontidão em confiar e obedecer. Talvez! O que sabemos ao certo é que Maria conhece e confia no Deus que lhe chama para participar na missão. Maria conhece o Deus que caminhou e caminha com seu povo em meio às dificuldades, aos desafios e incertezas presentes neste mundo. Maria confia no Deus que cumpre suas promessas de restaurar e salvar. Maria, mais adiante, neste mesmo capítulo 1 de Lucas, assim expressa sua fé, “A minha alma anuncia a grandeza do Senhor . . . Deus mostra sua bondade a todas as pessoas que nele confiam . . . Deus levanta a sua mão poderosa e muda os planos das pessoas orgulhosas . . . Deus derruba dos seus tronos reis poderosos e exalta as pessoas humildes . . . Deus cumpre suas promessas” (cf. Lc 1.47-55). Estas são algumas das palavras de Maria que ela canta em louvor a Deus. Palavras que expressam sua fé e confiança no Deus que intervêm no curso normal deste mundo para trazer um novo mundo. Deus em Cristo se faz gente para criar novas relações entre as pessoas umas com as outras. Esta é iniciativa e ação de Deus que gera a fé e a confiança de que um novo mundo é possível. E a criança prometida, a criança que Maria vai carregar em seu ventre é este Jesus que justamente anuncia o novo. Jesus proclama o Reino de Deus e nos chama para participar deste reino. Jesus é este quem nos acolhe na sua comunidade e nos envia ao mundo para compartilhar o amor, a justiça, a misericórdia e bondade de Deus. Aqui e agora Jesus, mensageiro do Senhor, nos chama para participar nesta missão.

Talvez nossa fé não seja como a fé de Maria. Talvez nossa fé não seja tão simples e direta. Talvez exista em nós resistência em se colocar de prontidão para confiar e obedecer. Tudo isto pode ser certo e verdadeiro em nossas vidas. O Jesus que nos chama, porém, venceu a cruz e a morte e caminha conosco para gerar fé, para despertar confiança, para sustentar nossos passos. Para ele nada é impossível. Ele é o filho do Deus altíssimo que faz nascer a fé e confiança neste Deus que cumpre suas promessas. Amém.