Estimada comunidade,
Como mencionei em outras ocasiões, o livro de Salmos é por excelência o livro de orações da Igreja. Aliás, para enfatizar algo ainda mais significativo: o livro de Salmos é o livro de orações de Jesus, que, nos Evangelhos, cita versículos dos salmos. Fazemos bem em usar os salmos para nossa oração e meditação.
Neste culto o salmo que destacamos é a oração do Salmo 36. E hoje quero compartilhar um pouco de como eu faço bom uso do livro do Salmos. Quero compartilhar como o livro de Salmos me ajuda a crescer na oração e comunhão. Geralmente quando eu leio e oro um dos salmos, começo com a leitura de todo o texto, pedindo para que Deus conduza meus pensamentos. Muitas vezes é possível ler todo o texto porque a maioria dos salmos são curtos. Se é um salmo mais comprido então podemos dividir a leitura e o tempo de meditação para dois dias seguidos.
Depois da leitura, a pergunta é, qual a frase deste salmo que mais me chamou a atenção e porquê? No nosso texto, para mim o versículo 9 é o que mais me chamou a atenção, “Tu és a fonte da vida, e, por causa da tua luz, nós vemos a luz”. A imagem da fonte, fonte da vida, é a palavra que me cativou. Uma fonte nos remete à origem, um lugar onde podemos beber, saciar nossa sede, renovar nossas forças. Se a água assim nos é tão importante, dependemos da água para sobreviver, quanto mais dependemos de Deus, a origem de toda a vida, para sobreviver e renovar nossas forças. “Tu és a fonte da vida”.
Depois da leitura e pergunta inicial, podemos meditar qual o contexto deste versículo, quais são as outras palavras ao redor que nos ajudam a descobrir as riquezas desta oração do Salmo 36. E de fato, observando os versos do início e os versos finais, percebemos que o salmista, a pessoa orante, está atravessando situações de perigo e adversidades. O salmo inicia descrevendo a presença do mal na vida das pessoas, “O pecado fala ao perverso lá no fundo do seu coração. O perverso não aprende a temer a Deus. Ele se julga muito importante e pensa que Deus não descobrirá o seu pecado e não o condenará” (v. 1 e 2). Ou seja, o pecado afasta as pessoas de Deus, a fonte da vida. O apóstolo Paulo, também profundo conhecedor dos Salmos, inclusive cita este versículo do salmo 36 na sua famosa carta aos Romanos. Ali em Romanos Paulo quer descrever a força do pecado, do pecado dentro de nós, dentro de todos nós, que quebra a comunhão e nos afasta de Deus e uns dos outros.
O Salmo 36, entretanto, não fala apenas da presença do mal na vida das pessoas de uma forma geral. O salmista fala de pessoas malvadas lhe perseguindo e por isso pede a Deus, “Não deixes que os orgulhosos e os maus me pisem e me obriguem a fugir. Lá estão eles, caídos; foram derrubados e não podem se levantar” (v. 11 e 12). Ou seja, a pessoa orante fala a Deus de um problema bem concreto e real que lhe aflige. Os versos 11 e 12, portanto, são um convite para nós também trazermos diante de Deus o que nos aflige pessoalmente, sejam dificuldades de relacionamento, preocupações, coisas erradas que alguém comete contra nós ou coisas erradas que nós fazemos a outras pessoas; tudo aquilo que pesa em nosso coração.
E onde está firmada a esperança e fé do salmista? Em Deus, fonte da vida. O centro da oração deste Salmo são os versículos 5 a 9. Centro tanto num sentido literal porque estas palavras estão no centro dos versos que vem antes e dos versos que vem depois. Mas também centro num sentido simbólico porque para o salmista, diante da maldade humana em geral, diante do mal que lhe aflige pessoalmente, Deus é a fonte da vida. Deus é aquele cujo amor chega ao céu e cuja fidelidade vai até as nuvens. Deus cuida das pessoas e dos animais e na sombra de suas asas encontramos proteção. Deus nos satisfaz a fome com fartura de comida e nos sacia a sede ao nos deixar beber do rio da sua bondade. Assim, na voz desta pessoa orante, na voz deste salmista, Deus nos convida para dele se aproximar. “Tu és a fonte da vida, e por causa da tua luz, nós vemos a luz”. Amém.